Tuesday 1 February 2011

'Presidentas' sombra: as mulheres por trás dos ditadores


"Há uma mulher em cada caso, assim que me trazem um relatório, eu digo: Procure a mulher!" Esta expressão, usada por Alexandre Dumas pai num livro e numa peça de teatro no século XIX, foi recentemente recuperada pelo embaixador tunisino em Espanha para falar de Leila Trabelsi. A ex-primeira dama da Tunísia, que agora vive refugiada na Arábia Saudita com o marido, enriqueceu à custa do cargo de Zine el Abidine ben Ali, que esteve no poder durante 23 anos, sendo acusada de liderar uma espécie de máfia familiar para dominar o mundo dos negócios tunisino. Mas Leila não é a primeira mulher de um presidente ou ditador que quer mandar ou que se perde por luxos. Várias primeiras damas, actuais ou antigas, adquiriram ao longo dos anos o poder de fazer e desfazer governos, erguer um Exército ou guardar as chaves do tesouro. Anjos negros ou fiéis muletas, algumas delas ocupam um papel de primeiro plano, muitas vezes na sombra.

Suha, a viúva que não convenceu palestinianos

Viúva do líder da Autoridade Palestiniana Yasser Arafat, Suha, de 48 anos, foi até certa altura grande amiga de Leila Trabelsi. Até chegou a viver em Tunes. Mas a amizade terminou quando Suha desmontou junto da rainha Rânia o plano de Leila para casar uma sobrinha sua com o xeque do Dubai, rivalizando assim com uma irmã do Rei da Jordânia. Leila retirou-lhe a cidadania tunisina. E expulsou-a. Suha casou com Arafat em 1990, quando tinha 27 anos e ele 61. Nunca teve grandes apoiantes, por viver como uma coquete em Paris e não nos territórios palestinianos. Após a morte de Arafat, em 2004, veio a público que teria transferido milhões para uma conta na capital francesa.

Leila, a cabeleireira que se tornou 'Regente de Cartago'

"Cleptodama", assim lhe chamaram alguns media após a sua fuga da Tunísia, alegadamente levando 1,5 toneladas de ouro no valor de 45 milhões de euros. A segunda mulher de Zine el Abidine ben Ali, Leila Trabelsi, de 53 anos, é uma antiga cabeleireira oriunda de uma família pobre e numerosa. Mãe de três dos seis filhos do ex-chefe do Estado tunisino, Leila e a sua família não eram lá muito queridos pelos tunisinos. E isso viu-se após a Revolução do Jasmim. Muitos dos membros do clã foram presos, algumas das suas casas incendiadas, tendo sido noticiada a morte do sobrinho favorito de Leila, Imed Trabelsi, que depois não se confirmou. No livro A Regente de Cartago, até há pouco tempo proibido na Tunísia, os autores Nicolas Beau e Catherine Graciet descrevem a ex-primeira-dama como alguém que geria uma espécie de mafia dos negócios com a ajuda de vários familiares. Belhassen Trabelsi, o irmão, Imed, o tal sobrinho, Sakhr el Materi, o genro. Leila gostava de passar férias de luxo no Dubai, segundo o site nawaat.org. E também de fazer visitas às principais capitais da moda na Europa, como Paris e Milão, muitas vezes usando para isso aviões oficiais do Estado tunisino, contou a revista Foreign Policy.

Imelda, A bela Mariposa de Ferro

Durante os anos em que o marido esteve no poder nas Filipinas, Imelda acumulou 2 700 pares de sapatos, embora ela mantenha que eram "apenas" 1060, mil malas e 500 vestidos no Palácio de Malacañang. Uma biografia sua assegura que esse foi o escape que arranjou quando percebeu com quem tinha casado na realidade. Ferdinand Marcos, liderou as Filipinas entre 1965 e 1986, num regime ditatorial. Rainha de Beleza na juventude, foi capa de revistas quando o marido subiu ao poder, apelidada como a mais bela primeira dama de sempre das Filipinas. Hoje, a Mariposa de Ferro, como também é conhecida, tem 82 anos. É viúva desde 1989.

Agathe, a madame presa por genocídio

Presa em França em Março do ano passado, após a visita do Presidente francês Nicolas Sarkozy ao Ruanda, a viúva de Juvenal Habyarimana é suspeita de envolvimento no genocídio de 1994. Este saldou--se pela morte de 850 mil pessoas no espaço de apenas três meses. Foi o assassínio do então presidente, de etnia hutu, que espoletou o genocídio. Agathe, hoje com 69 anos, é considerada por muitos investigadores como a líder do Akazu, círculo restrito de próximos do Estado que é acusado de ter planeado um genocídio contra os tutsis. A vida em França mudou muito para Agathe, que quando lá chegou, em 1994, até teve direito a subsídio para refugiados ruandeses.

