Monday 4 March 2013

Reflexo


A morte brutal e extremamente penosa do nosso concidadão às mãos de agentes boçais e violentíssimos da Polícia sul-africana foi um dos principais temas de conversa ao longo da semana passada.
Qualquer sensato lament(a)ou e condena(ou) aquele acto e ninguém, julgo, deseja situação idêntica mesmo ao seu pior inimigo.
É doloroso constatar que aquilo, infelizmente, é reflexo do tratamento que é reservado ao “maravilhoso povo” pelos seus dirigentes.
Se quero que se respeite e dignifique a minha esposa, filha(o) e ou outro familiar, sou eu o primeiro a demonstrá-lo, com actos.
Os nossos vizinhos aperceberam-se que, à pequena concentração de moçambicanos (não disse manifestação, sequer), quem pode não exita em chamar a solícita Polícia de choque que alegremente desata aos chambocos (cacetadas), puxa pelo gatilho, distribui chutos, pontapés e (agora) jactos de água...
Amanhã é terça-feira. Talvez, uma vez mais, veremos robustos jovens da FIR perseguindo vovós, papás e mamãs que deram o peito às balas para que hoje tivessem uma nacionalidade e (algumas) liberdades individuais, para lhes dar porrada sem dó nem piedade, porque reclamam o que julgam ser seus direitos.
E agora, o que queremos que os outros façam dos nossos? Só podemos esperar o pior.
O mais lamentável nisto tudo é que depois aparecem os nossos ilustres (des)governantes a derramar (forçadas) lágrimas de crocodilo, perante as câmaras de tv. E porquê digo lágrimas “forçadas”? Porque, que eu saiba, não houve alguma iniciativa do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (MNEC) da República de Moçambique de emitir um comunicado oficial, reagindo à morte de Mido Macia. O nosso chefe da diplomacia reagiu a uma interpelação de jornalistas...
E tudo não passará disso. Que os actos governamentais oficiais e públicos dos próximos dias me desmintam.
Dói ver o que se passou com Macia e com outros moçambicanos que são barbaramente maltratados e mortos pelos sul-africanos e noutros cantos do mundo, mas isso não passa de reflexo do que nos é reservado cá, na nossa Pérola do Índico, pelas nossas autoridades.
Então que não nos espantemos, lamentavelmente.



Editorial do Correio da Manhã, 04/03/13

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