Wednesday 3 September 2008

Daviz Simango avançará com canditatura independente


• Actual Edil defenderá eleição de uma maioria da Renamo na Assembleia Municipal

O eng.º Daviz Simango, actual presidente do Conselho Municipal da Beira, poderá candidatar-se como independente à sua própria sucessão, mas apoiando simultaneamente, como membro da Renamo, a candidatura do seu partido à assembleia da cidade, pondo assim de parte a hipótese de uma cisão no partido liderado por Afonso Dhlakama. Esta informação foi apurada na Beira por um dos correspondentes do «Canal de Moçambique» que confirma apenas ter-se já iniciado a recolha de assinaturas para que se siga a formalização da candidatura de Simango junto da CNE.
O presidente Dhlakama, a 08 de Agosto confirmara à imprensa que Daviz Simango seria o candidato da Renamo a Edil da Beira, mas, na quarta-feira da semana passada, Dhlakama instruiu, em Maputo, o delegado provincial da Renamo em Sofala, Fernando Mbararano, para voltar à Beira e anunciar na quinta-feira, em conferência de imprensa, que afinal o seu partido iria antes candidatar em seu nome Manuel Pereira, actualmente um seu deputado à Assembleia da República. Tal anúncio viria a suscitar uma autentica revolta das bases da Renamo que apoiam inequivocamente a manutenção de Daviz Simango no cargo que vem ocupando desde as últimas eleições autárquicas.
A confirmar-se o cenário que se desenha, Manuel Pereira será o candidato oficial da Renamo a Edil da Beira, mas um outro membro da Renamo, Daviz Simango, concorrerá como independente ao cargo de presidente do Município da Beira. Se ambos apoiarem o partido presidido por Afonso Dhlakama, desse modo poderá estar afastada a hipótese da Renamo vir a perder a maioria absoluta que detém nesta legislatura na Assembleia Municipal da capital da província de Sofala, pois embora Pereira concorra em oposição a Simango, ambos apoiarão a Renamo que sairá a ganhar dessa posição comum de um candidato formal do partido e de um munícipe independente mas com alma renamista.
O partido Frelimo já proclamava vitória antecipada pelo facto de Daviz Simango não ter sido indicado pela Renamo para se candidatar à sua própria sucessão e daí, consequentemente, poder vir a resultar mais uma cisão na Renamo. Contudo, parece estar confirmado que o secretário provincial do Partido Frelimo em Sofala, Lourenço Bulha, candidato indicado pelo partido liderado por Armando Guebuza, não terá a vida tão facilitada como se podia há dias imaginar com a indicação de Manuel Pereira como candidato a Edil pela Renamo.
O prazo para inscrição de candidatos termina na próxima sexta-feira. Se o presidente Afonso Dhlakama mantiver Manuel Pereira como candidato da Renamo à presidência do Município da Beira e Daviz Simango avançar mesmo como independente, Lourenço Bulha, o candidato a Edil da Beira pelo Partido terá a vida muito dificultada.
Não está, no entanto, posta de parte a possibilidade de Afonso Dhlakama poder vir a declarar Daviz Simango personna non grata na Renamo e expulsá-lo, mas isso, a suceder, poderá custar-lhe mais uma derrota nas presidenciais do ano que vem e uma fatal perda de assentos nas eleições para formação da Assembleia da República que funcionará entre 2010 e 2015, atendendo ao grande prestigio de Simango em todo o país.
Se Daviz Simango avançar é de esperar que possa vencer a corrida a presidente do Município da Beira pois apesar das simpatias que se reconhecem tanto por Manuel Pereira como por Lourenço Bulha, em nenhum dos casos se podem comparar com o prestígio, competência e simpatia que hoje beneficia Simango, filho do primeiro e único vice-presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Reverendo Urias Simango, e da fundadora da primeira organização da mulher moçambicana, LIFEMO – Liga Feminina de Moçambique, Celina Simango.
O edil beirense Daviz Simango, há dias afastado do concurso tendo em vista a revalidação do seu mandato como candidato oficial do seu partido, goza de solidariedade crescente por parte de diversos citadinos entre os quais grande parte dos apoiante de Dhlakama que estão já a apoiar a candidatura independente de Simango não contra o líder da Renamo mas sobretudo em oposição a Manuel Pereira que embora sendo um elemento que goza de simpatias é tido como pessoa mais indicada para estar na Assembleia da República do que à frente de um município.
A hipótese de um ataque de nervos em Dhlakama não está posta de parte, pois significativa parte dos membros da Renamo prepara-se na Beira para lançar o seu apoio a Simango e mesmo até munícipes que diziam publicamente que não iriam votar começam a manifestar-se a favor da candidatura do actual presidente do município à sua sucessão. Até membros da Frelimo se declaram a favor da reeleição de Daviz Simango por o reconheceram como o munícipe que mais fez pela cidade desde que o país se tornou independente.
Se o presidente Dhlakama não entender que Daviz Simango poderá ser a sua salvação em vez da sua desgraça, vaticinam fontes contactadas pelo «Canal de Moçambique», na Beira, que a Renamo poderá sofrer mais uma cisão, à semelhança do que aconteceu após o afastamento de Raul Domingos, na sequência do dossier eleitoral de 1999.
As verdadeiras bases da Renamo na Beira opõem-se abertamente a Manuel Pereira e seus seguidores. Colhidas de surpresa pelo anúncio feito por Fernando Mbararano a retirar o tapete a Daviz Simango, estão apostadas em voltar as costas a Afonso Dhlakama. A credibilidade do líder da Renamo está agora muito afectada no seu “santuário e bastião politico. A atitude de Dhlakama foi muito mal recebida pelas bases da Renamo e o apoio ao líder decaiu nos últimos dias.