Os diamantes de 'Grace Gucci' do Zimbabwe

Um telegrama do antigo embaixador no Zimbabwe James McGee denunciava que várias personalidades do país liderado por Robert Mugabe, entre os quais a sua mulher, Grace, "estavam a extrair lucros tremendos com os diamantes da mina de Chiadzwa". E o que é que a primeira dama zimbabwiana fez? Já que é muito difícil agir judicialmente contra a obscura figura da WikiLeaks, processou o Standard, jornal que citou o telegrama, exigindo uma indemnização de 15 milhões de dólares. Grace, de 46 anos, casou-se em segundas núpcias com Mugabe em 1996. Proprietária de vários terrenos, aproveitou a controversa reforma agrária de 2002 e ficou com a Iron Mask Estate, que tem 29 quartos e era dos agricultores septuagenários John e Eva Matthews. Conhecida pelas suas compras extravagantes, a primeira dama do Zimbabwe é conhecida como Grace Gucci ou A Primeira Compradora. Em 2009, em Hong Kong, onde a filha Bona Mugabe estudava na universidade, terá mandado o guarda-costas agredir o fotógrafo do jornal britânico Times, Richard Jones, à porta de um hotel de luxo. Mais tarde, ela própria ter-se-á juntado à agressão, desferindo vários golpes no rosto do fotógrafo com os seus anéis cravados de diamantes.

Lucía, mão-de-ferro da ditadura chilena

Mulher forte, determinada, confiante e braço-direito do ex-ditador chileno. Assim é por muitos descrita Lucía Hiriart. Augusto Pinochet terá mesmo dito que ela foi uma das pessoas que mais influência tiveram na sua decisão de liderar o golpe de Estado contra Salvador Allende a 11 de Setembro de 1973. Conhecida por gostar de chapéus de design europeu, os seus modelos favoritos eram os da francesa Coco Chanel. Hoje com 89 anos, Lucía já chegou a estar presa por fuga ao fisco e apropriação ilegal de bens públicos. Pinochet, que morreu em 2006, esteve no poder entre 1974 e 1990. Lucía e Pinochet tiveram cinco filhos: Augusto, Marco António, Lucía, María e Verónica.

Simone, a mulher a quem chamam a 'Hillary Clinton dos Trópicos'

Hillary Clinton dos Trópicos, chama-lhe a imprensa marfinense, A Dama de Sangue, apelidam-na os inimigos e críticos. Simone Gbagbo, primeira dama da Costa do Marfim, é das pessoas que mais têm incentivado Laurent Gbagbo a resistir às pressões da comunidade internacional para deixar o poder. Derrotado por Alassane Ouattara nas recentes eleições presidenciais, Gbagbo recusa-se a sair. O país, que viveu saiu há poucos anos de uma guerra civil, vive novamente num limbo. Simone, de 62 anos, é a primeira esposa de Gbagbo, líder parlamentar do seu antigo partido, a Frente Popular Marfinense. Mãe de cinco filhas, é suspeita de violações dos direitos humanos durante a guerra civil e de ter ligações a esquadrões da morte. A família de Guy-André Kieffer, jornalista franco-canadiano desaparecido em 2004 em Abidjan, acusa-a abertamente de "não estar assim tão distante dos esquadrões da morte". Muito ligada aos Jovens Patriotas, base de apoio popular de Gbagbo, Simone chegou a ser um pouco marginalizada pela segunda esposa do marido, Nady Bamba. Mas rapidamente "retomou a sua influência, no dispositivo de combate, desde que começaram os problemas", disse à AFP Antoine Glaser, especialista em África francófona.

Michèle, a luxuosa esposa de 'Baby Doc'

A primeira mulher de Jean-Claude Duvalier, o recém--regressado ex-presidente do Haiti, era famosa pelos seus casacos de pele, festas de luxo, roupas e jóias de design exclusivo ou flores importadas dos EUA. O seu casamento, em 1980, teve um custo brutal de três milhões de dólares. Enquanto primeira dama, o seu poder parecia exceder o marido, pois ia ao ponto de repreender ela própria os ministros, escreveu a Time. Hoje, com 60 anos, divorciada de Duvalier há 11, Michèle continua a viver em Paris. "Baby Doc", como é conhecido o ex-ditador, voltou agora ao Haiti. Mas com outra mulher: Veronique Roy, sua companheira de longa data e relações públicas.

PATRÍCIA VIEGAS , Diário de Notícias

Fotografia © Howard Burditt - Reuters

4 comments:

Danilo Sergio Pallar Lemos said...

Passei para conhecer seu blog, e gostei muito, já trabalhei em Moçanbique e gosto senpre de saber noticias de Africa.

Reflectindo said...

Esta lista que tanto gostei de ver podia ter crescido ainda. Há muitas preidentas sombras ou então rainhas de facto.

JOSÉ said...

Irmão Danilo, sinta-se à vontade neste cantinho. Que Deus o abençoe abundantemente.

JOSÉ said...

Reflectindo, certamente que outros nomes em África podiam ser acrescentados a esta lista.