Thursday 17 February 2011

Os castrados

Estão na ordem do dia as manifestações pró-democracía e liberdade que sacodem diversos regimes de países do Norte de África e do Médio Oriente que, de resto, inclusivamente já causaram vítimas até há sensivelmente dois meses inimagináveis de cair.
Várias lições desses acontecimentos se podem tirar, até porque a avaliar pelo curso dos acontecimentos, muitos "líderes" podem ser atingidos.
É que os povos parecem, hoje, mais do que nunca, dispostos a se libertarem de alguns 'libertadores" que até fazem pior papel que o próprio antigo coloni­zador.
Outra lição que se pode tirar destes acontecimen­tos é a evidência, mais do que nunca, de que no mundo actual há poucos princípios e muitos interesses, no relacionamento entre regimes.
Quem diria que um dia Washington podia virar as costas aos dirigentes de Cairo e Tunis?
Há (des)governantes que brutalmente espezinham hoje os seus povos, convictos de que em caso de uma convulsão sociopolítica nos seus países receberão apoio incondicional dos seus aliados...
Outra coisa espantosa aos ouvidos e olhos de muitos, pelo menos em Moçambique, se bem que não de todo surpreendente, é o nível de "equidistância" e "verticalidade" evidenciado pelos habituais "analistas" e/ou "comentadores" políticos aparen­temente com posições cativas no nosso país.
Exprimiram-se com brilhante mestria, comentando as ocorrências fora de portas, muito longe do nítido e confrangedor alinhamento com que se posicionam quando comentam eventos nacionais, quando se mostram autênticos "castrados" mentais e tudo fazem para maquiar o quadro.
Não viram, naqueles países, vândalos e delinquentes, viram no Egipto e na Tunísia manifestantes legítimos a exigir os seus direitos, coisa que rareia por cá...
Aliás, esses comentários vistos e ouvidos me fizeram recordar as "recomendações" deixadas recentemente pelo chefe da Missão da União Africana às recentes eleições legislativas em Cabo verde, por acaso o vice-presidente do MPLA (Angola), Roberto de Almeida, para que as autoridades do arquipélago melhorem a sua performance organizativa e de trans­parência eleitora !!
É que a todos os títulos o homem de mão de José Eduardo dos Santos perdeu uma oportunidade soberana para manifestar modéstia, elogiando ou no mínimo se calando, sabido que Cabo Verde está longe, mas longe mesmo, de ombrear com Angola em termos de Democracias e de Boa Governação, tendo, inclusivamente, ultrapassado as metas dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
Aqui estamos para ver e ouvir os comentários no futuro, porque ao que tudo indica o vento que sopra do Norte de África parece estar a descer cá para o Sul, sem, no entanto, deixar de se propagar pelas bandas do Médio Oriente.
Gostaria de voltar a ouvir e ver os analistas e comentadores da minha pátria amada se debruçando sobre coisas internas!

Refinaldo Chilengue,CORREIO DA MANHÃ – 16.02.2011, citado no Moçambique para todos

2 comments:

Anonymous said...

Precisamos que esses ventos soprem para os lados da nossa terra amada - Moçambique.
Será que seremos os próximos sortudos?
Deixo-lhe um abraço a si e aos seus.
Maria Helena

JOSÉ said...

Mais tarde ou mais cedo, esses ventos irão soprara na direcção de Moçambique.