DEPOIS de um aparente abrandamento, a cidade de Maputo
voltou a viver em quase todos os acessos, e a qualquer hora do dia, um caos na
condução, caracterizado por intermináveis filas de viaturas em todos os sentidos
e direcções.
Já
não se tem ao certo a noção da fase em que o fluxo de viaturas se reduz, como no
antigamente. Entre a hora de ponta e a hora morta já não há diferença. A
situação está a criar transtornos para os condutores e para o público de uma
forma geral que vê as suas agendas do quotidiano
comprometidas.
Já
no centro da cidade, andar a pé chega a ser mais prático do que usar um meio de
transporte pois leva-se mais tempo sentado dentro de uma viatura do que
caminhando.
Os
condutores aliam a situação ao reinício do ano lectivo escolar, outros ao
crescente parque automóvel e outros ainda à indisciplina praticada por muitos
condutores na via pública, com destaque para os motoristas dos transportes
semi-colectivos de passageiros, que movidos pela ganância do dinheiro, fazem de
tudo e mais alguma coisa para se livrarem da “stressante” fila de
espera.
A
zona baixa da cidade, concretamente no terminal de transporte semi-colectivo de
passageiros da rua Ngungunhana( Anjo Voador) é onde convergem “chapeiros idos de
diferentes pontos da cidade. Para além destes, o espaço é de eleição dos
instrutores de algumas escolas de condução da Praça para a prática de algumas
manobras.
Encontramos no local o instrutor Eduardo Duvane em pleno
exercício das suas actividades. Acedeu ao nosso convite para falar do impacto
deste fenómeno na instrução. Diz ser simplesmente lamentável o que por ali e
noutros pontos da cidade acontece mas que, é no meio de tanta dificuldade que a
vida acontece.
Os
chapeiros, por exemplo, ao invés de usarem a “Ngunguhana” como ponto de saída,
depois de entrarem pela rua da Imprensa, eles inventam uma rota, nos sentido
contrário (Fortaleza do Maputo/Maputo Shoping Centre), invertendo a marcha e
paralisam o trânsito. “E quando isso acontece o nosso tempo de trabalho é posto
em causa”, exemplifica.
Já a
instruenda Helena Francisco, lamenta o facto de muitos alunos não cumprirem na
íntegra o tempo das aulas práticas de condução, muitas vezes presos no
congestionamento.
Os
espaços para a prática de manobras têm sido cada vez mais reduzidos, por conta
do congestionamento. O Instrutor Duvane, fala de alguns que sobram como por
exemplo o da Fábrica de óleos Ginwala, o do Parque dos Continuadores e um outro
na zona da carreira de tiro, na Sommerchield, porque os restantes foram tomados
pelos carros em movimento e ou estacionados.
REDUZEM AS VIAGENS E AS RECEITAS
Se
por um lado há quem chora por causa da demora nas filas e consequentes
compromissos adiados, por outro há os que choram por verem a receita cada vez
mais reduzida: os transportadores semi-colectivos de
passageiros.
Alexandre Fumo é condutor da rota Praça dos Combatentes
/Anjo voador e descreve o seu trabalho, nos últimos tempos, como um verdadeiro
fracasso.
“É
muito difícil trabalhar nas condições de hoje. Levamos mais tempo parados do que
em movimento. Nalguns casos os passageiros nos abandonam mesmo antes de chegar
aos seus destinos, preferindo andar a pé, por causa da demora”,
disse.
Hoje, Fumo leva entre 50 e uma hora no percurso Praça
dos Combatentes/Baixa contra os anteriores 20 a 25 minutos em situação normal. O
número de viagens reduziu das anteriores 14 viagens para as actuais sete a oito
por dia.
Na
mesma situação de Fumo está o condutor dos semi-colectivos, Hélio Tovela que faz
a rota Xipamanine/Anjo Voador. Num tom irónico Tovela diz que Xipamanine está
cada vez mais distante do terminal da Baixa que no antigamente pois, uma viagem
que antes era feita entre 15 a 20 minutos, agora é feita entre 40 a 45 minutos,
devido ao congestionamento. Assim, o número de viagens que faz reduziu de 14
para nove.
