O Engenheiro Daviz Mbepo Simango, que já está inscrito na Comissão Nacional de Eleições como candidato a suceder a ele próprio nas 3.ªas Eleições Autárquicas já marcadas para 19 de Novembro próximo, levou o Conselho Nacional da Renamo, reunido sexta e sábado em Quelimane, a alegar que o ainda Edil da Beira já não faz parte do “baralho” da responsabilidade da Direcção do Partido Renamo.
Na tarde de ontem o «Canal de Moçambique» tentou obter a “resolução” do Conselho Nacional daquela organização política sobre a desavença entre as bases da Renamo na Beira e a Direcção do Partido, suscitada pelo facto das bases terem dado, em massa, suporte à candidatura de Daviz Simango à sua própria sucessão e a Direcção da Renamo ter indicado Manuel Pereira como candidato oficial do partido a edil da Beira.
Duas versões
Há duas versões a correr sobre o caso Daviz Simango. Uma diz que o Conselho Nacional expulsou o edil da Beira por este ter avançado com uma candidatura independente e outra que diz que ele saiu sozinho do partido. Falta conhecer exactamente os termos da resolução tomada pelo Conselho Nacional.
Contactada Ivone Soares, porta-voz do Gabinete Eleitoral da Renamo, ela disse que só Fernando Mazanga, na sua qualidade de porta-voz da Direcção do Partido poderia fornecer ao «Canal de Moçambique» a resolução sobre o caso mas que não tinham nem fax nem internet para nos poderem enviar para Maputo. Ela frisou, no entanto, que Fernando Mazanga era a pessoa autorizada a divulgar a “resolução” mas que se encontrava em reunião.
O anúncio do afastamento oficial de Daviz Simango do partido foi feito pelo próprio líder daquela formação política, Afonso Dhlakama, no acto de encerramento do Conselho Nacional da Renamo, sábado à noite, na capital provincial da Zambézia.
“Os membros do Conselho Nacional, de boa-fé interpretando os estatutos do partido e analisando, viu-se que o nosso irmão Eng. Daviz Simango abandonou o partido Renamo por livre vontade. Tendo feito isto e aderindo a um grupo Reflexão e Mudança que está inscrito na Comissão Nacional de Eleições, significa que está num outro grupo que tem fins políticos” – disse Afonso Dhlakama num discurso feito de improviso tentando demonstrar que ele próprio, o presidente do Partido não tem nada a ver com a posição tomada pelos membros do Conselho Nacional a que por sinal preside nos termos dos Estatutos que constam do Boletim da República de 22 de Agosto de 1994, segundo nos informou Ivone Soares.
Para Dhlakama, os tais conselheiros da Renamo analisaram de forma “democrática” os estatutos da Renamo e “viram que não tinham outra maneira porque o nosso irmão infelizmente abandonou o partido por sua livre vontade”.
Segundo o presidente da Renamo, Daviz Simango foi igualmente intimado pelos ditos conselheiros, a não usar os símbolos do Partido Renamo a partir daquele momento em que Dhlakama discursava.
“Os conselheiros decidiram ainda que a resolução seja distribuída a todos os órgãos do partido, membros, simpatizantes e a população em geral” referiu Dhlakama.
Dhlakama “carimba” as opiniões de Mbararano e seus seguidores
Entretanto, o “Canal de Moçambique”, que se fez presente em Quelimane por um seu colaborador, soube de fontes próximas ao Conselho Nacional da Renamo, que decorreu à porta-fechada, que na realidade, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama carimbou as opiniões emitidas por um grupo onde se destacavam figuras como Fernando Mbararano, delegado político da Renamo na província de Sofala, brigadeiro Moisés Machava, membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, e Fernando Carrelo, que se perfilam na linha da frente contra o actual edil da Cidade da Beira.
Entre os argumentos apresentados pelos indivíduos que previamente foram inscritos para usar da palavra durante o encontro, foi nota saliente que Daviz Siamngo estaria a preparar “um golpe contra Afonso Dhlakama na liderança do Partido e que para tal contava com vários grupos de membros da Renamo espalhados no país e na vizinha África do Sul”.
