Thursday 22 August 2013

Apagar ou passar uma borracha sobre assuntos não é resolver...

Cantar legalismos e o poder legislativo da Assembleia da República é nada mais do que autoprotecção e jogo desigual…

Beira (Canalmoz) – Está instalada a crise ou é antes a continuação de uma crise que teve oportunidade de ser solucionada mas que alguns teimosamente não querem?
Falando com franqueza e ...de modo directo sempre esteve claro que a Frelimo jamais abdicaria de suas vantagens institucionais ou do facto de possuir institucionais que deliberam os pleitos eleitorais favoravelmente em razão de sua constituição e pendor partidário.
Aquela abertura para diálogo com a Renamo sobre a agenda proposta por este partido terá sido desde sempre uma manobra para aliviar a pressão que sentia e um processo para ganhar tempo estrutura-se a contento. Havia que empurrar a Renamo para um pântano político de onde dificilmente poderia sair.
A Renamo com recurso a exibição de uma força militar e consistência negocial que a maioria desconhecia existirem fez o seu jogo enquanto lhe foi possível.
Chegados a conclusão de um processo que sempre mereceu reparos da sociedade, começa uma nova etapa ou as partes vão radicalmente se distanciarem? Poderá alguém esperar que haja senso e espírito patriótico que supere perspectivas ou estratégias desenhadas em “cima do joelho” tendo como fulcro vantagens económicas, financeira e políticas?
Toda a fauna acompanhante da liderança da Frelimo tem bem em mente que com um campo de confrontação política nivelado jamais teriam as maiorias confortáveis ao nível da Assembleia da República ou das assembleias provinciais e municipais. Se houvesse governo provincial eleito muitas províncias passariam para as mãos da oposição.
Numa estratégia completamente dominada pela acomodação de membros tendo em conta o número de votos de cada província a liderança da Frelimo deve ter distribuído tarefas de manutenção das maiorias actuais para deputados e membros de sua comissão política. Cada um não só deve garantir a vitória eleitoral e por via desta seu cargo na estrutura do poder executivo e legislativo mas também deve contribuir para dar uma aparência de normalidade e de democracia aos actos políticos que se jogam no momento até a realização das eleições.
Posto isto e ao falhanço planificado do diálogo com a Renamo, resta manter as trombetas e batuques proclamando aos quatro ventos, de que Frelimo está aberta e é interessada no mais amplo diálogo político no país.
Vamos assistir a um bombardeamento mediático desusado e insistente visando conferir legitimidade a uma posição que foi sempre marca regista do partido Frelimo. Desde 1974 que se sabe que a política oficial deste partido na admitia a existência de adversários concorrendo em pé de igualdade com ela.
As derrotas que tiveram de engolir na Beira e Quelimane foram acidentes de percurso que não querem ver repetir-se em ais nenhum município.
A guerra suja que se faz em futuros municípios na província de Sofala dificultando a legalização de documentos de membros do MDM querendo concorrer a lugares nas assembleias municipais locais são o prenúncio da forma como serão dirimidas as eleições. Vamos ver vitórias na “secretaria” pela eliminação de concorrentes pré-eleições. Outro exercício será no sentido de garantir que as estruturas de bairro da Frelimo exerçam um controlo firme e de intimidação. As realizações de última hora e inaugurações de infra-estruturas aquando das “presidências abertas” serão outra forma de mobilizar votos.
Onde ainda não houver nada para inaugurar adia-se pura e simplesmente a visita do PR.
Escorados num CNE e STAE amigáveis superiormente dirigidos por figuras afectas ao partido Frelimo, com o STAE completamente estanque no que se refere a organização e operações, livre de olhares indiscretos da oposição, com a experiencia acumulada de outros pleitos, julgam muitas pessoas que a vitória está assegurada.
Se alguma coisa se pode colher da experiência das últimas eleições no Zimbabwe é que com vantagens orgânicas de uns não se vencem eleições. Os números finais expressos serão aqueles que o executivo e seu partido de suporte quiserem. É inconcebível e ultrajante falar-se de eleições livres, justas e transparentes quando todo o processo que leva ao dia voto e a contagem dos votos está viciado e minado. Pelos lucros obtidos em consultorias especializadas do ocidente, Portugal, Brasil, Israel não se importam de viciar equipamento informático e garantir vitórias que todos têm a sensação de serem atropelos a vontade popular expressa por voto, violação grave dos direitos políticos dos cidadãos.
A democracia transformou-se numa mercadoria que nem peixe ou carne, vende-se ao preço de mercado e sofre as flutuações de preço obedecendo as leis do mercado.
O que se tinha como cavalo de batalha de apoiantes e pregadores da democracia chega deturpado aos nossos países. Conta só que não sujemos a imagem com matanças que ofendam a opinião pública ocidental mas qualquer tipo de irregularidade mantida sob controlo, através de aparatos militares e de segurança são em geral generosamente aceites pelas chancelarias internacionais. Os parceiros orientais não condicionam ajudas, assistência ou apoios a direitos políticos e humanos. Qualquer vencedor serve desde que garanta a continuação do fluxo dos recursos minerais e madeireiros em direcção as suas capitais.
O governo de Moçambique e seu partido devem estar equacionando tudo isso ao resistirem a uma mudança lógica e aceite pela maioria dos moçambicanos do pacote eleitoral.
Vamos ver muitos porta-vozes abominando a guerra mas nada fazendo para refrear os impulsos repressivos de um governo insensível ao sofrimento real do povo.
A pergunta de momento talvez não seja mais se haverá guerra no país mas sim se aumentará ou não a escalada da guerra e sua localização geográfica.
Qualquer cenário será resultado de leituras e decisões a serem tomadas por moçambicanos que se conhecem. No fim parece que quem julgava ter enganado a alguém se enganou a si próprio.
Os tempos mais próximos serão fundamentais e veremos se os apoios garantidos pelos parceiros dos ex-beligerantes se mantêm intactos.
Somos apologistas de um realismo que supere interesses estomacais e grandezas megalómanas. Moçambique pode continuar a trilhar pelos caminhos da paz e quem se recusa a isso deve ser democraticamente penalizado…



(Noé Nhantumbo)

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