Thursday, 19 February 2015

CONDUÇÃO NA CIDADE DE MAPUTO: Congestionamento de bradar aos céus!

DEPOIS de um aparente abrandamento, a cidade de Maputo voltou a viver em quase todos os acessos, e a qualquer hora do dia, um caos na condução, caracterizado por intermináveis filas de viaturas em todos os sentidos e direcções.
Já não se tem ao certo a noção da fase em que o fluxo de viaturas se reduz, como no antigamente. Entre a hora de ponta e a hora morta já não há diferença. A situação está a criar transtornos para os condutores e para o público de uma forma geral que vê as suas agendas do quotidiano comprometidas.
Já no centro da cidade, andar a pé chega a ser mais prático do que usar um meio de transporte pois leva-se mais tempo sentado dentro de uma viatura do que caminhando.
Os condutores aliam a situação ao reinício do ano lectivo escolar, outros ao crescente parque automóvel e outros ainda à indisciplina praticada por muitos condutores na via pública, com destaque para os motoristas dos transportes semi-colectivos de passageiros, que movidos pela ganância do dinheiro, fazem de tudo e mais alguma coisa para se livrarem da “stressante” fila de espera.
A zona baixa da cidade, concretamente no terminal de transporte semi-colectivo de passageiros da rua Ngungunhana( Anjo Voador) é onde convergem “chapeiros idos de diferentes pontos da cidade. Para além destes, o espaço é de eleição dos instrutores de algumas escolas de condução da Praça para a prática de algumas manobras.
Encontramos no local o instrutor Eduardo Duvane em pleno exercício das suas actividades. Acedeu ao nosso convite para falar do impacto deste fenómeno na instrução. Diz ser simplesmente lamentável o que por ali e noutros pontos da cidade acontece mas que, é no meio de tanta dificuldade que a vida acontece.
Os chapeiros, por exemplo, ao invés de usarem a “Ngunguhana” como ponto de saída, depois de entrarem pela rua da Imprensa, eles inventam uma rota, nos sentido contrário (Fortaleza do Maputo/Maputo Shoping Centre), invertendo a marcha e paralisam o trânsito. “E quando isso acontece o nosso tempo de trabalho é posto em causa”, exemplifica.
Já a instruenda Helena Francisco, lamenta o facto de muitos alunos não cumprirem na íntegra o tempo das aulas práticas de condução, muitas vezes presos no congestionamento.
Os espaços para a prática de manobras têm sido cada vez mais reduzidos, por conta do congestionamento. O Instrutor Duvane, fala de alguns que sobram como por exemplo o da Fábrica de óleos Ginwala, o do Parque dos Continuadores e um outro na zona da carreira de tiro, na Sommerchield, porque os restantes foram tomados pelos carros em movimento e ou estacionados.


















REDUZEM AS VIAGENS E AS RECEITAS
Se por um lado há quem chora por causa da demora nas filas e consequentes compromissos adiados, por outro há os que choram por verem a receita cada vez mais reduzida: os transportadores semi-colectivos de passageiros.
Alexandre Fumo é condutor da rota Praça dos Combatentes /Anjo voador e descreve o seu trabalho, nos últimos tempos, como um verdadeiro fracasso.
“É muito difícil trabalhar nas condições de hoje. Levamos mais tempo parados do que em movimento. Nalguns casos os passageiros nos abandonam mesmo antes de chegar aos seus destinos, preferindo andar a pé, por causa da demora”, disse.
Hoje, Fumo leva entre 50 e uma hora no percurso Praça dos Combatentes/Baixa contra os anteriores 20 a 25 minutos em situação normal. O número de viagens reduziu das anteriores 14 viagens para as actuais sete a oito por dia.
Na mesma situação de Fumo está o condutor dos semi-colectivos, Hélio Tovela que faz a rota Xipamanine/Anjo Voador. Num tom irónico Tovela diz que Xipamanine está cada vez mais distante do terminal da Baixa que no antigamente pois, uma viagem que antes era feita entre 15 a 20 minutos, agora é feita entre 40 a 45 minutos, devido ao congestionamento. Assim, o número de viagens que faz reduziu de 14 para nove.














