Monday 26 April 2010

Guebuza volta à carga contra os adversários da sua política

No encerramento da presidência aberta na cidade de Maputo

Maputo (Canalmoz) – O Presidente da República, Armando Guebuza, voltou à carga contra os críticos do seu Governo, classificando-os como estando a sofrer de “conflito interno”. Num encontro que manteve com jovens, na manhã do último sábado, no pavilhão do clube “Estrela Vermelha”, Guebuza desviou-se dos problemas da juventude para atacar aqueles que contestam o seu “estilo de governação”, alegando que estes procuram “exteriorizar o seu conflito interno para atingir outras pessoas a influenciar o seu trabalho, para serem vistos como heróis”.
Não é a primeira vez que o Presidente da República ataca directamente os adversários da política do seu Governo. Na abertura da II Sessão Extraordinária do Comité Central da Frelimo, em 2008, que serviu para preparar as eleições autárquicas do mesmo ano, Guebuza havia apelidado os críticos da sua política como “apóstolos da desgraça”. E no encerramento da “presidência aberta”, em 2009, antes das eleições que o reconduziram ao poder em Outubro de 2009, o chefe do Estado insurgiu-se contra os que criticam os custos das “presidências abertas”, afirmando, em resposta, que “este modelo de governação é para continuar”.
O encontro do chefe do Estado com os jovens, neste último sábado, acabou por servir apenas para atacar os adversários do regime, uma vez que os jovens que foram seleccionados para apresentarem os seus problemas ao chefe do Estado, nomeadamente os da OJM, ou seja os da Frelimo, nada disseram de concreto inerente aos problemas que afligem a juventude em geral.
Aliás, tudo quanto se ouviu pela parte destes foi: “Viva a Frelimo, viva Guebuza!”, como de costume, embora alegadamente o encontro fosse com o Presidente da República. Entre um ou outro interveniente que falou dos problemas da juventude, gastou-se mais tempo a bajular o chefe do Estado do que a apresentar questões concretas. Foram raros os que falaram de desemprego, de falta de habitação, de insuficiência de vagas no ensino, nomeadamente o Superior, que constituem problemas centrais da juventude de hoje.
No discurso da tomada de posse, Guebuza havia assegurado que “haverá respeito pelo pensar diferente”.
As críticas às ideologias de Guebuza começaram com as prioridades escolhidas para combater a pobreza absoluta, e vieram a adensar-se sobretudo com a distribuição, pelos distritos, dos não menos famosos “sete milhões” – que agora é muito mais –, alegadamente para acabar com a pobreza. De entre políticas e críticas, tudo acabou num baptismo público, em que aos que pensavam diferente lhes coube o epíteto de “apóstolos da desgraça”.
No presente mandato, as críticas não pararam, e tiveram ainda mais motivos com as propostas do Orçamento do Estado para ano de 2010 e do Plano Económico Social (PES) submetidas à Assembleia da República, e que foram aprovadas pelo voto maioritário da bancada parlamentar da Frelimo. Basicamente foram são criticados os critérios que o Governo da Frelimo usou para fazer a distribuição orçamental.
É que as áreas prioritárias para o combate à pobreza como a agricultura e a educação, por exemplo, voltaram a ser marginalizadas. E os sectores improdutivos voltaram a encaixar altas verbas do Orçamento de Estado (OE). As críticas não demoraram, e vieram de todos os quadrantes: da AR, da imprensa e da opinião pública. Todos questionaram se de facto o OE visava combater a pobreza absoluta. E como resposta, eis que isso agora é chamado um “conflito interno” de quem não aplaude esta política.

(Borges Nhamirre e Matias Guente)


Jovens pedem habitação e emprego ao chefe de Estado

Maputo (Canalmoz) – Alguns jovens filiados em diferentes associações mostraram ao Presidente da República, Armando Guebuza, que é impossível combater a pobreza sem políticas para a juventude. Mostraram ao PR que a inexistência de uma política de habitação e de emprego deita por terra qualquer esforço dos jovens, porque o Governo está ausente para os apoiar.
Numa acção incluída na “presidência aberta”, realizada no passado sábado, no pavilhão do “Estrela Vermelha”, na cidade de Maputo, o PR ouviu as preocupações de alguns jovens, apesar da tónica que se quis imprimir ao encontro ter sido de bajulação à figura do chefe de Estado.
Como os problemas da juventude são bem antigos, e as promessas de melhoria são tão antigas como esses problemas, pois nenhum deles tem sido resolvido, houve quem aproveitou o momento para dizer o que de facto é o sentimento geral. É que as questões da habitação e do emprego, por exemplo, vêm sendo repetidas mandato após mandato, enquanto, em concreto, nada acontece, nada se resolve. Só tem havido conversa e mais conversa, acumulando-se de ano para ano o número de jovens à procura de soluções que não aparecem.
As intervenções de alguns jovens incidiram sobre a falta de emprego e de habitação e à partidarização das oportunidades.
“Não existe preocupação por parte do Governo em apoiar as iniciativas culturais dos jovens. Não há espaço para que os jovens que tenham talentos culturais possam desenvolver as suas capacidades. As salas de cinema estão fechadas. As casas de teatro foram transformadas em bares e em outras coisas, e o Governo está a assistir aos jovens a tornarem-se bêbados. Não há incentivos para os jovens”, disse um jovem líder de uma associação orientada para o desenvolvimento cultural, que foi o último interveniente.
Na semana passada, a Assembleia da República aprovou a resolução que cria o Gabinete Parlamentar da Juventude, que será o elo de ligação entre o parlamento e a juventude moçambicana. Sobre o Gabinete, o deputado da Renamo, Arnaldo Chalaua, que também fará parte do mesmo, avisou sobre o perigo de o gabinete vir a ser assaltado pelo partido no poder, e tornar-se, segundo as suas palavras, “um centro de malabarismo político e de manipulação”.

Uma OJM servil e bajuladora

Um dado relevante no encontro do PR com os jovens foi a postura da Organização da Juventude Moçambicana (OJM), uma organização social do partido Frelimo. É que estes, longe de apresentarem as reais preocupações, fizeram a questão de trazer panfletos e dísticos louvando o chefe do Estado. Lia-se nos panfletos “Juventude moçambicana eleva Guebuza”, “A juventude está com Guebuza”, “Geração da viragem na luta contra a pobreza”.
A nossa equipa de reportagem não conseguiu ver um dístico apelando por, exemplo, a uma política de emprego ou de igualdade de oportunidades para todos os jovens.

“Anotámos tudo...”

Em reacção às preocupações levantadas pelos jovens, o PR, repetindo o mesmo de sempre, disse que foram anotadas todas as preocupações e que serão analisadas. Armando Guebuza disse que ficou satisfeito, porque os jovens não trouxeram só inquietações ou problemas, mas também algumas soluções: “Ficámos satisfeitos, porque vocês não têm apenas problemas, têm também algumas soluções, e isso já é bom, significa que não estão parados, estão a fazer alguma coisa. Anotámos tudo e ficámos com os contactos, para posterior comunicação ”.
O PR encorajou os jovens para usarem as suas ideias para combater a pobreza e não se deixarem levar pelos condicionalismos e dificuldades.

(Matias Guente)


CANALMOZ, 26/04/10


NOTA DO JOSÉ - Dois pontos muito preocupantes: Armando Guebuza não gosta de críticas e a OJM, em vez de se preocupar com os problemas da juventude salienta-se mais pelo lambebotismo e bajulação.


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