Wednesday 7 January 2009

Quadra festiva passou ficou a nossa pobreza



Mais uma vez passou, o período em que o Homem de propósito criou para se enganar, de festas, durante o qual não parece o mesmo que todos os dias luta incessantemente contra as vicissitudes que a vida lhe coloca no dia-a-dia, em razão de, no nosso caso, pertencer a um país pobre, cujo dia-a-dia, é tentar lutar para que seja possível conseguir pelo menos duas refeições.O homem que em cada dia não sabe o que vai ser o jantar, já que o mata-bicho dispensou(?) e o almoço aconteceu algures numa barraca. Durante quase duas semanas estava relativamente abastado. Teve todos os mata-bichos, introduziu o pequeno almoço, almoçou todos os dias e os jantares foram à hora e perante toda a família, como gostaria de fazer todos os dias, não fosse pobre, em consequência de pertencer a um país, outrossim, pobre em absoluto.

Um país que ele, mais alguns outros, não ajuda a desenvolver, mudando a sua atitude perante o trabalho, produzindo mais e com produtividade, tirando-se do subemprego, fazendo coisas suas para resolver os seus problemas, e assim, diminuindo o número daqueles que só dependem do que o Estado mal consegue.

Que os seus dirigentes políticos e governativos, os operadores económicos, não ajudam a desenvolver porque metidos em teias de favoritismos, nepotismo, “primeiroeurismo”, enfim, duma corrupção que produz mais e deveras desenvolvida do que produzem todos os esforços dos não-corruptos, contra toda a generosidade, espírito trabalhador e humildade do nosso povo. É uma teia que parte, inclusive, dos doadores, que foram responsáveis por também ensinar como se rouba ao povo através dos “perdiens”, ajudas de custo, honorários, despesas de representação, palavras que o vocabulário moçambicano não tinha…

Então, o homem durante duas semanas enganou-se que tinha melhorado a sua vida, com o advento do décimo terceiro salário, depois de, de propósito, o seu salário de Dezembro ter vindo muito cedo, que nos outros 11 meses, vem sempre atrasado. Assim adquiriu produtos e bens cujos valores se situam muito acima da sua média e das capacidades reais individuais. Comeu por um dia um frango, e não por mês! Comeu três frangos no Natal e cinco na passagem do ano. Não “batia” uma média por dia nas barracas, como faz normalmente, havia levantado dez caixas de cerveja para casa.

O vizinho que não poderia ser o mais-mais, ao mandar matar um cabrito, recebeu a resposta do outro com entrada no seu quintal, de uma perna de vaca e alguns galos “macuas” a fazerem barulho de propósito, apenas para que chamassem à atenção da vizinhança. Foram dias de opulência(?), digamos, abastança postiça…

Mas já depois da festa do Natal, havia sinais de que nem todos se aguentariam na passagem do ano. É que a coincidência de termos tido 9 dias de ócio, em resultado do posicionamento dos dias festivos no calendário da semana laboral, criou condições para mais consumo e gastos desnecessários, aí os bolsos, há muito furados, nem sequer conseguiram travar a mola, que foi caindo, sem nenhum controlo.

Talvez por aí se possa entender a razão porque na passagem do ano houve muita violência doméstica e inter-familiar na cidade de Pemba. Se na quadra natalícia registaram-se nove casos de agressões físicas, esse número subiu para 23 na viragem de 2008 para 2009. Não foram agressões na rua, mas sim, em círculos familiares e de amigos, algumas das quais, graves, como seja, traumatismos sérios, incluindo alguém que pôs fora todas as tripas de um parente, por meio duma faca!...

É que as expectativas na passagem do ano não ficaram satisfeitas, a mudança de opulência, durante o Natal, para a pobreza na passagem do ano, num curto espaço de tempo, foi violenta. As acusações subiram de tom, do jeito “ houve algum desvio de aplicação” que poderia haver outras casas financiadas para a festa ou que alguém foi apanhado a oferecer uma prenda a uma pessoa estranha da família e daí a razão do fraco cabaz, para o fim do ano.

Houve telefones celulares pilados ou ameaçados de pilar, culpados de conterem mensagens que poderiam estar por detrás da fraca assistência à casa, do tipo “amor, a minha viagem é já amanhã” ou “ obrigado por tudo que me proporcionaste durante o ano que está a terminar e espero que continuemos assim em 2009” ou ainda “ sem você a minha vida em 2008, seria em vão, obrigado pela ajuda…”

Quando visto o facto de todas as 23 agressões sérias terem se registado das 4 às 7 horas, fica-nos a sensação de que as pessoas prolongaram as suas desinteligências, aguentaram durante longo período da noite e os ânimos elevaram-se já à madrugada, quando na falta de cerveja já se recorreria a “Royal”, Tentação, na falta do Barone, se alinhara com Barão, no lugar do Nederburg, se decidiu pelo Tintão, etc.

Hoje é 3 de Janeiro, desde dia 1 que a alegria desapareceu das casas, apesar de termos tido mais três dias reservados ao barulho festivo. A música foi-se, e como, volto a citar o meu falecido amigo, o musicólogo e antropólogo cultural, Aveni Awendila, a “alegria é que manda”, a disciplina forçada voltou a ocupar o seu lugar.

Sendo Janeiro, mais um mês de 31 dias, tendo em conta a nossa capacidade de nos enganarmos facilmente e assim gastamos para cima do que podemos e porque se não se pode morrer de fome, prevê-se um cenário em que cada um de nós vai contrair dívida aonde achar melhor. E como quem tem dinheiro neste país de pobres é geralmente gente desonesta, teremos que nos ajoelhar junto aos corruptos para nos salvarem da ressaca infeliz das festas do Natal e Fim do Ano. E para alguns casos, voltar-se-á a espreitar o bolso estatal, não para salvar a maioria, mas para retomar o ciclo vicioso de alimentação da corrupção…assim até ao fim deste ano.

Na verdade, as festas lá se foram, o ambiente de opulência e abastança postiça já se foi, vamos gerir a consequência da quadra festiva, quer dizer, voltamos a ficar como na verdade somos, pobres!

PEDRO NACUO, em Notícias de 03/01/09.

4 comments:

Ximbitane said...

Pois é, a pobreza voltou. Agora é hora das cobranças, das contas, matriculas, material, fardamento,... falta um pouco só para voltar ao chapa de toda uma familia. Uf, estamos em 2009!

Jorge Saiete said...

alo companheiro, bem vindo ao 2009.
Olha, Pedro Nacuo, resumiu tudo em 2pavrinhas: abastança postiça… eu que vivo num bairro pobre, assisti ao vivo quão a pobreza interna nos sufoca. Quem nada tem, é quem mais se preocupa pela riqueza postiça, gasta até o que não tem. tamos mal.
abraço

JOSÉ said...

Aos meus irmãos Ximbi e Jorge, boas entradas.
Janeiro é mesmo um mês muito difícil depois dos excessos de Dezembro em que as pessoas gostam de criar uma ilusão de abastança.
Porém, este excelente artigo inserido no Notícias levanta outras questões pertinentes, por exemplo, a falta de produtividade, a corrupção e a atitude nefasta dos dirigentes, operadores económicos e doadores.
Forte abraço a ambos, na esperança de um ano melhor.

Anonymous said...

``waq1O senhor conhecia o meu pae?