Thursday 8 April 2010

Continua a desvirtuação do real significado do “7 de Abril”

Maputo (Canalmoz) – Na Praça dos Heróis Moçambicanos, na cidade de Maputo, estão hasteadas bandeiras com símbolos da Organização da Mulher Moçambicana (OMM), uma organização social do partido Frelimo. A televisão do Estado (TVM) noticia que hoje (ontem) é Dia da OMM. A Agência de Informação de Moçambique (AIM) escreve, pelo punho do próprio director, que “A política de emancipação da mulher moçambicana, abraçada com determinação pela FRELIMO no início da luta contra o colonialismo português (…) é um dos maiores feitos, senão o maior, registados ao longo dos 35 anos da nossa independência…”. Diversas empresas públicas nacionais, com destaque para a Electricidade de Moçambique (EDM) mandaram produzir “t-shirts”, para a celebração desta data, com logótipo da OMM. Ora, se o dia 7 de Abril é dia da organização social da Frelimo – OMM , por que razão as demais mulheres moçambicanas (não membros do partido Frelimo) são chamadas a celebrar a data?
Não pretendo questionar, muito menos desvalorizar o papel da Frente de Libertação de Moçambique na emancipação da mulher moçambicana durante a luta pela independência nacional, nem negar à OMM direito de fundadora do “7 de Abril”. Exijo apenas que se diga a verdade: Se o “7 de Abril” é Dia da Mulher Moçambicana ou Dia da Mulher da Frelimo.
Que o “7 de Abril” é uma conquista do partido Frelimo, disso sabemos, mas é uma conquista feita em nome do Estado moçambicano, tal como a independência nacional. Hastear bandeiras da OMM na praça dos Heróis Moçambicanos é o mesmo que hastear bandeiras da Frelimo no mesmo local, no dia da celebração da independência nacional.
Quem conquistou a independência nacional até pode ser a Frelimo – como assim o reclamam os actuais membros deste partido – mas a conquista foi em nome do Estado. O Estado é constituído por um povo, que vai para além dos membros da Frelimo. Se a independência é da Frelimo, então é preciso que os moçambicanos continuem a lutar pela independência total e não de alguns.
O mesmo se recomenda sobre o Dia da Mulher Moçambicana. Se o “7 de Abril” é Dia da Mulher da Frelimo, que seja oficialmente declarado, para que as demais mulheres não filiadas neste partido possam celebrar a sua data no dia 8 de Março, ou inventem outra data exclusiva para a celebração do Dia da Mulher Moçambicana.

(Marcelina Moisés, CANALMOZ, 08/04/10)

1 comment:

Anonymous said...

Quando Moçambique tornou-se independente em 1975, e apesar de ser muito nova, senti-a que era um Dia para TODAS as mulheres, do Rovuma ao Maputo.
A medida que fui crescendo, fiquei revoltada, pois muitas sentiamos que era um dia alusivo à Mulher da Frelimo, embora nos tivesse sido ensinado na escola que era celebrado em memória da falecida Josina Machel.
No entanto, recuso-me a aceitar que seja o Dia Da Mulher da Frelimo, eu exijo que também seja o de todas nós que tenhamos ideologias diferentes às da Frelimo.
Maria Helena