Thursday 26 September 2013

Comemorar actos gloriosos da história à mistura com campanha política

Beira (Canalmoz) - Não é por caso que as cerimónias centrais da comemoração do dia 25 de Setembro, dia das Forças Armadas de Libertação Nacional, acontecem no Chimoio. Não é por acaso que as presidências abertas prolongam-se e estendem-se por tudo o que é lugar quase sempre seguidas pela visita “o...portuna” da primeira-dama. É uma estratégia de ocupação permanente do espaço político nacional. E os órgãos de comunicação social afectos ao regime do dia garantem que isso seja mostrado repetidamente em todos os cantos do país. Chamar a isso de exercício de intoxicação política e ideológica não estaria longe da verdade. E o agravante é que isso se faz a coberto de despesas legítimas do Estado.
Não é por acaso que em Gaza e em Manica multiplicam-se os actos de vandalização das actividades políticas dos opositores ao regime do dia.
Não é por acaso que a socapa e com cobertura policial e sectores afectos ao partido no poder desdobram-se na montagem de esquemas que garantam que os opositores não estejam nas mesas das assembleias de voto.
Não é por acaso que se silenciam as vozes contrárias no seio do partido que governa.
No mínimo, é suspeito que o porta-voz do PR jamais se manifeste quando os partidos da oposição queixam-se de violência e intolerância política praticada alegadamente por agentes provocadores afectos ao partido do PR. Aquilo que Moçambique precisa de ver se concretizando é o surgimento de uma nova forma de fazer política. Respeitar os outros não é fraqueza…
O silêncio cúmplice que provém da liderança da Frelimo transmite sinais de que o esmagamento da oposição por qualquer meio que seja será tolerado e os seus executores até serão premiados.
Num passado recente viu-se até quem conseguiu defender as posições do partido, mesmo para que isso fosse conseguido através da morte de compatriotas, sendo premiado com transferências e subidas de cargo.
Não há problema algum em compreender que os partidos políticos preocupem-se em organizar-se e em definir estratégias conducentes à realização de seus objectivos. O problema começa quando tais exercícios são claramente organizados de maneira afunilada e visando impedir que os outros façam o seu jogo de forma limpa e incontestável.
Quem não joga limpo concorre para o estabelecimento de práticas ilícitas que como sobejamente se sabe, provocam violência política.
De que vale propagar a ideia de que somos democráticos quando ao mesmo tempo impedimos que as instituições democráticas funcionem?
Entrincheirar instituições democráticas fundamentais com elementos infiltrados sobejamente conhecidos é como que preparar o campo para deliberações favoráveis, ou não será isso?
Os dotes retóricos e oratórios são armas que estão esgrimidas para ofuscar a verdade. Quem se diz contra a divisão do país mas que ao mesmo tempo fomenta o controlo em regime de exclusividade do mesmo o que afinal pretende?
Quem se diz amante da paz e prepara-se para a guerra de uma maneira ostensiva só pode ter medo da democracia. Há elementos suficientes para concluir-se que a estratégia eleita passa por adiar a realização dos pleitos eleitorais programados e legislados.
Parece que entre os “camaradas” tudo serve desde que o poder continue nas suas mãos.
Deve ter sido assinado algum “pacto secreto” entre os mais altos escalões da Pereira do Lago no sentido de dar mão livre para que a actual liderança proceda conforme aquele desígnio.
De outro modo não se sentiria a lei do silêncio imperando. “Cala-te que agora quem manda sou eu” deve ser o que está a acontecer. Quem se atreva a falar contrariando a agenda eleita é logo escorraçado ou catalogado como “apóstolo disto ou daquilo”.
Chegou o tempo de se “falar curto e mesmo grosso” sobre este Moçambique cambaleante. Os paninhos quentes dos académicos arregimentados, a comunicação social favorável e militante são fenómenos normais mas que não devem suplantar o que os moçambicanos querem, exigem e merecem.
Golpes baixos, jogadas secretas e conluios com vizinhos seguindo agendas similares só vão contribuir para “entornar o caldo”…
Não há problema sem solução e engana-se quem procura impor ou ditar regras a coberto de uma suposta superioridade.
O apelo é que as lideranças da Frelimo e da Renamo reconheçam os limites estreitos de suas estratégias de confrontação e embarquem para diálogos produtivos.
Os moçambicanos estão ávidos por um novo tipo de heróis, aqueles que com clarividência e sentido de patriótico coloquem tudo ao serviço da nação, da paz e do seu desenvolvimento.
O espaço é suficientemente grande para uma coexistência pacífica, longe de pretensões unilateralistas e de sufoco de quem pense ou queira diferente.
Respeitem-se os posicionamentos das verdadeiras reservas morais do país e que se comece de novo a olhar para o presente e futuro com “olhos de ver”…


(Noé Nhantumbo)

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