Wednesday 10 March 2010

Varanda do Índico



As relações de Portugal com Moçambique, país pacificado e com recursos, vão ser um teste importante à nossa capacidade


Há clichés que têm muita força, até quando vão contra o bom senso e o bom gosto. Mas neste domingo, 7 de Março, frente ao oceano, numa praia cor de açúcar amarelo, palmeiras bem verdes, mar picado e barrento, nuvens rosa e cinza e um sol a ir-se embora, só me ocorria um cliché: O que era esta cidade de Maputo - Lourenço Marques - senão uma varanda do Índico?
À força de cá vir tantas vezes, nos últimos treze anos, chego aqui como a uma segunda casa. O mesmo sentem outros dos meus companheiros de viagem nesta visita do primeiro-ministro a Moçambique.
Três decénios e meio depois do regresso da expansão ao ponto de partida, sabemos que o futuro da economia portuguesa voltou a estes espaços, que continuam a ser, economicamente, áreas de valor.
A política de independência nacional que comandou a economia e determinou a sobrevivência do Portugal medieval foi criar massa crítica, fugindo ao peso aglutinador de Castela. Com o fim do eldorado europeu, a mesma necessidade, ou uma nova procura de oportunidades de negócio e valor acrescentado, volta a levar-nos para a internacionalização nestes e noutros lugares, convencionalmente considerados "de risco": no mais que fica para além do mundo euroamericano - no Magrebe, no Médio Oriente, na África subsariana, na América Central e do Sul.
Nesta estratégia, a aposta em Moçambique faz sentido: o país está pacificado há quase 20 anos, graças ao senso comum e político dos chefes do governo e da oposição; os dirigentes, mesmo antes do fim da União Soviética, abandonaram o internacionalismo marxista, passando para um nacionalismo dirigista, gradualmente liberalizado; o povo é trabalhador, afável, digno nas dificuldades da sobrevivência, e ao lado há a locomotiva africana - a República da África do Sul. Depois, Moçambique tem recursos importantes: minerais, agrícolas, piscatórios, florestais. Tem sobretudo recursos no que é hoje o sangue das nações - a energia. Tem água, gás, carvão, biocombustíveis, petróleo. E há uma série de megaprojectos internacionais em curso ou em arranque no sector.
Para sobreviver ao fracasso económico-financeiro, Portugal precisa hoje de imaginação e de rasgo, de usar bem o seu capital histórico-cultural, combinando-o com uma estratégia político-económica. As relações com Moçambique, neste novo capítulo, vão ser um teste importante à capacidade nacional.

Jaime Nogueira Pinto, Professor universitário. Confira aqui.

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