Monday 8 March 2010

Um Estado “mamado”


Maputo (Canalmoz) - Pelas conclusões a que chegou o Tribunal que julgou o caso da “Aeroportos de Moçambique”, e avaliando o regabofe que anda pelos outros sectores públicos, quejandos e afins, desde empresas públicas a institutos e universidades não privadas, está agora claro, até para aqueles que acusavam os mais lúcidos de serem “profetas da desgraça”, que vivemos num Estado de autênticas aves de rapina, espertinhos e chulos do erário público. Que Estado é este?
Nunca foi tão oportuno perguntar-se se podemos chamar Estado a esta farra com o dinheiro dos contribuintes, neste caso da AdM, que até envolve um ex-ministro, que o era, quando os factos se deram. Pagamos impostos, taxas de aeroporto, taxas de lixo, taxas alfandegárias e tantas outras contribuições – até IVA, de que não se reembolsa as empresas – para, no fim, vermos isto? Pagamos impostos para certas pessoas da chamada “elite” – autêntica elite de m… – “mamarem” os nossos recursos da maneira como se “mamou” na “Aeroportos de Moçambique”? Admite-se isso? Quem pode ter mais paciência com esta farra de patetas emproados que, depois de nos roubarem descaradamente, ainda se vêm pavonear à frente dos contribuintes, de nariz levantado, rodeados de “sobrinhas” e “catorzinhas”, montados em carrões que nem os doadores de mais de 50% do Orçamento do Estado têm?
Também se pergunta: o que irá acontecer agora com a empresa ou empresas de auditoria que durante anos seguidos auditaram as contas da “Aeroportos de Moçambique” e se calaram? Vão poder continuar a exercer em Moçambique? Será que ainda continuarão a merecer credibilidade para nos fazerem acreditar em boas contas e boa governação?
Já foi longe de mais a roubalheira. De todas as empresas públicas e dos mais variados institutos e organismos do Estado nos chegam as mais incríveis histórias. Não pode haver mais paciência! É preciso que o Governo mostre credibilidade, incluindo no caso do emissor privado de bilhetes de identidade em que a empresa contratada o foi sem que tenha havido transparência do Governo, e nos outros casos todos das empresas públicas, institutos reguladores e quejandos, incluindo ministérios.
Os contribuintes têm o direito de saber como anda o dinheiro malparado nas instituições que o Governo deve controlar e que chegam, afinal, ao nível de bagunça a que chegou a “Aeroportos de Moçambique”. Têm de saber como andam todas as instituições do Estado, porque o nível de exibicionismo que víamos nos que se sentaram no banco dos réus, perante o juiz Dimas Marrôa, é o mesmo que continuamos a ver como prática diária de outras figuras e figurões.
Do Conselho Fiscal da “Aeroportos de Moçambique”, quem irá responder por não ter alertado a tempo e horas para a farra que por lá andava com os dinheiros públicos? Quem responde pelo que se passou na empresa com a aparente bênção dos membros do Conselho Fiscal? Ninguém responde? Vão ser premiados com novos cargos públicos? O IGEPE também andou anos a olhar para o tecto?
E quem usufruiu de dinheiros desviados por estes condenados, não vai responder? Fica tudo assim? O partido Frelimo não vai devolver à empresa “Aeroportos de Moçambique” o dinheiro desta empresa pública que foi aplicado na escola nacional do desse partido na Matola?
E as pessoas dos mecanismos de controlo do Estado que não funcionaram, continuarão nos seus postos mesmo tendo-se revelado incompetentes para evitar as falcatruas ou para as descobrir a tempo e a horas? Não há outras para substituí-las? Todos os outros moçambicanos são estúpidos e incapazes de fazer melhor do que os que já se provou que são realmente incompetentes? Não estaremos metidos num colete-de-forças e às ordens de autênticos gangues de salteadores do Estado? Não será já hora de os cidadãos deixarem de ser passivos e começarem a exigir explicações à “elite”, pelo que esta anda a fazer com o dinheiro de todos nós?
Provado que ficou a roubalheira que existia na empresa pública “Aeroportos de Moçambique”, o que vai suceder agora a quem, em nome do Estado, deveria ter controlado, a par e passo, para evitar o que sucedeu, mas nada evitou? Estes não terão facilitado o processo todo da roubalheira? Estes não são também cúmplices?
