Como se organiza uma fraude eleitoral
A essência de uma fraude consiste em negar a sua existência. Uma fraude que aceitasse declarar-se a si mesma como fraude seria a negação do próprio conceito de fraude.
Uma fraude eleitoral completa é constituída por uma fase preliminar, seguida de três fases efectivas. A fase preliminar é a das condições prévias. A primeira fase efectiva é pré-eleitoral. A segunda fase é o processo de votação. A terceira fase é pós-eleitoral.
A fase do processo de votação pode até ser a parte menor da fraude. A viciação de editais e a falsificação dos resultados, por exemplo, ocorrem na terceira fase (pós-eleitoral), depois de os representantes dos interesses neocoloniais, mascarados de “observadores”, terem cumprido a sua missão de proclamarem apressadamente que a fraude foi “pacífica, livre, justa e transparente”.
O que a seguir se descreve é apenas uma hipótese imaginária, e não o caso concreto de algum país, e muito menos de um país que tenha sido declarado oficialmente livre da existência de fraudes.
Na fase preliminar, a condição prévia para organizar a fraude é a inexistência de uma força policial como instituição do Estado, por ter sido transformada em milícia armada privada, pertencente ao partido no poder.
Sendo assim, não se percebe como é que algum concorrente eleitoral, que exija paridade na composição das forças policiais, aceite participar numas eleições que se realizam subordinadas ao poder armado do partido que aniquilou o Estado. O único entendimento possível é que haja quem gosta de concorrer para perder.
O segundo factor das condições prévias da fraude é a abolição dos órgãos de comunicação públicos e a sua transformação em órgãos de propaganda do partido no poder.
Na primeira fase (pré-eleitoral), o primeiro passo consiste em fazer fraude na nomeação do chefe da instituição nacional de eleições. E o simples facto de este aceitar ser nomeado de forma fraudulenta é elucidativo sobre a sua idoneidade.
O segundo passo ocorre no período do recenseamento e consiste em evitar que se recenseie o maior número possível de cidadãos nas zonas consideradas adversas. É por isso que os agentes da fraude, mascarados de analistas, devidamente instruídos, depois repetem com insistência que as multidões presentes nos comícios da oposição não representam votos. Eles sabem muito bem que alguns milhares daqueles cidadãos já ficaram excluídos do recenseamento.
Quanto à campanha eleitoral, organiza-se a fraude em três níveis: começar a campanha antes do prazo; utilizar um órgão de soberania – Presidente da República – para fazer a campanha eleitoral partidária de um candidato; utilizar organizações religiosas para darem ordens de orientação de voto aos seus seguidores.
Quando um Presidente da República percorre um país para apresentar, não um “candidato” mas, sim, um “sucessor”, entra-se no domínio da manipulação psicológica. Na mente de milhares de eleitores vítimas de pouca ou nenhuma instrução escolar, a pergunta implícita no boletim de voto – “Qual destes escolhe para ser Presidente da República?” – pode transformar-se numa pergunta nos seguintes termos: “Qual destes foi nomeado como sucessor pelo Presidente da República?”. Para esses eleitores, o processo consiste, então, em dar a “resposta certa”.
Por isso, durante a campanha eleitoral, será usada com insistência a expressão “Vota certo”, que é uma outra forma de dizer “Acerta na resposta!”. Este é um mecanismo básico de manipulação psicológica, que é bem conhecido pelos especialistas assessores que planeiam e executam a fraude.
O outro passo da fraude consiste em ir fazer campanha eleitoral junto de Governos estrangeiros, já que são estes os “eleitores” que decidem as eleições e que, mais tarde, enviarão os seus “observadores” para carimbarem a fraude.
Na segunda fase, aplica-se o mesmo procedimento que já foi executado durante o recenseamento, e que consiste em eliminar da votação o maior número possível de eleitores nas regiões consideradas favoráveis à oposição. O procedimento mais elementar consiste em abrir as Assembleias de Voto o mais tarde possível, para não dar tempo para que votem todos os que desejam. Junta-se a isso o procedimento de transviar cadernos eleitorais.
