Monday, 5 January 2009

2009 PODE MUITO BEM SER O ANO DA VIRAGEM…

Importa ter a capacidade de fazer a leitura adequada ao momento e agir em conformidade sem ter receios de ofender A ou B. O momento é de tal gravidade que se impõe que cada cidadão assuma com integridade essa qualidade. O ano promete se nós quisermos fazer o país mudar realmente. Os moçambicanos estão ansiosos de ver emergir uma liderança que substitua de maneira inequívoca uma classe política que se apresenta cansada e sem alternativas para lidar com os assuntos nacionais mais prementes. Porque as verdadeiras bases estão acordando da longa letargia; porque os moçambicanos estão aprendendo a conhecer os políticos que têm; porque os resultados da governação não coincidem com o que os actuais governantes não se cansam de propagandear; porque as condições reais de vida dos moçambicanos não correspondem ao que se diz; porque efectivamente os moçambicanos estão se tornando adultos e exigentes para consigo próprios e exigindo uma demarcação clara entre governar e servir-se das posições governamentais, julgo que 2009 tem muito a oferecer aos moçambicanos. À classe política que temos cabe fazer tudo o que se mostra necessário para devolver dignidade e respeito para com eles e para com a governação deste país. Mas, este bico-de-obra tem de ser realizado e não só falado e prometido repetidamente. Os cidadãos estão fartos de promessas. Querem resultados. O país está farto de ser enganado e estamos suficientemente falados. Urge trazer normalidade para a vida pública, respeito e honra. Por aí passa o que o país tem de realizar antes de se avançar para declarações de intenções sobre combates à pobreza ou contra a corrupção. Moçambique pode superar e ultrapassar os travões e constrangimentos à realização plena do que falta aos seus cidadãos. Basta que realmente os cidadãos se envolvam na escolha dos seus governantes. Exijam junto da CNE e do STAE, nos períodos de recenseamento, que não lhe seja negada a possibilidade de estarem com capacidade eleitoral nos dias de votação. Por outras palavras, exijam que nos postos de recenseamento os atendam com eficiência de modo a que saiam de lá registados para poderem eleger. E depois não fiquem em casa quando chega o dia de eleger, nem se deixem enganar nas assembleias de voto pois o voto de cada um é indispensável para que o País mude. A coragem de enveredar por esse caminho tem de vir dos políticos que não estão na política para se manterem a eles próprios eternamente sentados nas cadeiras das benesses. Os políticos alternativos têm de transmitir aos cidadãos, como se de corrente eléctrica se tratasse, a necessidade de se ir votar para que as coisas mudem realmente. Mudar um país requer coragem firme e decidida É imperativo que se aceite confrontar os “demónios”. Nada faz com que isso se torne mais óbvio e necessário do que o falhanço das abordagens até aqui feitas ou “eleitas” por minorias. As maiorias têm de deixar de ficar em casa no dia de eleições. O país para mudar exige que os seus cidadãos assumam a cidadania com responsabilidade e não de deixem ficar em casa. A promiscuidade dos poderes e a impunidade tem servido para enriquecer uns. E os empobrecidos, a maioria não pode ficar em casa a assistir ao processo de destruição do país. O que está em causa não é a incapacidade dos moçambicanos tomarem conta dos seus assuntos. Há que ter a coragem de mencionar e reafirmar que a falta de liderança constitui o principal problema. A insistência em escolhas e nomeações de recursos humanos gastos e esgotados, comprometidos ou conspurcados por passados suspeitos, tem deixado suas marcas na governação nacional. Não se pode governar um país com recurso a governantes que não possuam a autoridade política e moral necessária. Quando não se registam avanços em processos essenciais deve-se procurar pelas causas de uma maneira consequente e à altura dos acontecimentos. Tem-se verificado uma tendência para se negar que existam irregularidades ou incompatibilidades entre alguns dos nossos governantes. Não se deveria continuar por aí. É preciso que haja mudança de facto.


