O meu amigo Estolano, que vive lá pelas bandas de Massaca, em Boane, anda esbaforido com algumas coisas que acontecem por cá. Quando tem de ir a Maputo tratar das suas burocracias, vê-se confrontado com uma enorme fila de carros, principalmente a partir da portagem de Maputo. Agora já não há hora de ponta, como acontecia antigamente. Nesta cidade das acácias, que de acácias começa a ter muito pouco, qualquer hora é hora de ponta. Na maior parte dos casos e como convém a uma família da classe média, o pai tem carro, a mãe também. E os filhos idem. Os que não possuem viatura própria lá se vão arranjando nos “chapas” ou nos “my love”.
Estolano não está contra os que têm viatura própria e a utilizam (todos ao mesmo tempo) para se deslocarem, algumas vezes para o mesmo destino, porque entende perfeitamente que ter viatura não é luxo mas sim uma necessidade. Está contra a inexistência de vias que permitam o descongestionamento do tráfego automóvel.
O anterior Ministro dos Transportes, Gabriel Serafim Muthisse, numa atitude irresponsável e reveladora de falta de respeito para com os cidadãos disse que não era nenhum santo milagreiro. Por outro lado, esqueceu-se que sendo o problema transversal, a sua solução depende de outros Ministérios, nomeadamente o das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos e o da Economia e Finanças. O actual felizmente que não tem estado a enveredar por essa postura milagreira. Carlos Mesquita diz apenas que a solução está para breve.
Carlos Mesquita – Ministro dos Transportes
Mais comboios e mais autocarros para o transporte público. Ainda bem. Aguardemos e oremos, como dizia um amigo meu. Oremos para que estas promessas se transformem em realidade, porque esta coisa de “anda e pára”, não dá. Desgasta a sola do sapato, desgasta a embraiagem e, acima de tudo, os nervos. Por causa disso Estolano anda a pensar em trocar de carro. Passar dum manual para um automático. Aí não há crise. Nem precisa de reaprender a fazer o “ponto de embraiagem”. Só que o principal problema é que ninguém quer comprar a sua “lata velha”.
A outra coisa que atrapalha o meu amigo Estolano é o facto de alguns dos nossos dirigentes andarem agora a exigir coisas e mais coisas, exactamente numa altura em que continuamos a apertar o cinto. Andamos de barriga apertada, apesar de alguns compatriotas terem-na avantajada. Mas como a excepção confirma a regra deixemo-los que engordem.
Agora pedem-se mundos e fundos por conta de uma palavra bonita chamada DIGNIDADE. Queremos casa, queremos carro, queremos subsídio para telemóvel, queremos subsídio para combustível, queremos dinheiro para despesas de representação, queremos cidadela parlamentar.
Antigamente quando a tal “Casa do Povo” (onde alguns se sentam para dormitar ao longo de sessões inteirinhas, e que vão acabar esta legislatura sem sequer abrir a boca) era denominada de “popular”, não havia esse tipo de mordomias. Agora querem tudo e mais alguma coisa porque afinal deputado duma Assembleia da República com elevado nível de responsabilidade (presidente, vice-presidente, chefe de bancada – só falta incluir na lista o porta-voz e os chefes das Comissões) tem de ser tratado com dignidade. E ainda por cima dão-se ao luxo de bradar publicamente que “não é um favor”. É um direito. Claro que é um direito, porque todos nós temos direito à dignidade. Se assim é, então que dignidade estamos a dar aos professores, médicos, enfermeiros, soldados, polícias, funcionários públicos, etc.
Os que agora reivindicam, olhando única e simplesmente para o seu umbigo, antes de chegarem ao poleiro criticavam os que lá estavam, pelo facto de estarem recheados de benesses injustificáveis. Agora que lá estão, fazem todo o tipo de cambalhota política para que essas benesses continuem e sejam alargadas.
E tudo isto à conta da tal DIGNIDADE. Para esses “dignidade” é sinónimo de mordomia, bem-estar, conforto. O resto é paisagem.
PS: Um dia um amigo meu que vive numa das províncias do norte de Moçambique disse-me assim: “João, eu só quero ser eleito deputado da Assembleia da República, nem que seja por uma única legislatura. Vais ver como a minha vida vai mudar de um dia para o outro”. O pior é que esse meu amigo nunca foi eleito. E à conta de nunca ter sido eleito até já rasgou o cartão do seu partido. Agora uma nova etapa (política) se abre na sua vida: vai dizendo mal de tudo e de todos.
João de Sousa – 06.05.2015 BIG SLAM
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