Sunday 14 March 2010

Cidadela da Matola: um mega-projecto a replicar

A Matola recusa o epíteto de dormitório da cidade de Maputo e avança a passos de gigante para o reforço da sua autonomia.

Agora e integrada nas comemorações do 38º aniversário, foi a apresentação do mega-projecto da nova cidadela que inclui centro comercial e edifícios de escritórios e habitação. Uma promessa revolucionária para a recuperação do antigo terreno das antenas da RM, a que Arsénia Sithoye assistiu e aqui reporta.



O desenvolvimento sócio-económico do Município da Matola torna-se, cada vez mais, visível e alargado a uma vasta zona que ainda possui diversos espaços por explorar e áreas residenciais em franca expansão.

Saltam à vista os gigantescos condomínios erguidos em Tshumene e Malhampsene, além das grandes mansões existentes nos bairros da Matola Rio e de Belo-Horizonte, as estradas reabilitadas e as novas rotas de transporte.

A aposta não engloba apenas o maior parque industrial do país nem o interesse puramente residencial. A Matola já possui um Parque de Educação que junta algumas instituições de ensino superior, como é o caso do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISTEG) e o Instituto Superior de Arte e Cultura, entre diversas escolas primárias e jardins infantis.

Mas a maior surpresa foi, sem dúvida, o anúncio público da construção do megaprojecto ‘Cidadela da Matola’, por altura das festividades do seu 38.º aniversário enquanto cidade.

Trata-se de um projecto imobiliário que surgiu da parceria entre as empresas sulafricanas

McCORMICK - Propriedade de Desenvolvimento, PIC - Public Investiment Corporation (detentora de 50% dos centros comerciais na África do Sul), e a empresa moçambicana SFI (consórcio moçambicano constituído por empresas de investimento) num esforço financeiro global estimado em cerca de 220 milhões de USD, (cerca de um bilião de randes).

O administrador da ‘Cidadela da Matola’, Lúcio Sumbana, referiu que o plano inicial do projecto (feito em 2007) consistia em executar o projecto na totalidade, e, mais tarde, convidar o mercado local à exploração.

Entretanto, a crise económica de 2008 veio alterar o plano inicial e o grupo de investidores teve de optar por desenvolver apenas os focos do seu interesse directo.

Nesse sentido, a parceria irá responsabilizar- se pela construção do centro comercial, do edifício do Governo da Província de Maputo, da zona residencial e de escritórios e do ginásio, num investimento estimado em 180 milhões de dólares, sendo que o mercado local será convidado no sentido de desenvolver o remanescente.

“Se um privado está disposto a desenvolver o seu escritório, pode escolher entre sermos nós a desenvolver e entregarmos as chaves, desenvolvermos em parceria com o interessado, desenvolvermos e o cliente pagar a renda através de Leasing, ou o cliente compra o espaço e desenvolve pessoalmente. Porque pode aparecer um cliente que queira um prédio de 20 ou mais andares e não podemos prever o que o cliente vai querer e nem calcular os custos. Daí a razão de não termos um valor exacto para este projecto ”, explicou Lúcio Sumbana, acrescentando que a aquisição de espaços por parte dos clientes não poderá alterar o plano urbanístico concebido para o projecto, tendo estes que adoptar o sistema já existente.

Segundo aquele responsável, já existem clientes que pretendem instalar-se na Cidadela, como é o caso de uma empresa de Média, para além de cinco hectares que já foram reservados para uma clínica de saúde e outros empreendimentos.

No que concerne ao ginásio, estão a decorrer negociações com um grupo sul-africano para uma parceria em que cada uma das partes irá participar com 50 %. O recinto desportivo, irá servir para o treino de vários atletas de Maputo e da Matola, bem como para as equipas locais e nacionais.

“Em termos do hotel, estamos a negociar com um grupo hoteleiro da África do Sul que pretende que construamos a infraestrutura e eles irão gerir com um plano de arrendamento de 10 anos renováveis. Estas são as áreas que já têm pessoas interessadas mas que vão trabalhar em parceria connosco. A clínica não irá trabalhar em parceria connosco”, concluíu.