Foi ainda dito que Daviz Simango pertence ao Partido de Convenção Nacional (PCN) e que o mesmo usou a sua influência como edil da Beira para alimentar as suas ambições políticas. Este facto só por si faz com que se questione se ele de facto é do PCN porque se discute no Conselho Nacional da Renamo a sua expulsão ou se fala em auto-afastamento.
Seja como for foi com estes argumentos que se acabaria por justificar o que uns dizem ter sido a “expulsão” de Daviz Simango da Renamo e outros digam apenas que “ele saiu sozinho”.
As mesmas fontes do «Canal de Moçambique» que estiveram presentes nas reuniões do “Conselho Nacional” à porta fechada, disseram-nos igualmente que a maior parte dos membros do Conselho Nacional da Renamo presentes, incluindo alguns dos poucos intelectuais do partido que lá estiveram, optaram pelo silêncio, alinhando apenas com palmas de aprovação do que já estava traçado e não havia como impedir dado não ter sido dada a possibilidade de alguém se pronunciar sem estar sujeito a consequências.
Foi-nos contado que Afonso Dhlakama já teria lançado, logo no primeiro dia do encontro, achas na fogueira contra Daviz Siamngo, quando no momento em que se procedia à análise da situação política no país, referiu que nem na Frelimo a sucessão do poder está a ser feita sem ser entre as figuras da velha guarda, numa clara alusão à passagem da liderança de Joaquim Chissano a Armando Guebuza, e sem se pensar que essa possibilidade seja admitida a qualquer outra figura mais jovem.
Dhlakama é citado como tendo questionado os porquês da Frelimo não ter entregue o poder ao antigo ministro da Agricultura, Helder Muteia, que se chegou a atrever a candidatar-se a candidato a presidente da Frelimo que acabaria por resultar numa espécie de suicídio político que acabaria por levar Muteia a emigrar. As palavras de Dhlakama, contextualizadas, foram para as fontes do «Canal de Moçambique» presentes na sala onde decorreu a 10ª Sessão do Conselho Nacional da Renamo, uma espécie de recado que o presidente passou aos presentes para lhes dizer que a sua liderança no partido não pode ser sequer discutida.
Dhlakama chegou mesmo a dizer em frente de câmaras de televisão que de facto ele é um “ditador”.
Além do caso Daviz Simango, o Conselho Nacional da Renamo abordou também a questão da participação daquele partido nas eleições autárquicas que se avizinham e passou em revista a actual situação política e económica que o país atravessa.
Sobre as eleições autárquicas, Afonso Dhlakama disse que o Conselho Nacional da Renamo “deliberou que gostaríamos de ganhá-las”. “Não dizemos ganhá-las em todos os 43 municípios, mas aumentar os 5. Não sabemos para quantos. Para tal temos que ir trabalhar”, concluiu Afonso Dhlakama.
Legitimidade dos membros do Conselho Nacional
A legitimidade dos membros do Conselho Nacional da Renamo e do próprio presidente do partido está agora a ser posta em causa por alguns membros do partido nas bases.
Confirmando-se que no Conselho Nacional de Quelimane os presentes se socorreram dos estatutos do partido para afastar Daviz Simango da organização ou para sustentar que de acordo com eles Simango não poderia ter-se candidatado como independente, agora está a ser questionado, pelas bases do partido, que legitimidade legal terão os membros do Conselho Nacional da Renamo para se dizerem membros daquele órgão quando eles devem ser eleitos pelo congresso do partido de cinco em cinco anos e a Renamo não realiza qualquer congresso de 2001. O próprio presidente do partido, segundo os mesmos estatutos obrigam, é eleito em congresso e há sete anos que não se realiza qualquer congresso. Sendo assim começa-se inclusivamente a questionar se o presidente do partido tem ainda alguma legitimidade para deliberar seja o que for.
