Saturday 14 February 2015

A indústria dos raptos e a vontade de não fazer nada

Os raptos estão aí de volta. A nova temporada começou logo que a euforia colectiva das festas do fim do ano deu lugar ao corre-corre frenético dos dias. A nova temporada não traz, no entanto, novidades. O “modus operandi” reproduz-se na mesma narrativa macabra de “gun point”, cativeiro e resgates milionários. A podridão repete-se incólume e envolve todo o cenário do nosso quotidiano. Mas a imagem mais saliente do enredo é a de uma Polícia de braços cruzados… um cruzar de braços cúmplice. Segundo minhas fontes na Policia, a corporação tem condições para, se não evitar os raptos, desmantelar os gangues. O ano passado, a Policia foi equipada com tecnologia de rastreio de comunicação usada noutros cantos do mundo para combater o crime. A engenhoca não faz escutas de telefone, mas permite captar as ligações entre os vários intervenientes e a sua localização. A partir do momento em que o raptor começa a exigir um resgate à família de uma vítima, a Polícia pode colocar-se no seu encalco. Mas essas maquinetas não estão a ser usadas, pois é conveniente que se reproduza uma imagem de falta de meios. Essa imagem esconde, na verdade, uma outra mais aterradora: dentro da Polícia há quem esteja a enriquecer com os raptos. No ano passado, quando o antigo PGR Augusto Paulino se preparava para desmascarar essa rede, ele notou que a sujeira chegava até ao pescoço do nosso Estado. Agora, que temos novo Governo e novo ministro do Interior, talvez se faça alguma coisa. Mas, dizem-me, tem de se ir com calma (eu acho que calma é perversa e permite que esses ladrões de corpos e almas continuem a extorquir dinheiro alheio). Em todo o caso, qualquer que seja a solução, Filipe Nyusi tem de nomear já um novo comandante-geral da Polícia. O Khalau não serve, e como o seu padrinho partiu, Nyusi tem de agir já. Este será o primeiro passo para se desmantelar os tentáculos lá dentro. Disseram-me que o José Pacheco, quando era ministro do Interior, tentou fazer isso. Mas as aranhas regressaram e aninharam-se bem entrelaçadas.


(Marcelo Mosse, Canalmoz)

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