Na terceira fase (pós-eleitoral), em menos de quarenta e oito horas após o encerramento das urnas, entra em acção um grupo de choque constituído por três equipas, com as seguintes designações: “Observadores”, “Analistas” e “Sociedade civil”.
Uma parte da equipa dos “Observadores” é constituída por representantes de organizações (de dimensão regional ou continental) que não são mais do que clubes de ditadores milionários. A outra parte é constituída por representantes de países que são a sede das corporações que transformaram os dirigentes do partido do poder em accionistas milionários (a custo zero para estes), a fim de essas corporações garantirem o seu livre acesso à pilhagem dos recursos naturais.
Quanto aos “Analistas”, a sua missão na execução da fraude consiste em entoar a velha canção de um disco já muito riscado: “Apesar de algumas irregularidades, pátátí… pátátá…”.
A equipa designada “Sociedade civil” é constituída maioritariamente por funcionários de organizações em que auferem confortáveis salários, que são pagos com financiamentos fornecidos pelos mesmos que enviam os “Observadores”, por isso fica tudo entre amigos, e a sua lengalenga não difere muito da ladainha dos “Analistas”.
Por outro lado, apresentar na televisão “notáveis” organizadores da fraude a proclamarem que “na verdade, as eleições foram livres, justas e transparentes” só pode provocar uma gargalhada perante tamanha palhaçada.
Para fechar o processo com chave-de-ouro, é aconselhável ter como ”homologador” dos resultados alguém que seja um membro do partido no poder, que já tenha sido inclusivamente deputado desse partido, e que tenha sido sócio empresarial do chefe desse mesmo partido.
E assim fica completo o exemplar cenário da democracia para “africanos”, para não dizer outra coisa. Seja como for, o factor determinante é que os Governos e as corporações dos países exportadores de automóveis de luxo para os mercados onde vigora a democracia para “africanos” – caracterizada por milhões de pessoas a viverem na miséria –, e que financiam os compradores desses automóveis, jamais permitirão outro tipo de democracia. Em resumo, o neocolonialismo democrático é o supra-sumo da fraude perfeita.
(Afonso dos Santos, Canalmoz)
Uma fraude eleitoral completa é constituída por uma fase preliminar, seguida de três fases efectivas. A fase preliminar é a das condições prévias. A primeira fase efectiva é pré-eleitoral. A segunda fase é o processo de votação. A terceira fase é pós-eleitoral.
A fase do processo de votação pode até ser a parte menor da fraude. A viciação de editais e a falsificação dos resultados, por exemplo, ocorrem na terceira fase (pós-eleitoral), depois de os representantes dos interesses neocoloniais, mascarados de “observadores”, terem cumprido a sua missão de proclamarem apressadamente que a fraude foi “pacífica, livre, justa e transparente”.
O que a seguir se descreve é apenas uma hipótese imaginária, e não o caso concreto de algum país, e muito menos de um país que tenha sido declarado oficialmente livre da existência de fraudes.
Na fase preliminar, a condição prévia para organizar a fraude é a inexistência de uma força policial como instituição do Estado, por ter sido transformada em milícia armada privada, pertencente ao partido no poder.
Sendo assim, não se percebe como é que algum concorrente eleitoral, que exija paridade na composição das forças policiais, aceite participar numas eleições que se realizam subordinadas ao poder armado do partido que aniquilou o Estado. O único entendimento possível é que haja quem gosta de concorrer para perder.
O segundo factor das condições prévias da fraude é a abolição dos órgãos de comunicação públicos e a sua transformação em órgãos de propaganda do partido no poder.
Na primeira fase (pré-eleitoral), o primeiro passo consiste em fazer fraude na nomeação do chefe da instituição nacional de eleições. E o simples facto de este aceitar ser nomeado de forma fraudulenta é elucidativo sobre a sua idoneidade.
O segundo passo ocorre no período do recenseamento e consiste em evitar que se recenseie o maior número possível de cidadãos nas zonas consideradas adversas. É por isso que os agentes da fraude, mascarados de analistas, devidamente instruídos, depois repetem com insistência que as multidões presentes nos comícios da oposição não representam votos. Eles sabem muito bem que alguns milhares daqueles cidadãos já ficaram excluídos do recenseamento.