As bases da Renamo na Beira reivindicam para si toda a legitimidade de agir como bem entendem e a continuar a apoiar a candidatura independente de Daviz Simango à sua própria sucessão como presidente do Município da Beira.
Um quadro da Renamo na Beira, do grupo dos que apoia a candidatura do Eng. Daviz Simango como independente mas em nome informal das bases da Renamo, disse ontem ao «Canal de Moçambique», na Beira, que pelo facto dos membros do Conselho Nacional da Renamo estarem “fora de prazo” assiste às bases do partido na Beira continuarem a promover a “desobediência democrática” por alegadamente eles serem membros de base do partido, com cartões assinados pelo presidente e pelo secretário-geral, e como tal não carecerem de mais legitimidade do que essa para alegarem que são eles os únicos que estão em condições legais para indicar quem querem que seja o candidato a edil da Beira apesar de haver quem tenha inscrito outro nome como candidato oficial do partido.
“Não vou recuar”
No seu último pronunciamento público, perante cerca de cinco mil pessoas, entre pessoas das chamadas “bases” da Renamo na Cidade da Beira e munícipes daquela que é a segunda maior cidade do país, que lotavam no passado dia 17 de Setembro o pavilhão de desportos do Clube Estrela Vermelha, Daviz Simango reiterou que não vai recuar independentemente da decisão que o Conselho Nacional da Renamo haveria de tomar sobre o seu futuro na Renamo.
“Como vosso filho não vou recuar. Aprendi a não ter medo. Por isso não tenho medo. Contem comigo para tudo o que vier à frente” dizia Simango prevendo já o que haveria de lhe acontecer no encontro que culminou este fim-de-semana com o seu afastamento da Renamo.
“As pessoas que não acreditam num povo, as pessoas que não respondem ao choro de um povo, são aquelas que andam por aí escondidas. Eu Daviz Simango farei o que o povo mandar”- referiu. Simango aproveitou ainda a ocasião para apelar para que cada um dos presentes trabalhe no seu bairro e no seu local de residência com sentido de vitória de modo a que quando chegar a data das eleições autárquicas no dia 19 de Novembro próximo, “as pessoas que não acreditam neste povo, chorem para sempre”.
“Quero agora cantar e dançar porque sei que neste mundo não estou sozinho”, frisou depois Daviz Simango, fortemente correspondido pelos presentes.
Daviz Simango continuava na altura a dizer que é membro de base da Renamo e prometia apelar ao voto na Renamo para que esta vença a maioria como bancada na Assembleia Municipal da Beira.
Como surgiu a Reflexão pela Mudança?
Simango disse há dias ao «Canal de Moçambique» que ele apenas se serviu do facto do Grupo Reflexão para a Mudança estar legalizado, para poder, dentro do reduzido espaço de tempo que por lei restava para qualquer candidato poder legalizar a candidatura junto da Comissão Nacional de Eleições. Segundo ele não havia maneira de se inscrever, de acordo com as exigências legais, se ainda tivesse que promover a legalização de um grupo de munícipes para patrocinarem a sua candidatura como independente. “O tempo era muito curto”.
Daviz Simango afirmou por outro lado que o Grupo de Reflexão para a Mudança não candidata ninguém à Assembleia Municipal da Beira pois a ideia é apoiar a lista da Renamo para que possa vencer as eleições e ter maioria folgada para lhe permitir que possa continuar a governar a Beira com tranquilidade.
Dhlakama na Beira esta semana?
O «Canal de Moçambique» soube, entretanto, que Afonso Dhlakama poderá estar de visita à Beira ainda esta semana para promover a candidatura de Manuel Pereira, candidato oficial da Renamo.
A visita do presidente do partido que até aqui sempre reivindicou que a Beira é o seu grande bastião, se se concretizar a visita esta semana à capital de Sofala, irá permitir aferir o grau de simpatia que ainda tem e ainda quais as reais possibilidades que Manuel Pereira pode alimentar no pleito que se avizinha.
(Redacção / Zaqueu Ndawina) - CANALMOZ, 22/09/08