E nas outras empresas públicas, o que estará a passar-se? Será diferente do que se passou na “Aeroportos de Moçambique”?
Onde andam as auditorias do INSS? Será que o ex-membro do Conselho Fiscal da empresa “Aeroportos de Moçambique”, o nosso amigo Adelino Buque, solícito comentador da Frelimo na STV, recentemente designado administrador do INSS, vai presentear-nos com transparência e pôr cá fora todos os relatórios das auditorias ao INSS? Ou Adelino Buque vai-se calar, bem caladinho, como aconteceu no caso da “Aeroportos de Moçambique”, em que foi o último a saber, como se de uma vítima de adultério se tratasse?
Será que este “Maravilhoso Povo Moçambicano”, como o presidente Guebuza não se cansa de repetir, merece mesmo que seja feita esta farra com o nosso dinheiro? Não admira que ser passivo seja mesmo “maravilhoso”!
Não será, esta farra, o resultado de outras farras que fizeram com que as mais altas figuras do Estado ficassem ricas de uma maneira que ninguém consegue perceber? Com que malabarismos enriqueceu esta “elite”? Os que nomearam Cambaza enriqueceram como? Os que nomearam Munguambe, enriqueceram como?
Teremos de esperar que esta dita “elite” de autênticos gatunos morra, para podermos ter um país a sério? Não há outros moçambicanos disponíveis para exercerem os cargos sem abusarem do erário público como estes andam a fazer?
São estes os tais patriotas insubstituíveis?
É deste país, com corruptos do gabarito que todos conhecemos, que nos devemos orgulhar?
Será que um povo pode continuamente assistir, impávido e sereno, a esta gatunagem exibindo as suas habilidades, e sem mudar de atitude?
Quem serão os culpados disto tudo? São todos os da Frelimo que governa o Estado desde a Independência Nacional? Claro que não! A maioria da Frelimo também está com fome. A maioria está na Frelimo à espera das migalhas e apenas à espera do momento para dizer não a este forrobodó. A maioria não participa nesta farra. Está, neste contexto, em simples atitude de sobrevivência. Não tem culpa. A culpa é, claramente, de um punhado de ladrões que tomou conta da Frelimo e gradualmente quer tomar conta de nós todos, pôr-nos a pagar as suas exuberâncias, até mesmo as pornográficas…
Não acabar com isto e com esta dita “elite” – não confundir com elite de verdade! – é de facto um problema de falta de auto-estima. Aqui concordamos com Armando Guebuza. É falta de auto-estima continuarmos a ver o bom-nome de Moçambique ser sujo por este tipo de porcalhões que tomaram conta das instituições públicas.
Continuarmos a assistir a tudo isto calados é traição à Pátria.
Continuarmos como se nada se estivesse a passar com o nosso dinheiro nas instituições públicas é ainda não se saber bem o que é cidadania.
Os trabalhadores da “Aeroportos de Moçambique”, que não permitiram que os abusos continuassem na sua/nossa empresa, deram um grande exemplo de cidadania ao país.
O juiz Dimas Marrôa e os seus colaboradores acabam de dar um grande estímulo a esta luta e até se dispuseram a dar a vida pelo bem comum de todos os moçambicanos.
Quem se segue?
Se deixarmos esta dita “elite” à vontade, “juro, palavra de honra, sinceramente, vamos todos morrer assim”: burros, esfomeados, esfarrapados, manipulados, cobardes e lamentando pelas esquinas que não há alternativas para esta bagunça a que deixaram chegar o Estado Moçambicano.
O povo deve acordar. Acorda, cidadão! Em toda a parte do mundo aconteceram coisas destas, mas não foram as elites que resolveram os tais problemas. Foi o povo.
Pense no que precisa de ser feito para que tantos miseráveis deixem de ter de continuar a olhar, sentados, para tão poucos endinheirados vivendo à custa das “mamadas” que andam a dar no Estado, nas empresas públicas, nos institutos reguladores, a todos nós, ao nosso dinheiro, ao nosso bem comum, ao erário público.
Diga “basta!” a tudo isto. Faça qualquer coisa. Não continue a deixar-se comer por parvo.

(Editorial, CANALMOZ,Canal de Moçambique)


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