Quanto à campanha eleitoral, organiza-se a fraude em três níveis: começar a campanha antes do prazo; utilizar um órgão de soberania – Presidente da República – para fazer a campanha eleitoral partidária de um candidato; utilizar organizações religiosas para darem ordens de orientação de voto aos seus seguidores.
Quando um Presidente da República percorre um país para apresentar, não um “candidato” mas, sim, um “sucessor”, entra-se no domínio da manipulação psicológica. Na mente de milhares de eleitores vítimas de pouca ou nenhuma instrução escolar, a pergunta implícita no boletim de voto – “Qual destes escolhe para ser Presidente da República?” – pode transformar-se numa pergunta nos seguintes termos: “Qual destes foi nomeado como sucessor pelo Presidente da República?”. Para esses eleitores, o processo consiste, então, em dar a “resposta certa”.
Por isso, durante a campanha eleitoral, será usada com insistência a expressão “Vota certo”, que é uma outra forma de dizer “Acerta na resposta!”. Este é um mecanismo básico de manipulação psicológica, que é bem conhecido pelos especialistas assessores que planeiam e executam a fraude.
O outro passo da fraude consiste em ir fazer campanha eleitoral junto de Governos estrangeiros, já que são estes os “eleitores” que decidem as eleições e que, mais tarde, enviarão os seus “observadores” para carimbarem a fraude.
Na segunda fase, aplica-se o mesmo procedimento que já foi executado durante o recenseamento, e que consiste em eliminar da votação o maior número possível de eleitores nas regiões consideradas favoráveis à oposição. O procedimento mais elementar consiste em abrir as Assembleias de Voto o mais tarde possível, para não dar tempo para que votem todos os que desejam. Junta-se a isso o procedimento de transviar cadernos eleitorais.
Na terceira fase (pós-eleitoral), em menos de quarenta e oito horas após o encerramento das urnas, entra em acção um grupo de choque constituído por três equipas, com as seguintes designações: “Observadores”, “Analistas” e “Sociedade civil”.
Uma parte da equipa dos “Observadores” é constituída por representantes de organizações (de dimensão regional ou continental) que não são mais do que clubes de ditadores milionários. A outra parte é constituída por representantes de países que são a sede das corporações que transformaram os dirigentes do partido do poder em accionistas milionários (a custo zero para estes), a fim de essas corporações garantirem o seu livre acesso à pilhagem dos recursos naturais.
Quanto aos “Analistas”, a sua missão na execução da fraude consiste em entoar a velha canção de um disco já muito riscado: “Apesar de algumas irregularidades, pátátí… pátátá…”.
A equipa designada “Sociedade civil” é constituída maioritariamente por funcionários de organizações em que auferem confortáveis salários, que são pagos com financiamentos fornecidos pelos mesmos que enviam os “Observadores”, por isso fica tudo entre amigos, e a sua lengalenga não difere muito da ladainha dos “Analistas”.
Por outro lado, apresentar na televisão “notáveis” organizadores da fraude a proclamarem que “na verdade, as eleições foram livres, justas e transparentes” só pode provocar uma gargalhada perante tamanha palhaçada.
Para fechar o processo com chave-de-ouro, é aconselhável ter como ”homologador” dos resultados alguém que seja um membro do partido no poder, que já tenha sido inclusivamente deputado desse partido, e que tenha sido sócio empresarial do chefe desse mesmo partido.
E assim fica completo o exemplar cenário da democracia para “africanos”, para não dizer outra coisa. Seja como for, o factor determinante é que os Governos e as corporações dos países exportadores de automóveis de luxo para os mercados onde vigora a democracia para “africanos” – caracterizada por milhões de pessoas a viverem na miséria –, e que financiam os compradores desses automóveis, jamais permitirão outro tipo de democracia. Em resumo, o neocolonialismo democrático é o supra-sumo da fraude perfeita.
(Afonso dos Santos, Canalmoz)
No comments:
Post a Comment