Thursday 6 February 2014

Ex-número dois da Renamo diz que negou condecoração porque Moçambique "está em guerra"


Raul Domingos, antigo número dois da Renamo, principal partido da oposição moçambicana, disse hoje que recusou receber a medalha da Ordem 4 de Outubro, por não aceitar ser "condecorado em nome da paz em tempo de guerra".


Raul Domingos foi a única figura a declinar ser condecorada, entre centenas de moçambicanos agraciados pelo chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, a 3 de Fevereiro, Dia dos Heróis.
Raul Domingos havia sido escolhido pelo Governo moçambicano para receber a Ordem 4 de Outubro do 1.º Grau, pela sua participação, como chefe dos negociadores da Renamo, no processo que culminou com o Acordo Geral de Paz (AGP), assinado nessa data, em 1992, pondo termo a 16 anos de guerra civil em Moçambique.
Em conferência de imprensa destinada a explicar os fundamentos da rejeição da condecoração, Raul Domingos disse que tomou essa decisão porque o país "está em guerra", numa alusão aos confrontos entre as forças de defesa e segurança e homens armados da Renamo em algumas zonas do país, principalmente no centro, que já provocaram dezenas de mortos e centenas de deslocados.
"Entendo que a condecoração de cidadãos moçambicanos, que se notabilizam pela paz, deve ser feita, em regra, em momentos de paz. Não posso aceitar uma condecoração pela paz, em tempo de guerra", frisou Raul Domingos, actual presidente do Partido para a Paz, Desenvolvimento e Democracia (PDD), extra-parlamentar.
Para Raul Domingos, aceitar o reconhecimento seria confundir os moçambicanos, uma vez que a actual instabilidade política e militar está a provocar muito sofrimento.
"Eu não poderia, de forma alguma, festejar as desgraças dos moçambicanos que sofrem directa ou indirectamente os efeitos desta guerra", enfatizou Raul Domingos.
Após ter emergido como uma das figuras mais conhecidas da Renamo, por ter chefiado a delegação da guerrilha do movimento às negociações que conduziram à assinatura do AGP, e dirigido a bancada do partido na Assembleia da República, Raul Domingos acabou expulso, na sequência de divergências com o líder da organização, Afonso Dhlakama, após as eleições gerais de 1999, ganhas pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.


Lusa
  

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