A reacção da Renamo a uma quinta derrota eleitoral é uma das incógnitas do actual processo eleitoral moçambicano, mas também a Frelimo terá muitas dificuldades em contemplar um cenário de derrota, considerou Elisabete Azevedo, investigadora da Chatham House.
"Essa (uma eventual derrota da Renamo) é uma das incógnitas de todo este processo, é o pós eleições, como é que a Renamo reage, se perder, como é que a Renamo reage, se passar a ser o terceiro partido, porque também há essa possibilidade", disse, em entrevista à Lusa, Elisabete Azevedo, pesquisadora da Chatham House, um instituto britânico de reflexão sobre temas de política internacional.
"A Renamo tem homens armados, como também teve nas outras eleições, não se armou só agora, não estamos num fenómeno novo, mas estamos num contexto diferente, isso mantém-se uma preocupação de como é que a Renamo irá reagir e eu adiciono como é que o presidente Afonso Dhakama irá reagir, porque tem 61 anos e é a sua quinta participação eleitoral", observou Azevedo, referindo-se ao braço armado que a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) ainda mantém, desde a assinatura do Acordo Geral de Paz, em 1992.
Para a investigadora, os apoiantes do principal partido da oposição olham para as eleições presidenciais de 15 de Outubro como a grande oportunidade de a força política chegar ao poder e aponta a capacidade de mobilização que o seu líder está a ter na campanha eleitoral como um fator de confiança no triunfo no escrutínio.
"Eu estive nas províncias e os apoiantes da Renamo dizem que 'não podemos voltar a dar a vitória à Frelimo', uma pressão por parte das bases da Renamo de 'já chega'", assinalou Elisabete Azevedo.
Sobre as enchentes que os comícios de Afonso Dhlakama estão a registar, principalmente no centro do país, a pesquisadora diz que sinalizam a recuperação de um eleitorado que nas votações anteriores apoiou a Renamo na região.
"A Renamo, mesmo que tenha perdido eleitorado, sempre teve uma base de apoio fortíssima, é um despertar quase de um apoio que já existiu. Temos de perceber que estes meses que o presidente Dhlakama voltou à Gorongosa, para um jovem que tenha 20 anos, moçambicano, foi o momento em que ele realmente é herói", notou Elisabete Azevedo, referindo-se ao regresso do líder da Renamo à região que acolheu as principais bases do movimento durante a guerra civil moçambicana.
Para a investigadora, a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder, não contempla um cenário de derrota, pelo avultado investimento que fez na campanha eleitoral, pelos cerca de 40 anos de governação e pelo efeito de contágio que um eventual fracasso teria para outros movimentos de libertação da África Austral.
"Eu acho que a Frelimo tem muita dificuldade em perceber um cenário em que não são os vencedores e vê-se pela maneira como o país está todo de vermelho, depois até de um investimento destes e da experiencia de governação e dos anos todos que dizem que governaram, seria muito difícil para a Frelimo", declarou Elisabete Azevedo.
"E também não podemos esquecer de outros partidos de libertação na região, que também estão a olhar para a Frelimo, seria um efeito de contágio para outros movimentos de libertação na África Austral", acrescentou .
Em relação ao Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido, a investigadora da Chatham House considerou que o partido está a fazer uma campanha dentro da estratégia normal de uma organização com apenas cinco anos de existência e sem os recursos dos dois principais partidos moçambicanos.
"Por parte do MDM, eu penso que eles têm uma estratégia, até porque têm menos recursos, incluindo não ter aviões como os outros dois candidatos, é muito mais de presença nas províncias, ir a cantos, o que também é interessante", sublinhou Elisabete Azevedo.
Moçambique realiza eleições gerais (presidenciais, legislativas e assembleias provinciais) a 15 de Outubro.
Lusa
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