Monday 27 January 2014

A guerra de hoje é um subproduto da corrupção generalizada

 Mesmo antes da queda do Muro de Berlim e da desagregação da URSS, em Moçambique já pontificavam oligarcas, no sentido de que a política vigente consistia nos ditames de um pequeno grupo de “camaradas” omnipresentes e todo-poderosos.
Chamavam-se a si próprios de membros da Comissão Política herdeira do defunto Bureau Político.
Todo o tipo de decisão vinculativa era tomado a esse nível e ninguém podia actuar fora das linhas definidas como as orientadoras. Não era uma simples superestrutura de um regime centralizado e monolítico, abominando a livre expressão dos cidadãos ou qualquer aspiração de democracia política.
A evolução social e política não é linear e em lugar algum se pode encontrar exemplo de país que tenha singrado e evoluído para estágios de desenvolvimento considerável sem ter experimentado crises, umas fortes e outras mais fracas.
O poder, a sua conquista e exercício pleno, foi sempre uma questão de importância primordial em política.
Na posse de retalhos ideológicos alguns dos moçambicanos que dominavam a arena política se supunham detentores de toda a sabedoria e nessa qualidade os únicos que deveriam governar o país. Esgrimindo argumentos marxistas e leninistas, maoístas e tudo que fosse o campo de seu treinamento e doutrinação prévia, apossaram-se do espaço opinativo e criaram uma cultura geral de obediência e servilismo no país.
Numa combinação a longo prazo, Henry Kissinger, Zhou EnLai, Andrei Gromyko, mas sem concertação prévia, terão moldado as oligarquias de hoje, tanto na China, EUA como na Rússia.
Os comportamentos e procedimentos que transbordaram para Sul não foram senão subprodutos de lutas pela hegemonia que aconteciam a outros níveis.
Não há país sem elite mas o que as elites fazem em cada país difere substancialmente.
Em Moçambique num processo difícil de definir o poder em si sempre esteve em jogo e na esteira disso assassinatos políticos foram promovidos no seio da guerrilha independentista. Outro meio expedito foi a rotulagem política dos adversários de peso como que preparando a sua execução como mais tarde se verificou. A história está repleta de exemplos sinistros e sangrentos. Houve sempre quem agiu e se colocou em posição especial em determinados momentos. Julgar o passado é um exercício em si complexo e susceptível de polémica. Saber situar actos e acontecimentos é papel de líderes na medida em que um deslize por mais pequeno que seja pode levar a emergência de conflitos. Se escrever a história é normalmente função executada pelos vencedores isso não impede que a sua reescrita possa suscitar novos conflitos.
Equilíbrio, capacidade de ponderar e acolher a complexidade da situação tem sido de capital importância e infelizmente muita rara.
Exibindo apetites vorazes e excludentes alguns moçambicanos em posição de liderança entram em aberta linha de choque com o desiderato nacional. O que vale é a sua manifesta agenda de poder e de controlo absoluto. Nesse sentido não conseguiram aprender de seus mentores e mergulham o país aceleradamente numa guerra civil.
Os que aparecem declarando que os insurgentes são sanguinários e contra a paz esquecem-se rapidamente de capítulos tenebrosos da nossa história recente. Não há “guerra santa” nem algo que se pareça.
Toda acção no sentido de cimentar posições oligarcas foi sendo contrariada por moçambicanos tanto a nível individual como ao nível dos partidos da oposição. A aparente cisão entre os oligarcas culturais e intelectuais com os seus pares políticos e económicos é um processo normal decorrente do desenvolvimento de novas sensibilidades. Deve ser vista como um processo de rotura derivado de uma nova conjuntura nacional e internacional.
O fim da anterior guerra civil foi propício para o surgimento de uma corrente avassaladora de lutas pela livre expressão e manifestação. Algum enquadramento legal e legislativo trouxe à superfície todo um potencial que parecia não existente. As elites sentiram o peso disso tudo e puseram-se na defensiva. Comprar órgãos de comunicação social e controlar através dos mecanismos existentes de nomeação de seus gestores de topo, transferências, controlo estreito de todo o aparato do ensino superior e respectivo sistema de concessão de bolsas, foram acções executadas milimetricamente.
A avalanche de comentaristas e analistas ao serviço dos principais canais televisivos e radiofónicos do país mostra claramente outra face desta guerra.
Mediocridade intelectual e académica juntam-se para dar um ar de normalidade que não existe. Os poucos exemplos que contrariam a corrente geral de intoxicação da audiência nacional existem e são de louvar, pois mesmo contrariando as instruções expressas do regime e correndo o perigo de perderem contratos apetitosos de publicidade não desarmam de sua nobre missão.
Num grave momento da história nacional falta uma visão estratégica por parte de governantes influentes, por parte de gente que tem responsabilidades históricas inalienáveis. Empurram o país para o abismo numa atitude suicida incompreensível. Egipto e Líbia, Iraque e RDC ou Costa do Marfim parecem insuficientes para dar uma lição de política aos nossos governantes e políticos.
Gente que foi excluída da mesa dos banquetes oficiais e que caminha sonâmbula pelas cidades esburacadas do país não consegue enxergar a oportunidade de fazer a diferença. Teimosamente bate em teclas enferrujadas.
A Renamo é uma criação da Frelimo no sentido de que seus membros divergiram do que era feito e do que antes havia sido feito. Não tragam o apartheid nem a Rodésia racista ao barulho pois abundam evidências cada vez mais poderosas de que o núcleo dirigente da Frelimo foi sempre controlado pela URSS e seus serviços de inteligência. Quando não era directamente essa tarefa era entregue a terceiros como Cuba, RDA e outros.
O MDM não é o que o coronel na reserva Sérgio Viera quis dizer em sua última entrevista a um semanário de Maputo. Quando ele fala da possibilidade de vingança expressa sentimentos particulares compreensíveis, dado o contexto em que certas operações de eliminação de opositores aconteceram. Sejamos francos, honestos e adultos. Em Moçambique existe um mínimo de organização judicial que não permite que se declare uma ofensiva de vingança contra quem que seja. A barbárie do passado impune e executada ao abrigo de uma “justiça revolucionária” perdeu qualquer possibilidade de reeditar-se nas condições actuais do país. Fique descansado o coronel na reserva e seus companheiros de jornada.
Fiquem também descansados os escribas incansáveis defendendo a liderança da Frelimo. Mesmo que isso se mostre por vezes como forma de garantir a impunidade face a ilícitos cometidos e conhecidos publicamente. Fiquem descansados porque os moçambicanos só querem acabar com a oligarquia e as elites parasitas.
Queremos todos respirar o mesmo ar sem restrições nem controlos de gente que supõem o todo com mais direitos do que todos os outros.
Queremos o fim da “mafias eleitorais” e da manipulação da opinião pública. Queremos o básico, justiça, educação de nossas crianças em carteira e com livros que relatem a verdadeira história do país. Queremos ter acesso a hospitais decentes e com material médico-cirúrgico sem termos que pagar pela porta do cavalo. Queremos acesso a postos de trabalho sem ter que exibir o cartão de membro de partido Frelimo.
Queremos umas FADM e PRM que sejam garantes de nossa soberania e segurança, muito longe do cumprimento de ordens e orientações que debilitam e matam a democracia.
Ilusionismo político e campanhas de endeusamento de figuras humanas só servem projectos de oligarcas durões que atrasam tudo.
Líderes políticos e cívicos, religiosos e empresariais a hora é esta, a oportunidade é esta, hoje e não amanhã.



(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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