Centenas de pessoas manifestaram-se hoje em Maputo contra a caça furtiva de rinocerontes e de elefantes, numa marcha em que se alertou para os impactos deste crescente fenómeno, que a organização da iniciativa assegura estar a "colocar em causa a soberania de Moçambique".
Lusa
Ao início da manhã, várias dezenas de pessoas começaram a reunir-se na avenida Kenneth Kaunda, no centro da capital moçambicana, dando corpo ao cortejo que partiu rumo à baixa da cidade, ladeado por "txopelas" [motociclos de transporte] com cartazes com figuras de rinocerontes e de elefantes.
Já extinto pelo menos na região sul de Moçambique, o rinoceronte tem sido alvo de ataques de caçadores furtivos moçambicanos no Parque Nacional Kruger, da África do Sul, mas pela relação contígua desta reserva com a do Limpopo, de Moçambique, a preservação da espécie é também uma preocupação das autoridades locais.
"Acho que é importante que as gerações futuras conheçam estes animais, que são uma parte importante da nossa biodiversidade e merecem ser protegidos", considerou a jovem sul-africana Alexandra Jetá, defendendo que "cada um deve dar a sua contribuição, seja em donativos, seja em marchas como esta, seja com mais policiamento nos parques" por esta causa.
"É triste vermos os nossos animais serem abatidos", lamentou Lione Chitzungo, assinalando que "uma marcha como esta pode combater o que está a acontecer em Moçambique".
Pelo segundo ano consecutivo, a Marcha pela Preservação dos Rinocerontes e dos Elefantes de Maputo esteve associada a um movimento global, que se assinalou em cerca de 100 cidades, segundo informações dos promotores da iniciativa em Moçambique.
"O ano passado foi o pontapé de saída. Naturalmente, aprendemos as lições, juntamos muitas mais organizações e cidadãos, e as notícias sobre a caça furtiva foram vitais para conseguirmos reunir esta enchente", disse aos jornalistas o ambientalista moçambicano Carlos Serra, da organização.
Enfatizando que objetivo da iniciativa "é colocar o assunto" da caça furtiva "na agenda nacional, porque este é um assunto não apenas da classe política e dirigente, mas de todos os cidadãos", Carlos Serra considerou que o fenómeno representa um "ataque à soberania do país".
"É preciso repensar todo o sistema de fiscalização e entender isto como um assunto de soberania. Aliás, a lei de conservação aprovada este ano tem o princípio de soberania, que está em causa, porque estamos a ser invadidos por caçadores e traficantes. Além dos fiscais e da polícia, temos de colocar no terreno o nosso exército", apelou.
Dados recentes divulgados por organizações de proteção ambiental referem que, em Moçambique, pelo menos quatro elefantes são abatidos todos os dias, "mais de 1500 todos os anos".
A crescente procura de presas de marfim e do corno de rinoceronte em mercados asiáticos, como a China e o Vietname, está na origem do aumento exponencial do fenómeno da caça furtiva em Moçambique, onde, na década de 1970 existiam cerca de 50 mil elefantes, população entretanto reduzida a menos de metade.
Notícias ao Minuto
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