PRETEXTOS PARA INDISCIPLINA
Porque a luta contra o relógio é o lema dos “chapeiros”, alguns condutores vêm a indisciplina como alternativa para não verem o seu negócio deitado por água abaixo. Vão dai os constantes encurtamentos de rota, a condução em contra-mão e actos inconfessáveis que nos são dado a presenciar na via pública.
Os chapeiros estão a atravessar momentos muito difíceis nos últimos dias. Não sei se tem a ver com o regresso às aulas pois há pais que não deixam seus filhos sujeitos ao martírio de ficar longas horas a espera dos “chapas” correndo assim o risco de atraso, quando eles têm carros. Assim, mesmo os que podiam deixar seus carros em casa levam-nos em nome das crianças ”, conclui.
Para além do crescimento do Parque automóvel, Fumo fala da falta de vias de acesso alternativas. “O que acontece é que aumentou o número de carros e as estradas continuam as mesmas. Assim, diariamente, convergimos nas mesmas vias”, disse.
Constantemente na rua a transportar repórteres, está o condutor do nosso Jornal, Eraldo Cumbana que muitas vezes viu agendas dos colegas comprometidas e encontros de trabalho adiados, tudo por conta da demora causada pelo congestionamento.
“Nalgum momento acabamos desacreditados pelos colegas. Muitas vezes nos contactam e, cientes de que estamos perto, assumimos estar prontos para os levar do Jornal para um determinado e vice-versa. O que muitas vezes não acontece dentro do período previsto pois, levamos muito tempo no congestionamento”, exemplifica.
Para ele o reinício das aulas interveio de certa forma na condução porque foi precisamente no dia do reinício que o já caótico trânsito se complicou nas estradas de Maputo e Matola. “Na verdade sempre houve congestionamento mas nos últimos dias estamos a experimentar momentos extremamente difíceis”, disse Cumbana.
TRANSPORTE PÚBLICO SEGURO É A SOLUÇÃO
A oferta de um sistema de transporte público seguro e atractivo é a única saída para o problema que Maputo e Matola vêm vivendo os últimos tempos, segundo o Director de Transportes no Conselho Municipal de Maputo, Carlos Dante.
Sobre o que dita o congestionamento a qualquer hora do dia, a nossa fonte aponta o crescimento do parque automóvel, a indisciplina na condução e ainda o estacionamento irregular.
“Se for a ver a série das matrículas que muitos carros ostentam hoje, certamente concluirá que o parque automóvel não pára de crescer e os acessos tornam-se poucos para tamanho número de viaturas. Por outro lado está a indisciplina dos condutores que movidos pela pressa, ultrapassam pela esquerda para, muito rapidamente chegarem ao destino. Assim, confluindo no mesmo sítio, ao invés de resolverem o seu problema complicam a vida dos restantes”, disse.
Deu ainda como exemplo, o facto de muitos estacionarem as suas viaturas no meio da faixa de rodagem colocando sinais de emergência, o que não ajuda em nada aos restantes utentes pois, por conta de um indivíduo serão obrigados a parar e a fazer filas enormes.
Porque não há transporte público funcional, pessoas de uma mesma casa, em número de quatro por exemplo, acabam movimentando todos os que têm e isso não ajuda.












CORREDOR DO METRO AINDA EM ESTUDO
Em pacote, estão segundo Dantes, projectos para minimizar o problema de transporte na cidade de Maputo e Matola mas estes estão ainda na fase de estudo. Um deles é o do metro que irá ligar Matola e Maputo que está na fase de estudo do impacto ambiental.
Para além do metro, está igualmente em estudo o projecto dos corredores específicos para o transporte público cujas obras só poderão acontecer, segundo o nosso entrevistado, em finais do presente ano.
“Temos a esperança depositada nos corredores porque com a entrada destes em funcionamento, seguramente haverá transporte funcional e cumprir-se-á com os horários, uma vez que os estes serão exclusivamente usados pelos autocarros de transporte público”, disse.
No projecto executivo, segundo Dante, está o corredor Magoanine/Baixa e Ponto-Final/Museu que será o piloto.

Anabela Massingue , Notícias

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