Monday 14 October 2013

O "CASO DIAMANTINO MIRANDA", O DUMBA-NENGUISMO DO NOSSO GOVERNO E A NOSSA MOCAMBICANIDADE DE VIDRO EM 4 PONTOS

1. É uma interpretação manifestamente politizada, infantil e infeliz essa de chamarem de "assunto de Estado" às declarações privadas do treinador de futebol português, Diamantino Miranda, gravadas sem o seu consentimento e proferidas no calor de uma discussão pessoal havida apenas entre ele e um jornalista desportivo. Diamantino Miranda não proferiu o pretenso "insulto ao povo moçambicano" como representante do Estado português, meus senhores. E mais, o objecto do "insulto", por mais generalizado que tenha sido, não é em nenhuma circunstância o povo ou o Estado moçambicano. Ele afirmou tais palavras no contexto da discussão que travava com o jornalista e manifestando o seu descontentamento, indignação ou frustração pelo modo como o futebol moçambicano de alta competição é gerido e como os nossos jornalistas desportivos o têm abordado no seu trabalho. Pode ter sido extremista na generalização, como todo e qualquer indivíduo o pode fazer no calor de uma discussão. Meus senhores, é tão verdade que há corrupção no nosso Mocambola como que há jornalistas que agem como autênticos mercenários, clubistas ou intriguistas nas suas abordagens desportivas, favorecendo ou prejudicando uns e outros.

2. Os nossos governantes, particularmente os responsáveis pelo "tens 48 horas para sair deste país, c*******" demonstram, mais uma vez, que se deixam agir por impulsos circunstanciais, subjectivos e populistas nas suas decisões do que por preceitos legais objectivos e que visam em última instância a reposição da justiça ou da verdade. Diamantino Miranda disse o que disse sem saber que estava a ser gravado e sempre em reacção ao que o jornalista afirmava ou questionava, sem saber que estava a ser atraído para uma ratoeira que seria instrumentalizada, de má fé, para que fosse elemento de prova e de fundamentação para que o GOVERNO MOCAMBICANO o expulsasse sumariamente do país. Isto é, no mínimo, patético!

3. Esses "moçambicanos de gema" que estão com o cabedal inchado de orgulho e a ter orgasmos múltiplos de satisfação pela decisão governamental de expulsão do treinador português seriam capazes de sentir o mesmo se eu andasse por aí a provocar cidadãos estrangeiros e a gravar clandestinamente as nossas conversas para que também sejam usadas como prova para que a Ministra do Trabalho - ou o Ministro do Interior, ou o Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação - os declarar "personna non grata" e determinar a sua expulsão imediata do país? Francamente... Quantos cidadãos estrangeiros andam por aí, em ambientes privados ou públicos, a chamar aos nossos compatriotas de nomes muito mais indignos e degradantes, de forma indiscriminada e generalizada? Há chineses que espancam cidadãos moçambicanos aqui. Há sul-africanos que nos insultam à torto e à direito aqui no nosso próprio país. Há brasileiros, nigerianos, vietnamitas ou angolanos que nos ofendem todos os dias aqui. Não são expulsos em 24 ou 48 horas apenas porque não são gravados em off record pelos nossos jornalistas, não é verdade?

4. Acredito que os que se ofenderam e se têm insurgido pública e veementemente contra as palavras ditas por Diamantino Miranda, em FÓRUM PRIVADO, são mesmo os ladrões a quem ele se referia. Ou têm relações directa com os visados. Ou têm pendentes históricos de socialização com os portugueses. Admira-me muito que só tenho estado a ver reacções condenatorias, muitas delas sem fundamentação racional objectiva, apenas de alguns jornalistas, dirigentes desportivos, membros do Governo moçambicano e um ou outro "moçambicano de gema" com indisfarcaveis nuances xenófobas à flor da pele... Nem eu, nem a comunidade desportiva no geral ou os restantes mais de 22 milhões de moçambicanos se têm insurgido, em público ou em privado, contra Diamantino Miranda... Porque será?



Edgar Barroso, Facebook

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