"Perdemos o medo e agora ninguém nos pára"
Na Praça Tahrir, o ambiente foi de festa. Às 12.00, o milhão de pessoas que se juntou no centro do Cairo gritou "Sai! Sai! Sai! Sai", uma mensagem clara para o Presidente Mubarak.
Nunca na sua história moderna o Egipto assistiu a uma manifestação como a que ontem invadiu a baixa do Cairo.
As explicações para tão grande desafio a um poder autocrático policial são muitas, mas para Adel Mohamed há uma simples: "Perdemos o medo e agora ninguém nos pára", disse, após doze horas de concentração ruidosa na Praça Tahrir, epicentro de uma revolução que ontem conheceu o seu ponto de viragem. "Este é um novo povo, com um novo pensamento", acrescenta Adel.
Não andará distante da verdade. A gigantesca manifestação que marcou um dia de greve geral no Egipto mais pareceu uma festa. Famílias inteiras, grupos de amigos, grupos políticos e religiosos compareceram na principal praça do Cairo às primeiras horas da manhã, desafiando, uma vez mais, o recolher obrigatório que só é levantado às 08.00.
Muitas dezenas de manifestantes optaram por acampar na rotunda ajardinada onde o infernal tráfego da capital egípcia não se sente há oito dias, tantos quantos dura o protesto que pretende remover Hosni Mubarak da cadeira onde se senta há trinta anos.
Ontem não foi apenas a Praça Tahrir que se encheu de cartazes a pedir a resignação do Presidente. Centenas de milhares de pessoas não conseguiram passar as barreiras militares e espalharam--se por todas as ruas que dão acesso ao imenso largo junto ao Museu Egípcio. Protestos, mais ou menos desgarrados, ao longo da manhã, escutando-se, pouco passava das 12.00, um estrondoso uníssono: "Sai! Sai! Sai! Sai!"
Os cartazes agitaram-se, homens encavalitados noutros esganiçavam ao megafone mais palavras de ordem. Um rapaz saltava ao ritmo das palavras e agitava o burro recortado em cartão com uma cabeça de Mubarak, pregado a uma vassoura.
Uma mulher, que erguia ao limite uma foto do Presidente egípcio adulterada com penteado e bigode hitleriano, era a atracção dos fotógrafos.
As varandas desta praça, até ontem vazias, encheram-se de gente e ostentam agora cartazes gigantes.
Ahmed Anwar manifestou-se sem cartazes. O engenheiro agrónomo de uma companhia francesa estava contente pela empresa o ter dispensado para participar na manifestação. A sua convicção é a de todos: "Mubarak tem de sair para nós escolhermos o seu sucessor. Somos nós que temos de escolher, e não aceitaremos que alguém o faça por nós. É assim que vamos recuperar o nosso orgulho".
Mas, afinal, quem pode suceder a Mubarak sem eleições?
Nas ruas, as mesmas pessoas que pedem a cabeça do Presidente não têm resposta para esta questão. Não há um líder consensual, mas quem protesta só tem uma certeza. Mubarak tem de sair, porque aceitar remodelações seria como admitir a mudança de cabeça num corpo muito doente.
E nem sequer admitem um hipotético cenário de transição como aquele que foi conhecido ontem à hora do fecho desta edição.
Mubarak dirigiu-se ao país, através da televisão pública, anunciando que não se vai recandidatar à presidência do Egipto. No entanto, recusa abandonar o poder, mantendo-se no cargo até à realização de eleições, marcadas para Setembro.
Enquanto o desfecho da crise egípcia parece distante, nas ruas nada funciona. As lojas deverão permanecer encerradas hoje, assim como os restantes serviços públicos.
Os bens essenciais começam a faltar e, mais do que os produtos, falta dinheiro para os comprar.
Os bancos também se mantêm encerrados e as caixas de multibanco estão vazias há vários dias.
E, para agravar ainda mais a situação, as bombas de gasolina começam a encerrar por falta de combustíveis, correndo-se o risco de uma paralisia total do país.
Diário de Notícias
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Egito: Obama exige a Mubarak início imediato de transição pacífica que conduza a eleições livres e justas
Washington, 02 fev (Lusa) -- O presidente dos Estados Unidos defendeu hoje, numa declaração televisiva, que a transição pacífica no Egito deve começar já e conduzir a eleições livres e justas, reportam as agências internacionais.
Obama felicitou o exército egípcio pela sua contenção e pelo não recurso à violência contra os manifestantes.
O presidente norte-americano disse ainda que falou com o seu homólogo egípcio, Hosni Mubarak, que reconheceu que "o statu quo não é sustentável e que devem ser feitas mudanças".
Expresso
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Expresso
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