Os benefícios da guerra civil, que ceifou milhares de vidas humanas e destruiu importantes infra-estruturas socioeconómicas, foram açambarcados pela classe dirigente do partido no poder desde a Independência, ocorrida a 25 de Junho de 1975. As elites do partido no governo ficaram com a banca, energia, empresas do Estado, portos e caminhos-de-ferro, etc.
Estão feitas com as multinacionais que exploram as nossas riquezas como o carvão e gás natural, enquanto eles pedem ao povo para esperar porque, dizem, não é de imediato que se ganha tudo.
Ao mesmo tempo, eles estão no Parlamento e são dirigentes nas empresas do Estado e nos institutos públicos, isto é, são árbitros enquanto jogadores.
Estão no governo para favorecer as empresas privadas onde se encontram acocorados, a abocanharem empreendimentos do Estado sem concurso público.
Em conluio com estrangeiros gananciosos, devastam as nossas florestas e roubam os nossos mais variados minerais.
A perpetuação no poder do mesmo partido por eleições fraudulentas virou a regra do jogo “democrático”, com a conivência dos observadores internacionais que, de forma recorrente, ao fim de cada eleição toca a mesma música do enfadonho refrão e enjoativo, revelando falta de seriedade, segundo o qual embora tenha havido irregularidades, elas não influenciaram o resultado final. Essa falsa teoria matemática só é aplicável nos países empobrecidos.
O que a maioria dos observadores internacionais faz connosco não faz nem mesmo a metade nos seus países de origem, porque lá a democracia é algo sério que mexe com a alma dos seus povos. Nos nossos países, os observadores abençoam os ditadores e legitimam governantes que se mantêm no poder por manobras fraudulentas desde que se comprometam em defender os interesses económicos e financeiros das multinacionais que expropriam as nossas riquezas em troca de missangas e pulseiras de prata, como acontecia nos primórdios da ocupação colonial.
O fosso da pobreza está cada vez mais fundo. Os bispos da Igreja Católica denunciam esta situação no seu comunicado de 13 de Novembro de 2012: as populações continuam a ter uma vida muito dura, marcada por uma situação de pobreza cada vez mais acentuada, sobretudo nas zonas rurais do país. Não obstante haja cada vez mais riqueza, os pobres são cada vez mais pobres.
Se a guerra civil, entre 1976-1992, visava libertar Moçambique da escravatura imposta pelos libertadores, pode-se afirmar, sem margem de qualquer erro, que falhou, em absoluto, nos seus objectivos essenciais. Os guerrilheiros da RENAMO não só foram marginalizados do processo de enriquecimento ilícito, em curso em todos os escalões do poder instituído do nosso país, como também é objecto de sucessivos golpes, alguns consentidos pela liderança da RENAMO, com vista ao seu gradual aniquilamento como força alternativa ao poder. Se nada for alterado, a RENAMO vai ser reduzida a uma pequena peça destinada ao museu da História recente de Moçambique.
Edwin Hounnou, CORREIO DA MANÃ – 04.12.2012, no Moçambique para todos
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