Gostaria de aproveitar as inéditas oportunidades que o governo tem aberto a cidadãos nacionais que desejam combater a pobreza absoluta, concedendo-lhes ajuda financeira, através dos fundos do Tesouro.
Este gesto tem sido bastante útil para o surgimento da burguesia nacional. Venho solicitar-lhe um modesto empréstimo financeiro de 6,5 milhões de dólares. Se for benevolente, a miséria que me apoquenta será estória para contar às gerações do futuro. Não se arrependerá de ter ajudado a um compatriota seu que tanto o admira.
Compro um iate, para competir com sul-africanos que gingam nas nossas praias. Construo um lodge à beira-mar, para férias. Compro um Jeep para galgar dunas, a gozar com Telmina Pereira. Não é babando estrangeiros, como faz Fernando Sumbana, para virem bufar nas nossas águas. Quem sabe trabalhar, sabe descansar, dizia o camarada Vladimir Lénine. Vou produzir jatropha. Fiquei emocionado quando vi o ministro do Interior, com uma amostra de jatropha à cabeça, num comício, em Maputo. Para quê produzir milho, arroz, trigo, se tudo isso pode vir de fora? Basta um peditório internacional.
É pessoa de bom coração, como a Dra. Luísa Diogo, que distribuiu fundos do Tesouro a figuras do partido governamental, não se esquecendo de financiar projecto do seu marido, como é óbvio. Não me dizer que é tarde. Onde come um, comem dois. Onde comem dois, comem três. Confesso que estou cansado de pobreza. Deus não me quer pobre pelo resto do tempo. A sua ajuda, juro palavra de honra, sinceramente, vai ser minha bóia de salvação. A sua mão seria abençoada, pode ter certeza. O governo tem sido bondoso para com todos os cidadãos, independentemente das tonalidades políticas de cada um.
Com as facilidades que o governo concede a indivíduos que recorreram a essa ajuda, creio que, dentro de pouco tempo, poderei mudar o rumo da minha vida. Os miúdos poderão estudar no colégio e os mais velhinhos avançam para Europa ou América. Os meninos queixam-se de estudar sentados no chão e encurvados, escola sem tecto nem janelas, por isso, andam doentes. Pensei em si que poderia ter pena dos putos e aliviarlhes o sofrimento. Ser pobre é mesmo chato. As regras da banca são pesadas. Se a gente brinca, até nos tiram as cuecas. O Tesouro não incomoda, deixa a gente numa boa.
Segundo usos e costumes africanos, não se exige garantias reais de reembolso. A boa tradição africana tem, mais uma vez, que prevalecer, como foi com outros que nos antecederam nessa coisa de pedir grana do Tesouro. Algo nos une – se não for o partido, temos a mesma pátria, nação e bandeira, logo, saberá que as oportunidades devem iguais a todos. Garantolhe que não sou reaccionário. Sou homem honesto, sincero e respeitador da lei. Ajude-me, por favor!
Espero deferimento.
E mais não disse.
Maputo, aos 06 de Outubro de 2008.
( Edwin Hounnou, em A Tribuna Fax, de 06/09/08 )
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