Monday 22 March 2010

Guebuza contra ingerência dos doadores


Segundo o vocalista da banda U2 Bono Vox

O presidente da República (PR), Armando Guebuza, mostrou-se contra a suposta intromissão da comunidade doadora na gestão de assuntos internos, sobretudo quando esta coloca como condição a concessão de apoios ao país. Este sentimento foi manifestado durante o encontro que o estadista moçambicano manteve com a comitiva do magnata Mo Ibrahim que, esteve em Maputo entre domingo e terça-feira.

Armando Guebuza disse que o seu Governo está disponível para trabalhar em parceria com a comunidade doadora ou outros organismos dispostos a manterem cooperação com Moçambique mas, dificilmente aceitaria que a assistência oficial para o desenvolvimento do país seja usada como forma de pressionar moçambicanos ou ingerir nos assuntos internos.

Estas declarações de Ar­man­do Guebuza foram re­produzidas por Paul David Hewson, mais conhecido por Bono Vox, vocalista do U2, à saída da delegação de Mo Ibrahim do encontro com o PR.

No entender do vocalista dos U2, ficou bem patente que Guebuza recusa a obedecer cegamente as políticas im­postas pelos doadores e par­ceiros de cooperação.

Bono Vox disse aos jorna­listas que aceitou com tamanha normalidade a opinião do PR mas, não deixou de advertir que tem que provar que o dinheiro disponibilizado pelos parceiros internacionais está a ser apli­cado de uma forma sensata.

Bono referiu que Moçam­bique é um país promissor, razão pela qual terá se “batido” muito pelo cancelamento da divida externa. Sublinhou que esteve envolvido numa cam­panha, com o antigo Presidente norte-americano George Bush, e outras organizações interna­cionais, incluindo o Fundo Global, para a angariação de medicamentos para o combate ao SIDA em Moçambique. Por essa razão fez questão de advertir as autoridades mo­çambicanas para que esta soma seja aplicada de um forma transparente, porque mais tarde o Congresso dos EUA vai querer saber como e que o dinheiro foi usado.

Bono Vox ficou também impressionado com a figura de Guebuza, realçando o seu espírito empresarial.

Este entende que são ho­mens de negócios que o país precisa para a concretização dos seus objectivos.


Visão de Mo Ibrahim


Para o magnata Mo Ibrahim, as lideranças africanas fa­lharam na governação dos seus países e a saída passa pela integração económica do conti­nente.

Mo Ibrahim disse em Ma­puto, na última segunda-feira, numa palestra subordinada à “Integração Económica de África”, co-organização pela Fundação Joaquim Chissano e a Univer­sidade à Politécnica, que quando nasceram os primeiros Estados africanos indepen­dentes nos anos 50, África estava melhor em termos económicos, mas as enormes falhas na governação provoca­ram o retrocesso.

As responsabilidades pelo marasmo económico devem ser repartidas também pelos cida­dãos comuns, porque per­mitiram que os destinos do continente fossem conduzidos por maus líderes.

Mo Ibrahim, que também é dono duma fundação com o mesmo nome, qualificou de vergonhoso a contínua depen­dência de África em relação ao ocidente, tendo em conta os recursos impressionantes que abundam no continente.

Para o magnata britânico de origem sudanesa não se jus­tificam a fome, a ignorância e a doença que assolam África.

Para Mo Ibrahim, a única saída para a situação de África é a integração económica do continente e a ruptura com o actual quadro, caracterizado pelo fraco contacto comercial entre os Estados do continente.

Este entende que África deve abrir-se entre si e permitir a liberdade das pessoas, serviços e bens, visto que, é inaceitável que o comércio dentro do continente seja de apenas oito por cento.

Sublinhou que face aos erros acumulados no passado, as novas gerações devem apro­veitar as oportunidades ofe­recidas pelo de­se­n­vol­vimento tecnológico, princi­palmente ao nível da informação e co­municação, para dar a África o salto necessário em direcção ao bem-estar.

Lembrar que a Fundação Mo Ibrahim é uma iniciativa africana criada para promover o debate sobre boa governação na África Sub-sahariana e no resto do mundo, criar critérios para os cidadãos responsabilizarem os seus governos, reconhecer os progressos realizados na lide­rança africana e fornecer uma forma prática pela qual os líderes possam legar uma herança positiva ao seu con­tinente, depois de deixarem os seus cargos, apoiar futuros líderes do continente africano.

O Prémio Ibrahim reconhece e premeia a excelência na liderança africana. O prémio é atribuído a um ex-Chefe de Estado de um governo africano eleito democraticamente, que tenha cumprido o seu mandato constitucionalmente definido e cessado funções nos últimos três anos. O Prémio Ibrahim consiste em 5 milhões de dólares, entregues ao longo de 10 anos, e mais 200.000 dólares por ano, até ao fim da vida. Trata-se do maior prémio atribuído anualmente em todo o mundo.

A Fundação pondera con­ceder mais 200.000 dólares por ano, durante dez anos, para actividades de interesse público e boas causas que o vencedor deseje abraçar. Os primeiros dois laureados com o Prémio Ibrahim são os antigos es­tadistas Joaquim Chissano, de Moçambique, e Festus Mogae, do Botswana.

Raul Senda, Savana, 19/03/10

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