2. - Se uma coisa é a idade relativamente nova da nossa democracia outra coisa são os preceitos que caracterizam uma democracia. A democracia não tem de ter características diferentes consoante se esteja em África, em Moçambique, na Europa ou em qualquer outro continente. A partir da altura em que um membro do executivo de um país oferece favores ou crédito a um familiar seu, isso se torna em conflito insanável de interesses. Não é por acaso que por exemplo Hillary Clinton, tendo votado como senadora dos EUA sobre uma aumento salarial para o cargo de Secretário de Estado de seu país, não virá a beneficiar do mesmo aumento em caso de ela ser aceite pelo Congresso para ocupar aquela pasta no governo americano para o qual o presidente eleito Barack Obama a apontou. Se há busca e investigação profunda das possíveis ligações financeiras internacionais do marido em relação à futura posição da esposa no governo, isso faz-se para evitar que os interesses americanos possam estar em risco de sofrer influências de entidades estrangeiras. Pelas mesmas razões Luísa Diogo tem de ir andando, entanto que primeira-ministra. A democracia não se faz no abstracto nem com proclamações. É algo que tem de ser vivido e sentido pelos cidadãos. Ela, Luísa Diogo, em virtude de ter participado na decisão de atribuição de crédito com fundos do tesouro nacional a uma empresa em que o marido é um dos accionistas, perdeu a independência e a imparcialidade para agir como membro do executivo nacional. Esse é um facto indesmentível. Isso enquadra-se naquilo que a ética democrática não permite. Por essa razão, pelo formalismo que também deve existir em democracia, a senhora Luisa Diogo já deveria ter-se demitido do cargo e nunca renovado a sua posição. Pode ser difícil de engolir. Mas quando se prende um antigo ministro em nome de alegado desvio de fundos governamentais, como é o caso de Almerino Manhenje, não se pode deixar de tocar em outras situações não menos melindrosas. Todos devem ser responsabilizados pelas suas decisões menos apropriadas independentemente do estatuto e do tipo de relações que existam entre integrantes de uma mesma administração e os que têm desavenças com outras alas. É em momentos cruciais como este que se vê a desenvoltura ou o contrário de um Chefe de Estado. É nestas pequenas grandes coisas que se vê se ele age em conformidade com o interesse nacional ou se bem pelo contrário age a olhar só para o seu umbigo. Dois pesos e duas medidas!?... Ou será que o presidente não impõe a ética democrática ao caso da PM que fez favores com dinheiros públicos ao seu marido, beneficiando ela própria disso, ainda que indirectamente, pelo facto do próprio PR também ter, no que respeita a fundos públicos, os seus rabos de palha bem compridos? Porque não age o Presidente? Proclamar que se pretende fazer uma descolagem consequente na governação deste país e ultrapassar os constrangimentos de um passado menos transparente, requer que se aprofundem as acções e isso não se compadece com alianças estabelecidas através da distribuição de favores financeiros a uns e outros. E muito menos cadeia para uns e palácio para outros. Não fica bem a quem dirige… Quando o PR não consegue separar o trigo do joio quem paga é o País e seu Povo. A maré de corrupção em que o país está mergulhado tem as suas origens na permissividade, tolerância e compadrios para com procedimentos ilícitos. O exemplo veio de cima e espalhou-se pela plebe. O mau exemplo, reconheça-se. Deixou-se de actuar e de combater os crocodilos nas margens do rio quando estes eram pequenos ou ainda estavam no ovo. Agora os mesmos estão crescidos e no meio do rio a comer-nos. “A comerem o sangue fresco da manada”… Aquela avalanche de criação de empresas privadas à custa da privatização do parque industrial estatal está-se revelando fatal para o país. Não digo isto pela privatização em si. Falo destas privatizações a favor de quem não foi capaz de manter as empresas estatais e os empregos e foi o que se viu depois a gerirem já como proprietários: a mesma ou pior desgraça ainda. Tudo tem origem naqueles dias. Aqueles tempos em que a corrupção não possuía oficialmente rosto. O que se tolerou provavelmente em nome do empoderamento negro e não só, hoje constitui um cancro social autêntico para o país em que a maioria vítima disso também é negra – à parte os preconceitos, entendam-me por favor. Se o compromisso dos nossos políticos é salvar Moçambique e devolver a dignidade e auto-estima ao seu povo então eles precisam de encorajar comportamentos correspondentes. Há que cortar umbilicalmente com aquilo que efectivamente contraria o combate pelo desenvolvimento. E isso faz-se com actos inequívocos. O exemplo tem de vir de cima. E “a pureza e justeza da causa” tem de ter sustentação acima. O exemplo tem de vir de cima. A imagem de quem está em cima não pode estar beliscada… Sabemos que vai ser muito difícil cortar com alguém que em determinada altura foi prestável para a concretização de ambições de muitos nomes sonantes da praça. Mas um país faz-se com sacrifícios. Um Chefe de Estado tem a responsabilidade de induzir justiça e promover equidade para todos. O caso de Moçambique não pode ser diferente. Os vínculos que o PR tem para com o seu partido não podem impedi-lo de agir em defesa da causa nacional. Se for parcial só ele pode acreditar que é o presidente de todos os moçambicanos… Alterações de vulto se impõem. Para já o Executivo e o próprio actual chefe de Estado têm de mostrar-se à altura dos acontecimentos. O chefe de Estado tem de dar o exemplo e não deixar margem para que se pense que ele age diferentemente quando se trata de filhos, de enteados e dos outros. O momento é de atacar sem quartel toda uma série de factores e situações conhecidas. Se não há coerência ninguém pode acreditar em farsas. E os partidos políticos, se pretendem continuar a ser a vanguarda necessária para a realização das aspirações dos moçambicanos têm de ser capazes de superar comportamentos comprovadamente lesivos para a causa nacional e situar-se de maneira clara ao lado dos moçambicanos. Não tem havido mudança, nem as pessoas vão às urnas porque as moscas têm sido sempre as mesmas. Já basta de mediocridade e de mentir aos moçambicanos. Vamos experimentar outras coisas em 2009. Não acham?
Feliz e Próspero Ano Novo.

(Noé Nhantumbo) – CANAL DE MOÇAMBIQUE – 29.12.2008

2 comments:

Moçambique said...

http://moambique.blogspot.com/

JOSÉ said...

Fui espreitar o seu blog e gostei.
Felicidades e um abraço!