Wednesday 12 October 2011

PELA PAZ HÁ QUE JOGAR LIMPO E SEM DEMAGOGIAS

Só haverá perdedores se o processo descarrilar…

A luta política que se desenrola em Moçambique exibe contornos complicados na medida em que os protagonistas actuam de maneira dúbia e muitas vezes sem a clareza que se impõe.
Há como que uma mistura permanente de interesses individuais com os públicos acompanhado de uma relutância em incluir os outros no projecto de construção da nação moçambicana.
Uns que por circunstâncias históricas tiveram se encontram no poder e outros que se bateram para alterar o quadro político nacional aparecem monopolizando ou querendo monopolizar o que se faz em termos políticos no país.
Por razoes várias mas sobretudo por causa do que se pode denominar de astúcia de uns e infantilismo político de outros todo o processo de democratização após o Acordo Geral de Roma aconteceu sob o signo da fraude e da manipulação.
Os detentores do poder fortemente apoiados por interesses corporativos e governamentais de países como Espanha, Itália e Portugal puseram em marcha uma estratégia de açambarcamento das potencialidades do país. A banca, a indústria e a agricultura comercial de vulto foram tomados por interesses portugueses, sulafricanos.
A indústria e a construção civil forma tomados ou entregues ao desbarato a interesses italianos e sul-africanos com alguma presença assinalável de interesses portugueses. No turismo para da intervenção promíscua e em certa medida ilícita de integrantes moçambicanos que ocupam cargos no governo sentese a presença em peso de interesses portugueses.
Aos vencedores efectivos da guerra civil, os que conseguiram pela força das armas inviabilizar o projecto que o governo da Frelimo tinha para com ao país nada ficou reservado.
Da euforia da vitória e das benesses que a comunidade internacional aparecia disposta a conceder, viu-se muitos exguerrilheiros com indubitável competência militar, serem embrulhados e habilmente adormecidos. O famoso “trust fund” cedo acabou e os problemas começaram.
Seria interessante saber o que fez a ONUMOZ e seus observadores nas primeiras eleições multipartidárias. Existe a percepção de que havia instruções prévias para não permitir que a Renamo fosse vencedora das eleições mesmo que o número de votos arrecadado fosse superior aos da Frelimo e seu candidato.
Uma dose de paternalismo no sentido de decidir o que era melhor para os moçambicanos por parte de chancelarias ocidentais terá influído para os resultados finais anunciados pela CNE. Interesses económicos relacionados com a exploração de recursos naturais no país terão jogado a favor da Frelimo na medida em que quase todos os recursos em exploração na altura estavam nas mãos de portugueses e espanhóis. A Itália tinha se constituído num parceiro de peso do governo moçambicano e suas empresas não tardaram a lucrar com esse posicionamento de seu governo.
Albergar as negociações de paz que conduziram eventualmente ao acordo de 4 de Outubro teve sem dúvidas os seus dividendos para variados “parceiros”. Cada um ganhou a sua parte. Se a por exemplo a Lonrho teve facilidades em dominar o sector algodoeiro nacional isso deve-se a intervenção de seu PAC como facilitador no processo. A CMC e como sabemos italiana, país que deve ter tido a maior contribuição financeira e política para o sucesso das negocia coes entre o governo da Frelimo e a Renamo. Em política nada acontece por acaso e o que aconteceu a posterior foi devido a todo um xadrez que foi sendo montado com alguma mestria.
Passados alguns anos a liderança da Renamo verificou que estava na “estaca zero”.
Eleitos sempre com suspeitas de fraude, falta de tratamento condigno aos seus guerrilheiros que integraram as FADM, falta de progressão na carreira militar para os mesmos e desmobilização ou passagem à reserva precoce, descriminação no acesso a formação avançada tornaram as coisas complicadas para a liderança da Renamo. Embora houvesse e haja todas as condições para acomodar materialmente boa parte da liderança esta tem por via da história e mesmo de suas aspirações políticas de prestar contas aos seus membros e especialmente para os exguerrilheiros.
