Thursday 29 April 2010

Livro de José Milhazes sobre o acidente que matou o presidente Samora Machel

Queda do avião ocorreu por desleixo da tripulação soviética, diz o autor, jornalista da Lusa em Moscovo

A queda do avião que provocou a morte do presidente moçambicano Samora Machel, em 1986, foi causada por desleixo da tripulação soviética da aeronave, afirmou o jornalista José Milhazes, que relata a tragédia no seu mais recente livro. A obra, intitulada “Samora Machel - Atentado ou Acidente?”, será lançada pela Aletheia Editores, na quinta-feira, em Lisboa.
Penso que consegui responder (a questão do título do livro), pois não se tratou de um atentado, mas sim de um acidente. O avião caiu devido a um erro humano, mais propriamente, ao desleixo da tripulação do avião presidencial, como disse um dos técnicos”, referiu o jornalista, correspondente da Agência Lusa em Moscovo.
Samora Machel morreu na queda (na África do Sul) de um avião, cedido pela então União Soviética (URSS) e com tripulação desta nacionalidade, no regresso de uma reunião internacional em Lusaka, na Zâmbia, a 19 de Outubro de 1986.
Segundo Milhazes, a ideia para escrever o livro surgiu pelo “facto de ler repetidas vezes em órgãos de informação que a morte do presidente Samora Machel na queda do avião teria sido fruto de um atentado organizado pelos serviços secretos sul-africanos.”
Os soviéticos, indicou Milhazes, “participaram directamente em toda a investigação” do Tupolev 134 que foi cedido ao dirigente moçambicano, líder da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e primeiro presidente do país africano após a sua independência de Portugal em 1975.
“Foi vendo o resultado das investigações por parte dos soviéticos, cruzando com declarações de pessoas que participaram destas investigações, nomeadamente um tradutor russo que acompanhou todo o trabalho das várias comissões internacionais, que me levou a colocar esta pergunta e tentar responder”, sublinhou o jornalista.
Para Milhazes, a tese do atentado era mais conveniente para soviéticos e moçambicanos.
“Os soviéticos ainda estavam no início da transparência e da reestruturação realizada por Mikail Gorbachov em 1986 (perestroika). Não conseguimos imaginar a direcção soviética a reconhecer que o avião caiu por causa da tripulação, devido a erros crassos”, indicou.
“Para os moçambicanos, interessava também que o presidente se transformasse num mártir da luta contra o apartheid, assim, tentou-se encontrar versões heroicas, com mais epopeia do acontecimento”, revelou ainda.
Entretanto, Milhazes revelou que outras hipóteses para a queda do avião foram lançadas, como o falso farol que teria enganado os pilotos soviéticos ou ainda a conspiração entre os serviços secretos sul-africanos e soviéticos na morte do presidente.
Segundo o jornalista português em Moscovo, “alguns especialistas indicam que o acidente aconteceu por total desleixo da tripulação soviética”, deixando os detalhes para que o leitor descubra ao ler o seu livro.
A obra tem capítulos dedicados a alguns dirigentes moçambicanos, nomeadamente Eduardo Mondlane, Samora Machel e Joaquim Chissano, relatando a visão dos soviéticos destas personalidades, assim como uma análise da intervenção militar da URSS em Moçambique.


FONTE: Notícias Lusófonas

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