O projecto será construído no terreno do antigo Centro de Transmissão da Rádio Moçambique na Matola, onde serão construídos um centro comercial de 46 mil metros quadrados, edifícios para escritórios, uma zona residencial, uma clínica privada e centro de saúde, um centro desportivo e ginásio, uma zona hoteleira com centro de conferências, zona para vendas e serviços de produtos automóveis, zona de mercado grossista e várias áreas para restaurantes, parques e jardins. Será também erguido naquele terreno um complexo governamental de quatro edifícios com vários departamentos do Governo da província de Maputo, e um para o Conselho Municipal da Matola.


Cidadela: O motor económico


O grupo pretende que este projecto seja um mecanismo para arrancar a actividade económica na Matola e reduzir a pressão que se faz sentir na cidade de Maputo por falta de espaço.

O director geral da McCORMICK, Jason McCormick, revelou no discurso de lançamento que o projecto ‘Cidadela da Matola’ conta com os fundos próprios provenientes do fundo de pensões, resultante dos contribuintes sul-africanos e não depende da ajuda de outra instituição financeira e ou de antigas potências colonizadoras. “Pretende-se que este seja um projecto africano que conta com contribuições dos africanos e, através dele, queremos demostrar o quão podemos desempenhar em prol do desenvolvimento daquilo que são as nossas iniciativas para sairmos da situação de desespero em África”, afirmou Jason McCormick.

Por seu turno, o presidente do Município da Matola, Arão Nhancale, referiu que este projecto é de extrema importância para o Município, que por sua vez participou na definição de alguns pormenores para a sua implementação, e que a Matola se sente projectada nele. “O início deste projecto vai certamente dinamizar a nossa economia, e, por conseguinte, o nosso desenvolvimento económico e social e será um campo aberto para prosseguirmos com o combate à pobreza no nosso município, e não só”.

O edil da Matola sublinhou o facto de este ser um projecto com uma dimensão africana e mostrar as boas relações de amizade existentes entre os moçambicanos e sul-africanos.

Quanto aos custos das infraestruturas, a divisão é a seguinte: sistema de saneamento (quatro milhões de dólares), arruamentos (10 milhões de dólares), Centro Comercial (70 milhões de dólares), e o cálculo para o desenvolvimento encontra-se próximo dos 220 milhões de dólares.

Em relação ao centro comercial, o projecto conta com 65% de ocupação em termos de

Mostra deinteresse para a1.ªfase,nãotendo assinado ainda nenhum contrato -o que irá decorrer dentro dos próximos cinco meses.

A Cidadela irá gerar cerca de dois mil empregos de um total de oito mil, no fim do projecto, e irá disponibilizar serviços existentesna África do Sul, como é o caso de lojas de marcas internacionais e locais, bem como produtos e serviços encontrados nos centros comerciais de nível internacional, mas com um toque da cultura moçambicana.

Segundo Jason McCormick, este centro irá facilitar o acesso de certos produtos e serviços ao povo moçambicano uma vez que estes exibirão preços acessíveis. O mesmo irá acontecer com a clínica privada, onde se pretende disponibilizar serviços de nível internacional mais baratos e de maior qualidade. Feitas as contas, serão entre 110 e 120 lojas de produtos alimentares, e restaurantes de nomes sobejamente conhecidos. As obras do centro comercial poderão começar em Julho deste ano e prevê-se que durem entre 16 a 18 meses.

O grupo, considera que, com o rápido crescimento da economia Moçambicana, a falta de habitação tem sido um dos maiores problemas para os munícipes, principalmente para os jovens recém-formados, daí ter-se projectado na ‘Cidadela da Matola’ uma zona residencial para que estes possam adquirir casas (ou apartamentos) de qualidade a preços que variam entre 120 a 210 mil dólares.

O edifício pertencente à Rádio Moçambique (RM) que já existe no terreno será transformado num Museu de Cultura e História da Comunicação Social em Moçambique, sendo que as máquinas transmissoras lá existentes desde 1926 e o gerador que em tempos de guerra garantia a energia eléctrica à zona da Matola serão alguns atractivos do mesmo.

Apesar de se aguardar a aprovação do Conselho Municipal da Matola, a implementação do projecto poderá ter início em Abril, e sendo bem sucedido a ideia de uma Cidadela poderá vir a ser replicada em outras urbes do país.



Texto de Arsénia Sithoye, na revista Capital. Foto recebida via e-mail.

No comments: