Saturday 22 June 2013

"Resta agora fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que esta loucura pare o mais rapidamente possível"

Olá Joaquim
Espero que estejas de saúde. Do meu lado tudo bem.
O que não está nada bem é a situação do nosso país.
Depois da declaração do brigadeiro Jerónimo Malagueta, segundo o qual a Renamo vai cortar, a partir de 20 de Junho, a circulação na Estrada Nacional n.º 1 e na linha férrea de Moatize para a Beira, pode-se dizer que voltámos a estar em guerra civil. O que, como podes imaginar, é péssimo.
E, embora o brigadeiro Malagueta tenha negado a autoria da Renamo no assalto ao paiol de Savane, eu creio que a guerra começou, de facto, com esse acto.
Resta agora fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que esta loucura pare o mais rapidamente possível.
Mas tenho que dizer que tenho poucas esperanças de que isso vá acontecer, devido a tudo o que se foi passando nos últimos meses.
Desde Setembro do ano passado, quando a direcção da Renamo se reuniu em Quelimane, que foi visível uma mudança importante no interior daquele partido, com perda de força da ala política, representada por Afonso Dhlakama, e crescimento de protagonismo da ala militar, nomeadamente os ex-generais da guerra dos 16 anos. É nessa altura que se passa a colocar claramente as exigências de que o Governo negoceie, seriamente, uma série de reivindicações, sob pena de se voltar à guerra.
E muitos de nós alertámos para o grave risco para a paz que representava a posição de total intransigência do Executivo de Armando Guebuza.
Foram muitos e repetidos os avisos que, no entanto, parecem ter caído em orelhas moucas. E o resultado é termos chegado à situação a que chegámos.
Será que agora, com a pressão militar no terreno, as negociações entre o Governo e a Renamo vão, finalmente, começar a dar resultados? Ou será que vai continuar o diálogo de surdos? E, neste segundo caso, vai haver derramamento de sangue dos moçambicanos e o caos na nossa economia?
Creio que é altura de a sociedade civil se levantar, em peso, para exigir responsabilidade a quem parece não ter nenhuma. Dos dois lados do conflito.
Não podemos permitir que políticos medíocres e incompetentes arrastem o país para o desastre devido a ganâncias, pessoais e de grupo, por um lado, e reivindicações incompetentemente geridas, por outro.
O partido Frelimo, apesar de todas as transformações e deformações por que passou, tem gente séria no seu interior e deve mobilizar-se para fazer a sua direcção parar com o actual desgoverno.
A Renamo tem uma ala política que raciocina e toma posições sem ser apenas pegar em armas e colocar os dedos nos gatilhos.
São esses quem deve falar neste momento.
Não os falcões dos dois lados. Quando aparece um responsavel pela informação de um partido que é, ao mesmo tempo, um brigadeiro, as coisas foram claramente longe de mais.
Apesar dos dois protagonistas do problema e, se necessário, contra os dois, a sociedade civil tem que fazer parar isto.
Um abraço para ti do

Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 21.06.2013, citado no Moçambique para todos

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