Wednesday 19 February 2014

Esperança renovada deve ser fim de manobras dilatórias

Coloquem vossos dotes oratórios de lado…

Beira (Canalmoz) – Satisfaz ouvir dizer e ler que o Governo da Frelimo e a Renamo chegaram a acordo quanto ao Pacote Eleitoral que vinham discutindo há já algum tempo.
A vitória ou derrota neste caso é de todos. Chegou-se ao extremo da violência eclodir porque alguns act...ores políticos de peso esqueceram-se do que realmente estava em jogo ou ignoraram o que realmente era o mais importante.
Houve uma firme e obtusa tentativa de fazer política a partir de considerações de poder pessoal, de poder de grupo, ignorando e desprezando os pontos de vista e necessidades de milhões de pessoas deste Moçambique.
O que a Assembleia da República irá deliberar nos próximos dias será de vital importância. O povo está atento e ansioso de ver seus assuntos tratados com sentido de responsabilidade.
Aquela retórica triunfalista mediatizada e encomendada todos os dias “pariu um rato enorme”, malcheiroso e indesejável.
Os moçambicanos têm sabido de forma crescente negar a confrontação bélica em favor de uma sociedade democrática, solidária e pacífica.
Precisa ser dito em voz firme que uma elite política desconectada com a realidade de sofrimento de milhões de pessoas tem sido o pivot da violência no País.
Gente que teima em continuar a ser “especial” induz de forma maléfica o executivo para caminhos tenebrosos, de sangue e de guerra aberta.
Quando as armas se calaram a partir AGP, muita gente não ficou satisfeita. Uns consideravam que seus tempos áureos haviam terminado.
De manobra em manobra, de artimanha em artimanha foram semeando a discórdia nacional.
Uma reconciliação sem tolerância jamais vingará em Moçambique.
Uma democracia formal conduzida sob jogos encomendados e regras claramente vantajosas a uma parte viram sua funcionalidade a ser questionada de maneira crescente.
Cosmética constitucionalista, ditaduras camufladas e mascaradas, açambarcamento ilícito utilizado como forma de tomar e controlar a economia e finanças nacionais redundaram na actual situação de crise aberta.
Armados e pavoneando-se de únicos conhecedores dos dossiers nacionais com o direito de decidir em exclusivo sobre como os moçambicanos deveriam viver, vimos alguns moçambicanos a destruir as pontes da concórdia.
Às dificuldades próprias de um processo político complexo foram-se somando armadilhas de políticos habituados a manobrar e a condicionar processos para sua própria conveniência.
Numa atitude de perseverança e maturidade política, vimos de maneira inegável uma parte dos moçambicanos exigindo um debate aberto e profundo sobre o País.
As manifestações de oposição quanto à forma escolhida para dirigir o País foram acontecendo sem “mão externa”. O repúdio firme e consequente trouxe uma frescura política jamais vista em Moçambique.
Marchas pela paz e pelo fim de crimes hediondos, declarações de reputados académicos e líderes religiosos, fortalecimento de forças políticas da oposição e de organizações da sociedade civil colocaram o Governo e seu partido entre a espada e a parede.
Face a um movimento planificado de redução progressiva e definitiva de elementos das FADM provenientes da guerrilha da Renamo, um descontentamento generalizado quando ao tratamento recebido pelos seus elementos, a inexistência de uma política consistente de criação de uma FADM verdadeiramente nacional, de uma PRM apartidária, de consensos construtivos quanto à forma de gestão dos recursos naturais do País, a partidarização efectiva do aparelho do Estado, a Renamo decidiu reconsiderar suas posições e tomar uma atitude. Uma reorganização militar da Renamo agendada e comunicada com antecedência não mereceu a atenção dos serviços de inteligência do governo.
A soma indisfarçável dos elementos ou condimentos da crise não se fizeram esperar e a panela de pressão explodiu.
Chegou a guerra muitas vezes desmentida oficialmente e com ela os horrores do passado que a maioria quer esquecidos.
Os consensos anunciados, resultantes daquilo que uns negavam serem negociações são um passo na única direcção certa.
Mas todo o tipo de cautelas é necessário. Não se pode nem se deve “embandeirar em arco”.
É preciso empurrar as partes para um acordo político global que não deixe nada intocável.
Um Moçambique uno, indivisível, forte, verdadeiramente unido, democrata e justo é possível.
Não há moçambicanos superiores aos outros, com direitos especiais e outros relegados a escória e sem cidadania plena.
É vergonhoso que depois de tantos anos de independência a indigência progrida enquanto as elites banqueteiam.
Dignidade para todos e moçambicanidade efectiva de todos não são favores que se peçam aos políticos…



(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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