Tuesday 19 March 2013

Coisas que ninguém estranha (1)

“Pedra dura, água mole, bate que fura”. Bem, nós que experimentamos tecer alguns comentários, que ensaiamos algumas observações nesta sociedade moçambicana, vimo-nos em apuros, em algumas ocasiões. Somos chamados de faladores, de gente que não tem nada para fazer. Porém, apraz-me a ideia de que se alguém pensa assim, é que algo sente que lhe mexe na alma.Maputo, Terça-Feira, 19 de Março de 2013:: Notícias
Quem de direito, sobretudo quando se trata de prestar algum serviço público, devia estar de olho bem aberto. Quem pode entender que, por exemplo, no poleiro de educação, tenham sumido milhões de meticais, ante o funcionamento pacato de uma instituição que vela pela vida futura dos cidadãos. É aqui, exactamente, no Ministério da Educação em que sempre houve falcatruas, no que diz respeito ao desvio de fundos do erário público.
E como sempre, o assunto é despoletado, os homens da pena ensaiam a sua divulgação, para que todo o cidadão saiba o que ali se passa e pronto. Alguém aparece a dizer que tudo está sob controlo, que as investigações decorrem a bom ritmo, que os envolvidos não podem ser revelados para não perturbar o curso das investigações. As pessoas, servindo-me da sua santa paciência, aquela paciência russa que lhes valeu a vitória na 2.ª Grande Guerra Mundial, vão aguentando. E como o tempo não perdoa e está sempre a correr, tudo termina como começou. Ninguém é responsabilizado e pronto.
O que se faz, para agradar gregos e troianos, tira-se ou troca-se as pedras. Entretanto, passado algum tempo, as investigações terminam sem que haja algum culpado. O dinheiro sumiu, as pessoas que foram suspeitas andam de vento em popa, podem perder emprego, porém, já “estão feitos na vida”, pois a riqueza acumulada ilicitamente lhes vale a categoria de novos ricos. Coisas da nossa terra, que ninguém estranha, que tudo se vê como uma normalidade e indiferenças incríveis.
O nosso tecido social já se encontra viciado pelos corruptos, pela carência de pão na mesa do cidadão comum. Afinal de contas a corrupção nasce das dificuldades que as pessoas enfrentam para viver. Onde tudo falta, de que se espera que se faça, por parte de quem está perto da “massa”? Uma “massa” que se lhe apresenta pela frente e vê que há uma certa fragilidade no seu controlo. A faca e o queijo estão na posse do “macaco espertalhão” e, vai daí, dividi-lo à sua maneira. A balança nunca ganha equilíbrio, o bolo acaba sem que tenha sido distribuído para todos.
E os que dirigem esta nação mandam dizer que a população, particularmente, activa, que tenha paciência, pois que a riqueza ainda não chega para todos, primeiro é para os poucos que se encontram no topo, se restar, depois de algum tempo, “será atirada lá para baixo, e os pequenos irão debicar”.
Mesmo nos transportes públicos que, nos últimos tempos, passaram à gestão dos municípios de Maputo e Matola, há procedimentos levados a cabo pelos motoristas e cobradores que embirram mesmo a um pacato cidadão. Ninguém respeita a ninguém, há uma inércia total. Credo!


Arlindo Oliveira, Notícias

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