Este é o problema de um país governado por “men bussiness”, em que o interesse pessoal se sobrepõe a quaisquer interesses colectivos.
Os órgãos de informação brasileiros anunciaram, esta semana, que o governo de Moçambique ofereceu a agricultores brasileiros 6 milhões de hectares de terra, no norte do país, para a plantação de soja, algodão e milho. Esta informação foi capa do jornal “Folha de São Paulo” do domingo passado. Trata-se de uma concessão de 50 anos por 9 euros por ano (cerca de 405 MT/hectare/ano), renováveis por mais 50 anos. A mesma imprensa diz que a utilização das terras de Moçambique está a ser vista por agricultores brasileiros como oportunidade para expandir a produção diante dos impedimentos ambientais e do aumento do preço das terras no Brasil. “Moçambique é um Mato Grosso no meio da África, com terra de graça, sem tanto impedimento ambiental e frete muito mais barato para a China”, disse Carlos Ernesto Augustin, presidente da Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão (Ampa).
Quer dizer, como são impedidos de expandir a produção no Brasil por danos ambientais, a solução é procurar um país de imortais para essa produção. Um país governado por pessoas insensíveis à vida dos outros quando a questão em jogo são os seus interesses. Um país em que os preços da terra estão a saldo. E esse país é Moçambique.
Por seu turno, o ministro da Agricultura de Moçambique, José Pacheco, quem foi a Brasil negociar a terra, disse que as autoridades nacionais queriam repetir o que o Brasil “fez no cerrado 30 anos atrás”.
Ora, convertendo, os 6 milhões de hectares (1 ha = 0.01 km2) oferecidos a brasileiros por 9 euros por hectare utilizado por ano correspondem a 60 mil km2, ou seja, equivalem a 24 distritos com dimensões de Chókwè (2 466 km2 – ver o perfil do distrito de Chókwè). Dito de outra forma: o governo concessionou 24 distritos de tamanho de Chókwè a brasileiros.
Isto significa, de outra forma, que os moçambicanos residentes no interior desses 6 milhões de hectares terão de encontrar um novo habitat. Deverão abandonar as zonas onde sempre viveram e produziram bens para a sua sobrevivência. Algumas famílias terão de se desfazer no processo de distribuição pelas novas zonas.
Se os brasileiros querem essas zonas, significa que elas são férteis. Se são férteis, significa que são zonas que servem de fontes de sobrevivência desses habitantes. Logo, serão sacrificados e reassentados, eventualmente, em zonas não potencialmente férteis.
Mais do que movimentá-los, era bom que nesse negócio os habitantes dessas áreas fossem envolvidos, participando na estrutura accionista da empresa que irá explorar as suas terras. Entravam com a terra e os brasileiros com o capital financeiro, à semelhança do que acontece hoje nos negócios que são feitos envolvendo os nossos bastardos e estrangeiros. Esta seria a forma de fazer com que aquelas comunidades pobres e incapacitadas financeiramente entrassem também nas lides empresariais. Seria, sem dúvida, esta a melhor forma de o Governo justificar a vontade que lhe tem faltado para eliminar os desequilíbrios entre os ricos e os pobres.
Aliás, tenho a máxima certeza de que neste negócio está envolvido um dos nossos governantes, participando na estrutura accionista com a terra que está a ser usurpada aos pobrezinhos habitantes e os brasileiros com capital financeiros e com o “know how”.
É assim neste país. Quem detém o poder, detém o direito de enriquecer sem olhar para os meios, nem que isso signifique sacrificar a vida de milhões dos “sem poder”. É assim neste país samoriano. Os pobres servem de tapete vermelho dos ricos. Passam-lhes por cima sem poder de reacção. É assim, neste país. O Governo é eleito pelos pobres para servir os interesses dos “men bastards”. Os governantes que elegemos usam o Governo para fechar os seus fabulosos negócios. Nós assistimo-los passivamente. Com razão, qualquer tentativa de manifestação é uma bala de borracha.
Este é o problema de um país governado por “men bussiness”, em que o interesse pessoal se sobrepõe a quaisquer interesses colectivos.
Lázaro Mabunda, O País. Confira aqui!
