Sunday 14 March 2010

A NOVA MAPUTO DOS RICOS




Se alguém tiver dúvidas quanto à pobreza ou riqueza, à ambição ou negociatas, ou ainda à sul-africanização, ou melhor, a Joanesburguização ou Durbanização da cidade de Maputo, observe apenas as visualizações, em baixo, do que se planeia (mais ou menos) para a marginal e os terrenos da defunta Feira Agrícola, Comercial e Industrial de Moçambique (FACIM) cuja pertença ignoro.

As maquetes foram-me enviadas pelo amigo do amigo do amigo. O que, se não me engano, significa que a esta hora metade de Maputo e arredores já as viu.

Longe de mim questionar o progresso e o crescimento da cidade, que não se soube libertar a tempo de ficar ensanduichada nos anos 60 e 70 pelos terrenos circundantes difíceis, pelo desafio de rasgar auto-estradas para Norte e uma ponte para Sul (a atempada libertação da longa noite colonial não deu tempo para isso, presume-se, e a pancadaria que veio a seguir também não deu tempo para mais).

Mas fazer ali uma espécie de Bairro da Coop 2 em estilo Noveau Sandton em frente à nesga da Baía é, enfim, algo menos do que eu esperava.

Eu sei que, ao preço que comanda o metro quadrado de terreno e de construção na cidade, surpreende-me que não apareça algum a fazer uma torre de 110 andares como aquelas no Dubai. É negócio, se calhar bom negócio, e se houver quem pague isto tudo, ainda melhor.

As minhas dúvidas existenciais, aliás, são outras. Fazer prédios ali se calhar até é a parte fácil. Mais duvidoso é saber como vai ser com coisas mais mundanas, tais como a infra-estrutura de água, electricidade e esgotos necessárias para suportar este projecto. Não havendo caves (a quota de água ali é elevada) onde vão parar os carros todos, e se os esgotos vão cair todos directamente na Baía ou se o projecto inclui a colocação de uma estação de tratamento de resíduos para a cidade. Finalmente, impermeabilizando-se uma área tão sensível e com uma enorme barreira atrás a qual não tem qualquer sistema formal de escoamento de águas pluviais, para onde é que vão escoar as águas quando cair uma daquelas chuvas a à antiga sobre Maputo?

Isto para não mencionar o facto elementar que aqueles terrenos não são terrenos normais: há cem anos, foram aterros feitos sobre uma praia, ou seja, não são à partida os melhores para se construirem sobre eles dezenas de prédios (razão pela qual nada se construiu ali durante mais que sessenta anos e aquilo era um parque verde da cidade, para quem não se lembra, com eucaliptos para suporte e drenagem). Na eventualidade de um tremor de terra mais estranho, as construções aí correrão o risco decorrente da liquefacção dos terrenos.

Já o referi antes e não sou o primeiro a dizê-lo: acho que é altura de se fazer uma ponte para a Catembe e expandir a cidade para Sul. E uma auto-estrada para Norte

E começar a pensar nos investimentos em infra-estrutura de base.

E em reabilitar e manter o que já existe.

E criar mais parques e zonas verdes para a cidade.

Mas isto é só uma opinião minha.


ABM, no ma-schamba.

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