Uma estratégia de corrosão activa embora lenta da Renamo, infiltração e subversão, aliciamento de seus membros por via da oferta de facilidades financeiras e de credito nos bancos sob seu controle da Frelimo acabaram tendo os seus efeitos.
Uma prestação sem a pujança e a qualidade dos primeiros pleitos eleitorais no sistema pluralista levou a redução drástica dos membros da Renamo com assento no Parlamento.
E o que acontece nos dias de hoje, com desinteligências entre Afonso Dlakama e seus deputados na Assembleia da República levaram que líder da Renamo ignorasse os meios políticos e avançasse para uma área onde ainda mantém controlo de seus ex-guerrilheiros.
O líder da Renamo é político adulto e sabe que se a Frelimo não aceita um diálogo sério sobre a condução dos assuntos políticos e económicos do país apoia-se no controlo das FIR e das FADM.
Mas é sabido quão relativo é de facto esse controlo. Durante a guerra civil todos sabem que o exército governamental, fortemente apoiado por forças militares tanzanianas, assessores cubanos, alemães da ex-RDA, da ex-URSS, contingentes consideráveis do Zimbabwe não levou de vencida. A guerrilha da Renamo foi efectiva e seus integrantes saíram da guerra como um experiencia acumulada que não se pode menosprezar.
Dizer que não há condições para o regresso à guerra é uma afirmação que não corresponde à verdade.
Nunca ninguém sonhou que a Costa do Marfim algum dia teria uma guerra civil. Mubarak. O coronel Kadafi e seus filhos bem como sua corte jamais imaginariam que sairiam de Tripoli a correr.
É preciso que os políticos dignos desse nome aprendam rapidamente com a história e que façam tudo para preservar uma paz que tenha sentido e seja do interesse dos cidadãos.
A apropriação do país por uma clique que se julga mais moçambicana que todos é um dos caminhos que tem potencial de levar o país de volta à guerra.
Sejamos honestos e objectivos nas nossas considerações e analises para não enganemos os outros e a nós mesmos.
Desenvolvimento e progresso, acesso as possibilidades e potencialidades do país não é um favor que alguns concedam a maioria mas sim uma obrigação de governantes sensatos e comedidos.
A distribuição pontual de regalias, cargos governativos e na esfera de defesa e segurança a alguns naturais do centro e norte do país, não retira aos cultores da “teoria do Império de Gaza”, material para sustentar que o Sul do país colhe benefícios especiais na esfera económica e política.
Os que dizem que Maputo é o país e que o resto é só paisagem continuam a ter razão porque as assimetrias não param de crescer. Basta de demagogias e de presidências abertas que só consomem recursos escassos.
É preciso que o PR se engaje com a responsabilidade que o cargo lhe confere, ao árduo trabalho de tudo fazer, para evitar que os ânimos se exaltem e que alguns oportunistas no seio de seu partido e de outras forças políticas lancem os moçambicanos para mais uma aventura fratricida. O PR tem de compreender que há gente no seio de seu partido interessada que ele falhe.
Queremos a paz mas não qualquer paz. Uma paz em que os moçambicanos tenham dignidade e recebam pelo que façam e não sejam sujeitos entregues à mendicidade e ao crime para garantirem a sobrevivência.
Centenas e centenas de jovens e crianças em idade escolar percorrem ruas de cidades e vilas, fazendo trabalho infantil, explorados por seus compatriotas na impossibilidade de acesso à escola e ao emprego.
A prostituição não pode ser a via de solução dos problemas e necessidade de elevado número de raparigas deste país.
Os velhos, deficientes tem de encontra estruturas governamentais de apoio efectivo e não o insulto que são os valores actualmente atribuídos enquanto uma minoria de titulares de cargos governamentais esbanja o que até é de todos…

Noé Nhantumbo, Diário da Zambézia - 07.10.2011

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