Friday 11 November 2016

Dhlakama acusa Governo e Frelimo de atrasar negociações de paz em Moçambique

Maputo, 11 nov (Lusa) - O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, acusou o Governo moçambicano e a Frelimo, partido no poder, de não responder às suas propostas e dos mediadores nas negociações de paz, adiando um acordo que já podia ter sido alcançado.
"Pelos vistos, as coisas estão a andar devagar", afirmou Dhlakama em declarações por telefone à Lusa, manifestando preocupação por as suas propostas e da mediação internacional permanecerem sem resposta, nomeadamente sobre a governação do maior partido de oposição em seis províncias: "A Renamo já respondeu a tudo aquilo. Tudo, tudo, tudo, e a Frelimo diz que está a analisar".
Governo e Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) deveriam ter voltado ao diálogo na presença dos mediadores internacionais na quinta-feira, depois de duas semanas de pausa, mas, em dia de feriado em Maputo, não foi dado a conhecer qualquer encontro.
Dhlakama referiu que, no início das negociações, esperava ter um "acordo definitivo" até setembro ou outubro, mas há um mês, em declarações à Lusa, remeteu o prazo para o final de novembro.
Além da exigência do maior partido de oposição de governar nas seis províncias onde reivindica vitória eleitoral, o presidente da Renamo disse já ter entregado propostas à mediação sobre os outros assuntos de agenda, como a reestruturação das forças armadas e integração dos homens armados do seu partido.
"Já entregámos os mapas, onde os nossos estão, onde os da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique] estão sozinhos, para o equilíbrio das forças armadas, mas até agora não há resposta por parte do Governo da Frelimo", declarou Dhlakama, que espera, do próximo ciclo negocial, "pressão" para que a contraparte "traga uma resposta positiva".
O presidente da Renamo, que se presume encontrar-se desde o final do ano passado na serra da Gorongosa, centro do país, insistiu na exigência da governação em seis províncias do país e que os seus homens armados sejam integrados, ao abrigo do Acordo Geral de Paz, assinado em Roma, em 1992.
"Não é desenterrar o Acordo de Roma, mas corrigir aquilo que foi violado", sustentou, reiterando que o atual conflito "é originado pela falta de se cumprir com aquilo que se acordou" há 24 anos.
As negociações de paz em Moçambique têm sido abaladas por denúncias cruzadas de raptos e homicídios de dirigentes das duas partes, de que se destacou o assassínio de Jeremias Pondeca, membro da delegação da Renamo na comissão mista e conselheiro de Estado, no início de outubro, em Maputo.
O crime não parou as conversações de paz, mas Dhlakama refere que os raptos e homicídios de membros do seu partido têm aumentado.
"A Frelimo, nos últimos meses, dias, semanas, intensifica o rapto dos nossos quadros, em todas as províncias. Já não só é em Manica e Sofala, mesmo em Tete e Zambézia e Nampula", acusou.
O presidente da Renamo descreveu que, em Nampula, são alvejados delegados distritais e das localidades, "uns a serem apanhados nas noites, amarrados e com lenços pretos, carregados para distâncias de cem a 150 quilómetros e depois apanhados os corpos sem vida".
Para Dhlakama, são "coisas horríveis", superiores ao que o colonialismo fez, "mais do que o terrorismo condenado internacionalmente" e ainda mais do que foi feito nas administrações anteriores da Frelimo.
"O que está a acontecer aqui, com esta administração de Nyusi, não sei onde apanhou, porque no tempo de Samora Machel, mesmo de Chissano e Guebuza - que tiveram os seus erros, do comunismo e tudo, má governação -, mas estas coisas de planificar e apanhar alguém, homens e mulheres, porque têm cartão da Renamo, isso é só na administração de Nyusi e não sabemos como quer terminar", sustentou.
O centro e norte de Moçambique têm sido atingidos por instabilidade política e militar, motivada pela recusa da Renamo em aceitar os resultados das eleições gerais de 2014.
Apesar da violência política, as partes mantêm conversações de paz em Maputo.

 

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