HISTORIAL DA CRISE

Há pouco mais de dois meses Manuel Pereira lançara a sua candidatura a candidato a edil da Beira pela Renamo, e esta fora recusada pela Praça de Marínguè (em alusão ao local onde está estabelecida a residência oficial de Dhlakama, em Maputo). A questão da candidatura de Simango parecia resolvida, desde que o porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga, referira sobre a não aceitação da candidatura de Pereira pelo “commando” central da “perdiz”. O volte-face anunciado por Mbararano colheu de surpresa as bases da Renamo, na Beira, e perante tal decisão exigiram explicações claras de Dhlakama que mantém uma tal crispação em volta do assunto, que na sede do partido, na capital de Sofala, os membros acabam por manifestar abertamente uma certa lealdade a Simango mas aguardam um novo volte face do líder que não surge e tudo indica que não irá surgir.
A pressão agora vem das bases. Querem que Daviz Simango avance com a candidatura. Mas o Edil recusa-se a admitir que a sua candidatura seja no contexto de qualquer outra organização que não seja o seu partido – Renamo. Admite concorrer como independente mas a favor de uma maioria da Renamo na Assembleia Municipal.
Tanto quanto se sabe amplamente, duas razoes estão por detrás do afastamento da candidatura de Simango. A primeira, Dhlakama foi industriado por duas figuras que da Beira saíram e lhe foram dizer em Maputo que Daviz Simango não estava a “olhar” (leia-se dar benesses) pelos que combateram do lado da “perdiz” (hipotéticas bases) na guerra de 16 anos, mas, sim, em benefício de outros quadros, tidos como afins seus e sobretudo familiares seus. Isto “irritou o suficiente a Dlhakama que decidiu pelo lançamento da candidatura de Manuel Pereira”. A segunda razão: Dhlakama não conseguiu convencer os seus correligionários da imprescindibilidade de Simango e enquanto isso os outros acusam, entretanto, Simango de estar a querer roubar o lugar a Dhlakama, mas vão dizendo também que Simango está a montar células do PCN para recriar o partido de seu Pai, tudo invenções segundo próximos de Simango.
As relações Dhlakama/Daviz Simango que sempre foram cordiais quando Simango ascendeu a Edil da Beira, acabaram por estar na mira de uma certa ala conservadora da “perdiz”, que nunca saudou o facto do líder ter apostado num dito elemento do PCN, Daviz Simango, agora membro da Renamo, para o lugar. Essa ala chegou mesmo ao ponto de afirmar que o objectivo chave do PCN (liderado por Lutero Simango – irmão de Daviz) era o de golpear a liderança da “perdiz”, ou seja, substituir Dhlakama por Daviz. E as relações Lutero/Dhlakama ajudaram a que a ala instigadora de conflito na Renamo, como também se diz nos bastidores, passasse a ser “abastecida” pela Frelimo para dividir o mais que possível a Renamo e as boas relações de Daviz Simango com o seu presidente, Afonso Dhlakama.
Os aduladores de Dhlakama acabam por encontrarem terreno fértil e vão minando as figuras proeminentes. E conseguem agora que a Renamo entre de novo num processo de auto-flagelação sem contar com a robustez do chamado “partidão”, Frelimo.

