O escritor moçambicano Mia Couto afirmou que vê com preocupação a forte presença chinesa em Moçambique, mas pondera que não se deve "ter medo da China", reporta hoje (sexta-feira) a agência Lusa.
"Não existe quem não tenha intenção predadora na relação com os outros. Não conheço quem faça investimento e que não seja para extrair lucro em proveito próprio. Mas acho que é preciso não ter medo da China", discutiu o autor ao comentar o estreitamento das relações entre os dois países na semana em que o chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, realiza uma visita à República Popular da China, a convite do seu homólogo, Hu Jintao.
"Há algumas forças chinesas intervindo em Moçambique que são predadoras mesmo. Mas se fazem é porque alguém abriu a porta. Eu tenho combatido muito essa questão de ver o culpado fora", prosseguiu.
Mia Couto defende que não se deve encontrar culpados e critica a "tentação" dos africanos de se verem como "simples vítimas".
"Se essa relação com a China for uma relação que não traz vantagem para os moçambicanos, é por culpa possivelmente de Moçambique", sublinhou.
Mia Couto critica o tipo de modelo de desenvolvimento adoptado pelo seu país.
"O problema é o próprio modelo de desenvolvimento copiado desta economia de mercado neo-liberal em que o Estado tem uma intervenção mínima. Eu me preocupo muito e vejo o resultado que está a dar com esta crise que está sendo produzida", precisou o escritor.
"Moçambique arvora-se como um dos países de África que tem maior nível de investimentos estrangeiros, mas quando essa bolha rebentar qualquer coisa vai acontecer", alertou.
Questionado sobre a relação de Moçambique com o Brasil, Mia Couto muda o tom e afirma ser positiva. Assim como a China, o Brasil apresenta-se como um país emergente nos BRICS (sigla que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
"Os africanos sempre ansiaram ter um tio rico. Nós queremos ter um parceiro que esteja visível no mundo de multipolaridade em que as vozes são importantes para marcarem diferenças e opções. Se vamos à China, nós também vamos ao Brasil e pomos em confronto alternativas, uma coisa que não existia antes", reflectiu.
O autor afirma ter um olhar positivo sobre a maneira como o Brasil tem defendido os interesses do continente africano nos fóruns internacionais, assim como a forma que o Brasil tem conhecido "melhor África".
Mia Couto encontra-se em Salvador, na Baía, onde foi convidado para participar do Congresso Luso-Afro-Brasileiro (CONLAB) de Ciências Sociais.
(RM/Lusa)
"Não existe quem não tenha intenção predadora na relação com os outros. Não conheço quem faça investimento e que não seja para extrair lucro em proveito próprio. Mas acho que é preciso não ter medo da China", discutiu o autor ao comentar o estreitamento das relações entre os dois países na semana em que o chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, realiza uma visita à República Popular da China, a convite do seu homólogo, Hu Jintao.
"Há algumas forças chinesas intervindo em Moçambique que são predadoras mesmo. Mas se fazem é porque alguém abriu a porta. Eu tenho combatido muito essa questão de ver o culpado fora", prosseguiu.
Mia Couto defende que não se deve encontrar culpados e critica a "tentação" dos africanos de se verem como "simples vítimas".
"Se essa relação com a China for uma relação que não traz vantagem para os moçambicanos, é por culpa possivelmente de Moçambique", sublinhou.
Mia Couto critica o tipo de modelo de desenvolvimento adoptado pelo seu país.
"O problema é o próprio modelo de desenvolvimento copiado desta economia de mercado neo-liberal em que o Estado tem uma intervenção mínima. Eu me preocupo muito e vejo o resultado que está a dar com esta crise que está sendo produzida", precisou o escritor.
"Moçambique arvora-se como um dos países de África que tem maior nível de investimentos estrangeiros, mas quando essa bolha rebentar qualquer coisa vai acontecer", alertou.
Questionado sobre a relação de Moçambique com o Brasil, Mia Couto muda o tom e afirma ser positiva. Assim como a China, o Brasil apresenta-se como um país emergente nos BRICS (sigla que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
"Os africanos sempre ansiaram ter um tio rico. Nós queremos ter um parceiro que esteja visível no mundo de multipolaridade em que as vozes são importantes para marcarem diferenças e opções. Se vamos à China, nós também vamos ao Brasil e pomos em confronto alternativas, uma coisa que não existia antes", reflectiu.
O autor afirma ter um olhar positivo sobre a maneira como o Brasil tem defendido os interesses do continente africano nos fóruns internacionais, assim como a forma que o Brasil tem conhecido "melhor África".
Mia Couto encontra-se em Salvador, na Baía, onde foi convidado para participar do Congresso Luso-Afro-Brasileiro (CONLAB) de Ciências Sociais.
(RM/Lusa)
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