Rapto, prisão, ajuste de contas ou fuga?
A primeira leitura popular sobre o desaparecimento, na passada quarta-feira, do empresário moçambicano Momad Bachir Sulemane, vulgo MBS, foi a de que ele havia sido raptado por criminosos à solta que, dias depois, exigiriam à família um resgate para a sua soltura. Cinco dias depois, a família ainda não foi contactada pelos “raptores” e a Polícia moçambicana não tem pistas sobre o paradeiro de Bachir, embora o Comando Geral da Polícia tenha accionado “todos os meios” para se conseguir localizar o empresário, que também é um dos principais financiadores das campanhas eleitorais do Partido Frelimo. Ontem, na TVM, um porta-voz da Polícia dizia que a corporação estava a trabalhar no assunto.
No quadro do modus operandis que caracteriza a indústria do rapto em Moçambique, que cresceu violentamente nos últimos 3 anos, os raptores já teriam feito um tal contacto (por regra, fazem-no até 48 horas depois). Como isso ainda não aconteceu, adensam suspeitas de que MBS possa ter sido vítima de um outro tipo de operação. A edição online de domingo do Mumbai Mirror, editado na Indía, carrega uma reportagem, assinada por Nazia Sayed, onde o nome de MBS vem referido como tendo encomendandoa “eliminaçao” de Vivek Goswami, alegadamente um arqui-rival seu no mundo do tráfico de droga.
Goswami foi detido na semana passada pela Polícia queniana, juntamente com sua mulher Mamta Kulkami, uma antiga estrela da Bollywood, numa operação que envolveu elementos da agência de combate à droga dos Estados Unidos, a Drug Enforcement Agency, conhecida por DEA. Goswami é um conhecido barão da droga que cumpriu 15 anos de prisão em Dubai por tráfico de mandrax para aquele país. Foi libertado após cumprir metade da pena, depois de uma condenação de 25 anos.
Para além de Goswami, foram também presos um barão queniano de nome Barakat Akasha e um paquistanês de no Ghulam Hussein. O jornal queniano que fez a grande relevação na semana passada indicava que a detenção dos três traficantes mais a mulher de Vivek foi possível graças a uma denúncia feita à Polícia queniana por Dawood Ibrahim, chefão de um grande sindicato da droga denominado pela INTERPOL assim mesmo: Sindicato Dawood Ibrahim. O Mumbai Mirror escreve que Vivek Goswami é uma pessoa chegada de um outro traficante de nome Chota Rajan, rival de Dawood Ibrahim. E aponta-se que o grupo detido era rival “de um outro barão da droga africano, de nome Momade Bachi Suleman, conhecido popularmente por MBS”.
A imprensa queniana levantou uma suspeita sobre as razões que levaram Dawood a denunciar o grupo:”Dawood e MBS fizeram um plano para se livrarem dos seus rivais e por isso forneceram detalhes à polícia queniana, que actuou juntamente com o DEA”. As recentes detenções no Quénia ocorreram em Nyali, Mombassa, na residência de Akaash. Todos foram acusados de tráfico de drogas no Quénia e nos EUA. Goswami investiu muito do dinheiro do tráfico em imobiliária e indústria hoteleira.
As detenções no Quénia ocorreram dias antes do desaparecimento de MBS em Maputo. Ontem, a Voz da América estabelecia uma ligação entre o desaparecimento de MBS e as detenções no Quénia. Todavia, de acordo com um parecer obtido pelo mediaFAX de uma fonte relevante, essa ligação ainda é forçada uma vez que as detenções no Quénia foram feitas com mandado judicial e a Polícia confirmou essa operação e a sua colaboração com o DEA.
No caso de MBS, e mesmo depois de a Casa Branca ter colocado o empresário numa lista de barões de droga, para as autoridades moçambicanas Bashir foi sempre um homem “limpo e íntegro” tanto mais que em Setembro último ele sentou-se na mesa de honra do agora presidente-eleito Filipe Nyusi, num jantar de angariação de fundos do Partido Frelimo. Estão, no entanto, a circular leituras segundo as quais, por causa de uma profunda descrença nas autoridades moçambicanas e porque MBS continua a gozar da protecção ao mais alto nível do Partido Frelimo, operativos americanos tenham detido o empresário sem um aval da Policia local. Como se sabe, os Estados Unidos, a 2 de Junho de 2010, colocaram o empresário moçambicano numa lista de barões da droga afirmando que ele liderava uma bem financiada rede de tráfico de drogas e de lavagem de dinheiro em Moçambique.
Com as detenções no Quénia e em face do alegado papel de MBS na denúncia da rede desmantelada começa também a circular a alegação de que o empresário tenha sido vítima de um ajuste de contas. Ou, como também se alega, tratou de uma “fuga” para um esconderijo seguro, suscitada pelas detenções no Quénia? O caso ainda vai fazer correr muita tinta. Mas, ontem, na sua entrevista a TVM, porta-voz da PRM que deu a entrevista, Orlando Mudumane, disse que a corporação já estava no encalço dos raptores mas a sua expressão facial era a de um polícia que falava sem convicção.
(Marcelo Mosse, in MediaFAX de 18 de Novembro de 2014)
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