Porquê Manuel Pereira?

Pereira está sendo resgatado depois de passar por um período cinzento dentro da “perdiz”. Pereira, conhecido como o “homem da cancela no Save”, foi quem lançou a Renamo em Sofala, depois de no final de 1980 e limiar de 90 ter sido detido por actividades clandestinas a favor da antiga guerrilha, contratando, através do aliciamento, jovens para prosseguirem estudos no exterior do país. Mas se até então detinha relações amistosas com Dlhakama, em 1999 chegaram a esfriar-se. Foi visível nas eleições gerais de 1999. Dhlakama manteve-o a leste e foi nessas eleições que Dhlakama venceu com larga margem mas foi enganado ou “deixou-se subornar” como também se foi dizendo. E nessa altura como delegado político local Pereira começa a deixar de saber da agenda do seu líder, tendo chegado ao ridículo de se envolver em constantes desmentidos na imprensa, ao ser acusado de relações comerciais com membros da Frelimo.
No auge da campanha eleitoral às eleições de 2004 correm rumores nas hostes da “perdiz” de que Pereira estava na iminência de se filiar na Frelimo, o que ele viria a desmentir pessoalmente. Agora afiança-se que ele avançou numa negociata da Frelimo para acabar com a Renamo.
Depois daquele período gélido e de quezílias pessoais entre ambos, Dhlakama decide agora bafejar Pereira com a sua candidatura a presidente do município da Beira, mas não está posta de parte a hipótese de Daviz Simango lhe vir a dar a estocada final que convém a Dhlakama embora a este comece a parecer interessar muito mais ver-se livre de Daviz que as bases em todo o país começam a ver como um valor acrescentado para as pretensões da Renamo, se bem que Daviz defenda antes uma forte aliança entre ele e o seu líder, facto que Dhlakama parece não conseguir entender,
Mas sobre Daviz Simango, Manuel Pereira tem um precedente. Diz que foi a ele a quem a Mãe do edil beirense, na véspera de ser morta pela Frelimo, num campo de reeducação em Niassa, dissera para transmitir aos filhos que “estudassem muito”.

Dados das eleições de 2003

Nas eleições de 2003 o candidato da RENAMO-UE, Daviz Simango, obteve um total de 29.535 votos, ou seja 53,4 por cento de um total de 57.309 eleitores que exerceram o seu direito de voto, num universo de 215.326 cidadãos inscritos nos cadernos eleitorais. Djalma Lourenço, concorrente pela FRELIMO, obteve 23.378 votos (42.03 por cento) contra 943 votos (1.07 por cento) do candidato do PIMO, Pedro Langa, e 1440 votos (2.6 por cento) do concorrente do IPADE, AntónioRomão.Para a Assembleia Municipal, a RENAMO arrecadou o maior número de votos: 30.826 (54.6 por cento). A FRELIMO teve 23.304 (41.2 por cento), IPADE 1.735 votos (3.1 por cento), e o PIMO 628 votos (1.1 por cento). Nas eleições de 2003 o índice de votantes foi de 24,16 por cento. Agora das duas uma: ou as abstenções da parte dos apoiantes da Renamo se agravam em razão da forma pouco transparente como ocorreu o afastamento de Daviz Simango, ou então incidirá a seu favor o voto solidário, conforme se começa a perceber que venha a ser possível acontecer, pela percepção popular, em diversos bairros.
A não ser que a Renamo tenha um argumento convencível em torno desta querela que divide o partido, nas bases as obras que Daviz Simango fez na urbe poderão ser suficiente motivo para nem Pereira, nem Lourenço Bulha terem a mais pequena hipótese de vencer na Beira.
Algumas percepções, em torno da candidatura de Lourenço Bulha, indicam que embora ele seja bastante conhecido na Beira, reúne a desvantagem de estar a concorrer com um homem que tem obra visível.
Quanto aos que mantém a fé no voto tribal, tudo indica que este factor quase ou nenhum peso representará no sufrágio que se avizinha, pois o denominador comum do grosso dos apoiantes de Dhlakama é atribuir-lhe um cartão vermelho porque a causa beirense, fundada em não ceder de novo a Beira à Frelimo, é um objectivo de que a população não quer abdicar, “custe o que custar”.
Mas como em política a matemática pouco releva, o que se aconselha é esperar e ver para crer.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 02.09.2008

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