Ou, Roteiro do Velório em câmara ardente
Como era previsto, o Presidente da Renamo acabou mesmo expulsando Davis Simango da Renamo, confirmando por outro lado a candidatura de Manuel Pereira pela Renamo.
Ao assim proceder, Afonso Dhlakama, Presidente da Renamo, acaba de fazer algo que mais gosta: afundar a própria Renamo, cimentando por outro lado o seu reinado. Dhlakama acaba também de lançar mais um recado aos intelectuais e todos aqueles que clamam pela mudança dentro do Partido: aqui mando eu. Ou obedece, ou expulso-te.
Consequências de curto, médio e longo prazos
1
Os cinco deputados mais cotados da Renamo irão declarar-se independentes brevemente, como forma de manifestar a sua indignação em relação ao despotismo praticado pelo papá Dhlakama. Isso obviamente, terá implicações muito graves no desempenho da Renamo nas próximas sessões da Assembleia da República. António Namburete, já que é candidato oficial da Renamo pela cidade de Maputo, permanecerá calado até perder as eleições a favor de David Simango em Novembro próximo. Depois, também se juntará ao grupo. Se não for por livre vontade, será por vontade do líder, já que Dhlakama tem um especial pavor por intelectuais e pessoas letradas.
2
Na Beira, Simango e Bulha levarão vantagem em relação a Manuel Pereira. Sem recursos, a Renamo perderá as eleições. Bulha com a máquina do Governo provincial e central bem como do Partido Frelimo, levará a campanha eleitoral mais cara de sempre! Bulha não poupará seus recursos pessoais para ganhar pela primeira vez a Beira. Para Bulha, Beira constitui um dos achievements políticos que o levará às nuvens. E para a Frelimo arrancar a Beira da Renamo, constituirá um marco fundamental, rumo à maioria qualificada nas gerais de 2009! Terá apoio pessoal de Filipe Paúnde, como SG e de toda máquina propagandística, incluindo alguns colunistas do Noticias!
Por seu turno, Davis Simango, com o Município nas mãos e toda a infra-estrutura política da Renamo, terá mais para redistribuir do que Manuel Pereira. Usará como é mister recursos humanos e materiais do Município (carros, salas de reunião, chefes do bairro, etc.) ao serviço da sua campanha. A propósito, quantos mais membros deverão ser expulsos do Partido, já que a maioria dos apoiantes de Simango são da Renamo? Haverá outros Conselhos nacionais para expulsar os restantes? Quando?
Em Novembro, ou Bulha, ou Simango Goevrnará a Beira. Será o princípio do fim da Renamo, rumo a derrota final em 2009.
Mesmo que Simango perca (50% de probabilidade) o Grupo de Reflexão e Mudança constituirá a principal força de oposição na Beira e a Renamo a terceira. Haverá balanço de poder na Assembleia e a Frelimo não terá maioria absoluta para governar livremente. Terá assim que cortejar a GRM.
3
Sem Beira nem bastião e com menos deputados na Assembleia da República (provavelmente 80-83 contra os actuais 90); desorganizada e com poucos recursos, assim irá a Renamo as eleições gerais de 2009.
Sabendo que um dos aspectos que penaliza a Renamo em pleitos eleitorais é a falta de organização e escrutínio pelos seus membros, nas Assembleias de Voto bem como a montagem de um sistema de contagem paralela (factores que ditaram em grande medida a vitória de Davis na Beira. Na Zambézia, deveu-se ao empenho pessoal dos deputados Manuel Araújo e Carlos Colaço e sua equipa) a Renamo consentirá a pior derrota de sempre. Por outro lado, a Frelimo obterá pela primeira vez, a maioria absoluta! Sim maioria absoluta! Aí sim, Afonso Dhlakama descansará em paz! Terá conseguido o que sempre quis em 30+ anos de militância.
4
Por causa da derrota, Dhlakama encenará uma reorganização político-partidária para, alegadamente revitalizar as bases. Mas antes demitirá Mazanga do cargo de Porta-voz. Mais uma vez viajará para Quelimane – cidade Santa – (em 2010 ou 2011), para um Congresso, onde dará o último golpe a todos aqueles que ele achar constituírem ameaça. Redistribuirá cargos de chefia pelos seus yessmen. Recuperará figuras outrora por ele marginalizadas mas que teriam se mantido calados.
Ao longo de todo este processo sempre haverá espaço para um e outra reunião de fachada, seja para redistribuir dinheiros, seja para demitir um e outro. Em 2009 Dhlakama dirá que as eleições foram fraudulentas. Só que ninguém lhe prestará ouvidos. A SADC como sempre, declarará as eleições livres, justas e transparentes mesmo antes dos postos de votação fecharem.
Diplomaticamente, Dhlakama estará isolado em 2009. Financeiramente continuará a ganhar como líder da oposição; fará parte do Conselho do Estado e continuará a manter os seus homens armados em Maríngue.
Só que para estes, a Frelimo tem um plano: a cidade se lhes aproxima a cada dia que passa. E o rádio que Dhlakama os proibia de escutar em tempos de guerra, está todo o dia ao ouvido destes. Ouvem e sabem a cada dia que passa, que o seu mestre os ludibria; que há oportunidades sérias e duradoiras para além de Dhlakama. E um dia não mais haverá homens armados. E não será preciso a FIR. O desenvolvimento do país se encarregará em desmantela-los.
Politicamente, Afonso Dhlakama estará cada vez mais fraco. Pela primeira vez na História, teremos um Dhlakama protestado pelas bases. E a Junta para a Salvação da Renamo ganhará coerência. Tarde ou cedo, PDD e Renamo fundirão num partido só. Desta vez sem Afonso Dhlakama. Mas para que isso aconteça teremos que aguardar por uns 15-20 anos, ou 4 eleições gerais. Até que alguém declare-se incapaz de dirigir o partido, por força da natureza.
PS: Há uma coisa que não consigo entender no caso Davis-Dhlakama: Será que Lutero Simango vive neste planeta? Estranho o seu silêncio e serenidade ante o assassinato político do irmão mais novo, com o agravante de ter sido ele que o convidou à vida política! Lutero Simango, diga algo! É seu irmão Davis! Acima de tudo. Acima do seu sucesso.
FONTE: www.ideiasdemocambique.blogspot.com
NOTA: Uma opinião perturbadora, concordemos ou não isto não é ficção científica!
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