Friday 17 January 2014

Alquimia da paz requer paradigmas completamente diferentes

Sem frontalidade e honestidade a Paz continuará podre…

Beira (Canalmoz) – Sem menosprezo pelos diferentes pronunciamentos relacionados com a crise político-militar em Moçambique e as diferentes soluções propostas há que reconhecer, convenhamos, que a Paz de tanto propagandeada continuará longe se não houver... uma transformação profunda da maneira como os protagonistas encaram e tratam este melindroso dossier.
Uma paz em que uns são os “senhores” e os outros são os “subalternos” não colhe nem cola. Uma paz em que uns impõem as regras e outros tem de cumprir mesmo que tais regras lhes sejam lesivas é intragável. Uma paz aparente como um vulcão esperando pelo momento de erupção não pode ser chamada de paz. Uma paz fundada no logro e num embuste permanente, um abuso dos direitos constitucionais, condimentada de discriminação e de tecnicismos convenientes não é sustentável. Quando se fala da paz poder em Moçambique constitui cada vez mais verdade.
O anúncio espalhafatoso de realizações e de largos milhões de dólares de investimento estrangeiro, da China, Índia, Japão, EUA, Coreia do Sul, França, Portugal, África do Sul, da maneira como tudo é conduzido e concretizado concorre para o aumento do fosso entre ricos e pobres neste País. E isso como se sabe é o oxigénio que alimenta os conflitos internos.
Ao fim do dia, no lugar de vermos a consolidação das bases de construção da moçambicanidade, verificamos que tais investimentos servem para enriquecer quem está montado no sistema.
Já deveria estar claro que a relutância de alguns em aceitar acordos que potenciem a estabilidade está plenamente enquadrada no esquema de apropriação indevida e ilícita das possibilidades nacionais quanto ao acesso à riqueza nacional.
Transformar Moçambique numa praça-forte das corporações está servindo para acelerar a desagregação nacional.
Agora surgem informações da possibilidade de pesos pesados da política nacional mediarem as “negociações” entre o governo da Frelimo e a Renamo. Isso embora seja em si uma boa notícia não deve ser motivo de criarmos falsas expectativas. Só uma cultura política qualitativamente diferente da exibida nos dias de hoje poderá levar a que aquela confiança básica se restabeleça.
As partes desavindas terão que recuperar o espírito patriótico essencial pois sem isso continuara a colocar seus interesses de grupo acima da agenda nacional.
Uma das causas do imbróglio de hoje deve ser facilmente encontrada na ditadura do voto em que se transformou o parlamento nacional. Um parlamento que durante seu mandato teve a bancada da maioria seguindo à risca as instruções do executivo e não criou espaço para a emergência de opções legislativas consensuais, pode aparentemente ter fortificado as posições do governo mas contribuiu definitivamente para agudizar as relações entre as partes.
De pacote a pacote legislativo aprovado, ficou a impressão de que a maioria dos deputados agia não como representantes do povo mas como “carimbadores” de decisões tomadas por um executivo omnipresente.
A dança elogiosa e fastidiosa com que os deputados da maioria receberam o líder do executivo e de seu partido mostram claramente a subordinação entorpecente que rodeia e condiciona sua actuação. Chamam-lhe disciplina partidária e outros dirão que é a garantia de um ganha-pão oportuno que de outro modo jamais conseguiriam. É a mediocridade política ao seu mais alto nível. É o servilismo tomando conta de assuntos vitais para todos nós.
Um encontro ao mais alto nível é necessário e desejável desde que as partes se dispam de sua “grandeza” e com humildade reconheçam que cometeram erros graves na abordagem de suas diferenças e considerações políticas.
Com maturidade política que ultrapassa completamente considerações pessoais, egocêntricas e narcisistas, superior a “fidelidade de grupo”, fundamento para um relançamento da agenda nacional e da construção de uma moçambicanidade em que todos se vejam e revejam teremos o processo político caminhando para destinos promissores.
Aquela tecla batida e gasta da “Unidade Nacional” já nada diz e significa para a maioria dos moçambicanos. Ninguém está mais interessado em aldrabices que empobrecem à maioria e enriquecem os que fazem parte da “fauna acompanhante” do núcleo dirigente do país.
Por mais milhões de dólares e armamento militar que chegue ao país, por mais cooperação militar que se estabeleça com países vizinhos e as potências mundiais a realidade mostra que com guerra mesmo que seja de grande intensidade não se produz a paz e a concórdia nacional. O Iraque depois da retirada americana está rapidamente se tornando palco de uma violência sectária de forte intensidade. Sucedem-se ataques bombistas e as lutas intestinas ganham novos contornos que já significam a inviabilização de “sonhados investimentos”.
Tolerar, comparticipar, compartilhar, respeitar, são verbos que temos de aprender a conjugar todos os dias.
O tempo é para um engajamento construtivo aberto a todas as sensibilidades nacionais, valorizando as diferenças e cimentando o que nos une como povo com uma história comum e um destino comum.
Abandonemos os falsos e pretensiosos complexos de superioridade, recusemo-nos a seguir a via da violência fratricida, abracemos um modelo de transparência, justiça, inclusão, equidade.
É preciso não dar a menor oportunidade aos falcões da guerra porque estes querem é derramar sangue inocente ao serviço de seus interesses ignóbeis.
Moçambique deve ser aquele país em que a Paz significa desenvolvimento e humanidade, nação solidária e tolerante.
Há que equilibrar os pratos da “balança nacional” através de actos concretos e palpáveis.
Sem subterfúgios e legalismos paralisantes vamos todos criar espaço para que o verdadeiro diálogo aconteça.
É urgente travar a espiral de violência que está paulatinamente tomando conta do país.
Não se pode alcançar a paz encostando os outros contra a parede nem com ofensivas militares.
Todos os dignitários nacionais, de todos os quadrantes políticos e religiosos têm a responsabilidade inalienável de tudo fazer para que se declare um cessar-fogo imediato e incondicional.
Na Paz e pela Paz não há vencidos nem vencedores…



(Noé Nhantumbo)

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