Tuesday, 3 May 2011

O troféu Bin Laden para Barack Obama

Para Obama, este pode ser verdadeiramente o facto pelo qual vai ficar na história - com credenciais à prova de bala

O presidente americano mais indefinido desde Jimmy Carter deve ter assegurado ontem a sua reeleição, em 2012, ao anunciar a morte de Bin Laden. Para os americanos, esse troféu marcante só não será decisivo se o desempenho da economia for muito pior do que as expectativas permitem perceber. E mesmo assim...
Este êxito militar americano, conduzido por uma unidade da marinha (Navy Seals) numa operação que envolveu muita gente, é do tipo denominado no jargão da CIA pelos três F ("find, fix, finish"), algo como "encontrar, pôr na mira e matar". Dez anos depois, aquele que corporizava a própria ameaça do terrorismo depois do hediondo atentado das Torres Gémeas, foi eliminado. Não teria já grande poder sobre a organização que criou, deixou alguns seguidores, a sua eliminação cria ameaças evidentes de retaliação nos tempos mais próximos, mas para os americanos os bons venceram finalmente os maus.
Esta notícia extraordinária aparece no meio dos acontecimentos a que chamam a primavera árabe, que ainda não chegou a verão (se o regime sírio de Bashar Assad caísse, talvez se mudasse de estação). Há ventos novos entre os árabes, por muito que as revoluções na Tunísia e no Egipto ainda possam vir a ser capturadas por extremistas. Mas a verdade é que os dados até agora apontam para a emergência de uma corrente nova no povo árabe, mais jovem, que quer, como todos nós, europeus, aceitamos, uma sociedade mais livre, com mais direitos e com mais igualdade de oportunidades. Mais democrática e com menos ditadores.
Bin Laden morreu na fronteira AfPak, entre o Afeganistão e o Paquistão, longe até do Médio Oriente onde se tornou um herói (depois de, é bom não esquecer, ter sido aliado dos americanos para expulsar os soviéticos do Afeganistão).
Nada disto é verdadeiramente obra de Barack Hussein Obama, um homem que a parte mais estúpida da direita americana andou a querer provar que era muçulmano. Mas é ele que exibe agora o grande troféu que a direita e George W. Bush tanto ambicionaram. Os acontecimentos mudam, quantas vezes, os destinos dos políticos. Para Obama este pode ser verdadeiramente o facto pelo qual vai ficar na história - credenciais à prova de bala.

Manuel Queiroz, ionline

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