Friday 1 March 2013

Riqueza de carvão e gás pode levar a "tensões difíceis de gerir" em Moçambique -- Graça Machel

Maputo, 28 fev (Lusa) -- A riqueza dos recursos minerais moçambicanos, como o carvão e gás natural, pode levar a "tensões difíceis de gerir" caso não seja redistribuída de forma justa, alertou hoje Graça Machel, ativista dos Direitos Humanos e consultora da ONU.
Caso a riqueza não seja distribuída de forma equitativa o país estará a "semear não apenas a suspeita", mas "já a semear o ódio", adiantou Machel, antiga primeira-dama de Moçambique, numa reunião do Banco Africano de Desenvolvimento.
A tensão, adiantou, poderá ser especialmente elevada entre os jovens, que se consideram excluídos do debate sobre a riqueza mineral do país, que está a tornar-se um importante exportador de minério, em especial carvão, e de gás.
"Não faltará muito até que vejamos pessoas marchar nas ruas de Maputo. É simples -- têm fome", disse.
Na reunião dedicada à gestão de receitas de exploração de hidrocarbonetos, Machel afirmou que "isto é uma fonte de agitação política (...) e pode levar a tensões que serão extremamente difíceis de gerir".
Nos últimos anos têm vindo a ser identificadas reservas de gás de grandes dimensões em Moçambique, estimadas em 100 biliões de pés cúbicos, o que faz do país um produtor de nível mundial, atraindo grandes multinacionais para o seu setor energético.
O país poderá arrecadar dezenas de milhares milhões de dólares em receitas de exploração de gás nos próximos anos.
"Subitamente, deixamos de ser o mais pobre dos pobres para nos tornarmos potencialmente no terceiro maior produtor de gás no mundo e as perspetivas para o país mudaram completamente de um dia para o outro", disse Machel.
A maior parte das reservas de gás têm vindo a ser identificadas na bacia do Rovuma (norte), ao largo da província de Cabo Delgado, das mais pobres do país.
"Vemos também uma das província que é a mais pobre entre as pobres a ver-se como a mais rica", adiantou Graça Machel.
Viúva do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel, e mulher do ex-Presidente sul-africano Nelson Mandela, Graça é membro da organização The Elders ("Os Anciãos"), um grupo de líderes internacionais independentes dedicado à Paz e Direitos Humanos, além de perita da ONU para o impacto dos conflitos armados nas crianças.
Em 2012, foi escolhida pelo secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, como um dos 26 elementos do grupo encarregue de preparar a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015, sucessora dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, juntamente com as também lusófonas Emília Pires, Graça Machel e Vanessa Corrêa.
Esta semana, a ministra dos Recursos Minerais de Moçambique, Esperança Bias, afirmou que mais de 3,8 mil milhões de euros foram investidos na prospeção e exploração de carvão no país, nos últimos anos.
Falando em Maputo numa reunião sobre as receitas dos recursos minerais, Esperança Bias disse que os avultados investimentos na prospeção e produção de carvão vão permitir que o país produza mais de 50 milhões de toneladas de carvão a partir de 2010.
Em 2012, assinalou a ministra dos Recursos Minerais moçambicana, o país produziu 4,9 milhões de toneladas de carvão em 2012, o maior volume desde o início da exploração do minério.
A aposta do Governo moçambicano é a construção e reabilitação de infraestruturas para o escoamento do enorme potencial de que o país dispõe, acrescentou a governante.


Lusa

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