PRETEXTOS PARA INDISCIPLINA
Porque a luta contra o relógio é o lema dos “chapeiros”,
alguns condutores vêm a indisciplina como alternativa para não verem o seu
negócio deitado por água abaixo. Vão dai os constantes encurtamentos de rota, a
condução em contra-mão e actos inconfessáveis que nos são dado a presenciar na
via pública.
Os
chapeiros estão a atravessar momentos muito difíceis nos últimos dias. Não sei
se tem a ver com o regresso às aulas pois há pais que não deixam seus filhos
sujeitos ao martírio de ficar longas horas a espera dos “chapas” correndo assim
o risco de atraso, quando eles têm carros. Assim, mesmo os que podiam deixar
seus carros em casa levam-nos em nome das crianças ”, conclui.
Para
além do crescimento do Parque automóvel, Fumo fala da falta de vias de acesso
alternativas. “O que acontece é que aumentou o número de carros e as estradas
continuam as mesmas. Assim, diariamente, convergimos nas mesmas vias”,
disse.
Constantemente na rua a transportar repórteres, está o
condutor do nosso Jornal, Eraldo Cumbana que muitas vezes viu agendas dos
colegas comprometidas e encontros de trabalho adiados, tudo por conta da demora
causada pelo congestionamento.
“Nalgum momento acabamos desacreditados pelos colegas.
Muitas vezes nos contactam e, cientes de que estamos perto, assumimos estar
prontos para os levar do Jornal para um determinado e vice-versa. O que muitas
vezes não acontece dentro do período previsto pois, levamos muito tempo no
congestionamento”, exemplifica.
Para
ele o reinício das aulas interveio de certa forma na condução porque foi
precisamente no dia do reinício que o já caótico trânsito se complicou nas
estradas de Maputo e Matola. “Na verdade sempre houve congestionamento mas nos
últimos dias estamos a experimentar momentos extremamente difíceis”, disse
Cumbana.
TRANSPORTE PÚBLICO SEGURO É A
SOLUÇÃO
A
oferta de um sistema de transporte público seguro e atractivo é a única saída
para o problema que Maputo e Matola vêm vivendo os últimos tempos, segundo o
Director de Transportes no Conselho Municipal de Maputo, Carlos
Dante.
Sobre o que dita o congestionamento a qualquer hora do
dia, a nossa fonte aponta o crescimento do parque automóvel, a indisciplina na
condução e ainda o estacionamento irregular.
“Se
for a ver a série das matrículas que muitos carros ostentam hoje, certamente
concluirá que o parque automóvel não pára de crescer e os acessos tornam-se
poucos para tamanho número de viaturas. Por outro lado está a indisciplina dos
condutores que movidos pela pressa, ultrapassam pela esquerda para, muito
rapidamente chegarem ao destino. Assim, confluindo no mesmo sítio, ao invés de
resolverem o seu problema complicam a vida dos restantes”,
disse.
Deu
ainda como exemplo, o facto de muitos estacionarem as suas viaturas no meio da
faixa de rodagem colocando sinais de emergência, o que não ajuda em nada aos
restantes utentes pois, por conta de um indivíduo serão obrigados a parar e a
fazer filas enormes.
Porque não há transporte público funcional, pessoas de
uma mesma casa, em número de quatro por exemplo, acabam movimentando todos os
que têm e isso não ajuda.
CORREDOR DO METRO AINDA EM ESTUDO
Em
pacote, estão segundo Dantes, projectos para minimizar o problema de transporte
na cidade de Maputo e Matola mas estes estão ainda na fase de estudo. Um deles é
o do metro que irá ligar Matola e Maputo que está na fase de estudo do impacto
ambiental.
Para
além do metro, está igualmente em estudo o projecto dos corredores específicos
para o transporte público cujas obras só poderão acontecer, segundo o nosso
entrevistado, em finais do presente ano.
“Temos a esperança depositada nos corredores porque com
a entrada destes em funcionamento, seguramente haverá transporte funcional e
cumprir-se-á com os horários, uma vez que os estes serão exclusivamente usados
pelos autocarros de transporte público”, disse.
No
projecto executivo, segundo Dante, está o corredor Magoanine/Baixa e
Ponto-Final/Museu que será o piloto.
Anabela Massingue , Notícias
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