Os órgãos de informação brasileiros anunciaram, esta semana, que o governo de Moçambique ofereceu a agricultores brasileiros 6 milhões de hectares de terra, no norte do país, para a plantação de soja, algodão e milho. Esta informação foi capa do jornal “Folha de São Paulo” do domingo passado. Trata-se de uma concessão de 50 anos por 9 euros por ano (cerca de 405 MT/hectare/ano), renováveis por mais 50 anos. A mesma imprensa diz que a utilização das terras de Moçambique está a ser vista por agricultores brasileiros como oportunidade para expandir a produção diante dos impedimentos ambientais e do aumento do preço das terras no Brasil. “Moçambique é um Mato Grosso no meio da África, com terra de graça, sem tanto impedimento ambiental e frete muito mais barato para a China”, disse Carlos Ernesto Augustin, presidente da Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão (Ampa).
Quer dizer, como são impedidos de expandir a produção no Brasil por danos ambientais, a solução é procurar um país de imortais para essa produção. Um país governado por pessoas insensíveis à vida dos outros quando a questão em jogo são os seus interesses. Um país em que os preços da terra estão a saldo. E esse país é Moçambique.
Por seu turno, o ministro da Agricultura de Moçambique, José Pacheco, quem foi a Brasil negociar a terra, disse que as autoridades nacionais queriam repetir o que o Brasil “fez no cerrado 30 anos atrás”.
Ora, convertendo, os 6 milhões de hectares (1 ha = 0.01 km2) oferecidos a brasileiros por 9 euros por hectare utilizado por ano correspondem a 60 mil km2, ou seja, equivalem a 24 distritos com dimensões de Chókwè (2 466 km2 – ver o perfil do distrito de Chókwè). Dito de outra forma: o governo concessionou 24 distritos de tamanho de Chókwè a brasileiros.
Isto significa, de outra forma, que os moçambicanos residentes no interior desses 6 milhões de hectares terão de encontrar um novo habitat. Deverão abandonar as zonas onde sempre viveram e produziram bens para a sua sobrevivência. Algumas famílias terão de se desfazer no processo de distribuição pelas novas zonas.
Se os brasileiros querem essas zonas, significa que elas são férteis. Se são férteis, significa que são zonas que servem de fontes de sobrevivência desses habitantes. Logo, serão sacrificados e reassentados, eventualmente, em zonas não potencialmente férteis.
Mais do que movimentá-los, era bom que nesse negócio os habitantes dessas áreas fossem envolvidos, participando na estrutura accionista da empresa que irá explorar as suas terras. Entravam com a terra e os brasileiros com o capital financeiro, à semelhança do que acontece hoje nos negócios que são feitos envolvendo os nossos bastardos e estrangeiros. Esta seria a forma de fazer com que aquelas comunidades pobres e incapacitadas financeiramente entrassem também nas lides empresariais. Seria, sem dúvida, esta a melhor forma de o Governo justificar a vontade que lhe tem faltado para eliminar os desequilíbrios entre os ricos e os pobres.
Aliás, tenho a máxima certeza de que neste negócio está envolvido um dos nossos governantes, participando na estrutura accionista com a terra que está a ser usurpada aos pobrezinhos habitantes e os brasileiros com capital financeiros e com o “know how”.
É assim neste país. Quem detém o poder, detém o direito de enriquecer sem olhar para os meios, nem que isso signifique sacrificar a vida de milhões dos “sem poder”. É assim neste país samoriano. Os pobres servem de tapete vermelho dos ricos. Passam-lhes por cima sem poder de reacção. É assim, neste país. O Governo é eleito pelos pobres para servir os interesses dos “men bastards”. Os governantes que elegemos usam o Governo para fechar os seus fabulosos negócios. Nós assistimo-los passivamente. Com razão, qualquer tentativa de manifestação é uma bala de borracha.
Este é o problema de um país governado por “men bussiness”, em que o interesse pessoal se sobrepõe a quaisquer interesses colectivos.
Lázaro Mabunda, O País. Confira aqui!
2 comments:
estamos de volta ao tempo dos PRAZOS do vale Zambeze.
Nao sabemos todos os detalhes e o Governo esta a negar, mas isto é preocupante!
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