Última parte da entrevista exclusiva com o fundador do MDM
PNN - Como encara a Comissão Política do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) as próximas eleições?
Daviz Simango - A Comissão Política do MDM, em relação à participação das eleições gerais, em 2014, e municipais, em 2013, decidiu realizar o congresso.
Aproveito para revelar, em exclusivo, esta informação de que o congresso vai ocorrer em Novembro do próximo ano, na cidade da Beira, e tem como objectivo eleger o presidente do partido, o candidato às próximas eleições presidenciais e, ao mesmo tempo, homologar os candidatos às eleições autárquicas de 2013.
Vão participar do Congresso cerca de 1.100 membros do MDM. Já criámos condições para que todos aqueles que vão concorrer às eleições municipais de 2013 e 2014 se esforcem no sentido de mobilizar recursos para que o partido tenha a capacidade financeira de adquirir todo o material de propaganda necessário para a campanha.
PNN - A realidade económica do país traça cenários futuros complexos?
DS - Estamos num país em que, o partido no poder, deixou de ser um partido político e passou a ser económico. Segundo notamos, existe um distanciamento entre o partido Frelimo e os eleitores.
Não há preocupação do Estado em assegurar a construção de escolas, hospitais e de garantir os serviços básicos ao povo.
Só para ilustrar, hoje estão a construir estátuas em homenagem a Samora Machel em todas capitais provinciais do país, incluindo alguns distritos de Gaza. Essas obras dariam quantas escolas e hospitais?
No entanto, o nosso Estado continua a dizer que não tem dinheiro para construir infra-estruturas sociais mas, por outro lado, temos tanto dinheiro a ser investido nas estátuas, para além da exportação ilegal da madeira.
PNN - Traça um cenário muito complicado. Acha que o dinheiro não está a ser bem investido?
DS - Se formos a fazer uma avaliação de que cada estátua custa 6 milhões de meticais, já podemos imaginar o que significa construir mais de 11 estátuas, num país que depende da ajuda financeira externa para sobreviver.
A renegociação dos mega-projectos poderá ajudar o orçamento do Estado. Mas o Governo não faz, porque há indivíduos que procuram ser accionistas dos mesmos projectos.
PNN - Há partidarização do aparelho de Estado?
DS - Hoje o país tem problemas com o gás natural, que é produzido localmente, a energia eléctrica, que custa valores elevados ao cidadão e é também produzida dentro do território nacional.
Estas questões estão aliadas ao problema da partidarização do aparelho do Estado. Temos, nas instituições públicas, a instalação de células do partido Frelimo, numa clara demonstração da falta de respeito.
Existe liberdade de expressão, imprensa livre e eleições livres, transparentes e justas mas, quando o moçambicano se manifesta a reclamar o elevado custo de vida, é movimentada uma força da polícia de intervenção rápida para defender interesses privados, disparando para matar.
Temos também a questão do contrabando. São encontrados contentores de droga e madeira ilegal mas sem responsáveis. Como e onde é tratada a documentação de exportação e importação?
Isso significa que estas situações vão trazer problemas de paz, que é a razão e clamor de toda a gente.
Fala-se muito da violência e guerra mas estamos cientes de que os moçambicanos, desde 1992, aquando da assinatura do acordo geral da paz, não voltarão à guerra mas essa discriminação (a falta de distribuição equitativa das riquezas, falta de oportunidades de negócios para todos) pode, no futuro, desequilibrar a paz que os moçambicanos querem e desejam para sempre.
PNN - As declarações do líder da Renamo, ameaçam a paz em Moçambique?
DS - Neste País há liberdade de expressão, mas também é preciso olhar para os aspectos que falharam no processo da implementação do acordo geral da paz.
Nota-se que os desmobilizados da Renamo, que diziam estar enquadrados nas forças de defesa e segurança de Moçambique, foram todos expulsos e marginalizados. O Governo, se pretende preservar a paz, dispõe de meios legais para voltar a enquadrar os guerrilheiros.
Podia até criar uma empresa pública e privada de segurança e punha os homens a guarnecer instituições do Estado e podiam também guarnecer os dirigentes da Renamo.
O Governo deve fazer alguma coisa para salvaguardar a vida dos ex-militares, porque é preciso compreender que estes moçambicanos têm famílias para sustentar.
Os filhos crescem a assistir ao sofrimento e à marginalização que os pais sofrem por parte do Estado. Isso pode complicar a estabilidade do País.
A ausência de harmonia, de convivência, do diálogo com a sociedade moçambicana promove irregularidades e é extremamente perigoso. Prometeram unificar os exércitos militares da Renamo e Frelimo mas, por detrás disto, expulsam aqueles que não pertencem ao partido no poder.
Em Moçambique, não há capacidade para criação de quartéis mas o Governo deve encontrar formas de propor soluções para que os guerrilheiros da Renamo não passem pela situação que estão a passar hoje.
O Governo é culpado por declarações de violência da Renamo, porque não é tolerante e não dialoga.
PNN - O assassinato do seu pai, Urias Simango, criou-lhe alguma revolta?
DS - É preciso olhar para Urias Simango como um jovem que não só ajudou a fundar a Frente de Libertação de Moçambique mas que promoveu o nacionalismo moçambicano e africano. Essa promoção do nacionalismo africano não se deu apenas na Tanzânia mas em quase toda África.
Agora, o que o meu pai escreveu sobre Moçambique, acerca da situação sombria e da questão que ele pensava sobre o futuro do país, é o que Moçambique hoje tenta trilhar.
É um sinal claro de que a ala comunista golpeou a liderança que tinha um pensamento diferente. Se reparar, de todos os que hoje são Presidentes ou Chefes, nenhum era líder durante o movimento de libertação de Moçambique. Então este golpe palaciano é natural que passe, logo a seguir, por uma história falsa, que tentam fazer até hoje.
Agora temos a Jenet Mondlane, que procura a todo custo inventar uma história que não é verdade. E a questão que eu coloco sempre é, como é que uma mulher, esposa de alguém, mente acerca da morte do marido, dizendo que este faleceu no escritório, quando isso não é verdade?
Esta mulher deverá ter perturbações mentais ou então contribuiu para a morte do marido. Portanto em Moçambique, Urias Simango, continua e continuará a ser o grande herói nacional e o tempo dirá tudo.
Não só Urias Simango mas Nungo, Bwenjere e outros nacionalistas moçambicanos.
PNN - Sente alguma influência do seu pai na vida política que decidiu abraçar?
Uma coisa não tem nada a ver com outra. Filho de político não é político mas vou continuar a lutar para libertar o povo moçambicano do regime maquinador.
(c) PNN Portuguese News Network
FONTE: Jornal Digital. Leia aqui!