Thursday 10 October 2013

Intrinsecamente inimigos jamais fomos

A alternância no poder e a exclusão é que nos separa…Trincheiras tribais maquiavélicas convenientemente utilizadas eis a questão

Beira (Canalmoz) – Os factos falam por si. A luta anti-colonial foi feita por todos. A luta pela democracia do mesmo modo foi feita por moçambicanos de todas as origens.
Socialmente os moçambicanos ca...sam-se entre si e conseguem viver nas suas cidades e vilas sem ter em conta a origem étnica ou racial.
Embora se possam registar fenómenos de separação ou tendências para preterir outros com base na etnia isso possui motivações muitas vezes políticas, na verdade aproveitamentos políticos por pessoas que utilizam essa opção ou alternativa como forma de conquistarem ou manterem o poder.
Deve haver clareza em apontar o dedo acusador para a verdadeira causa das desavenças políticas que grassam no país.
Assim como nos tempos da luta de libertação nacional, houve pessoas que se entrincheiraram na tribo, para fazer valer suas posições e objectivos, essa maneira de fazer política não morreu com o advento da independência.
Julgando e avaliando a situação pré-independência, pós-independência e a actual chega-se facilmente à conclusão de que não era a ideologia marxista ou outra que produzia clivagens e desentendimentos entre os moçambicanos. A ter-se que falar de ideologia só se pode afirmar que era ideologia do poder em si que movia os promotores da intolerância, da eliminação dos outros e da sua supremacia.
Toda uma argumentação acusatória e excludente não era e não é mais do que um artifício para o exercício do poder antes só político mas agora também governamental.
É normal que se eliminem ferozmente “sombras” quando a questão é o poder entre homens especialmente numa sociedade em construção.
Aquela ambição que normalmente move os homens pode exacerbar-se quando entram em perspectiva possibilidade de exercer o poder de forma exclusiva.
Se antes era o ambiente poluído por rebentos ideológicos produzidos e “oferecidos” por patronos ou fornecedores de armas e outros recursos na luta de libertação nacional. Há relatos guardados nas páginas escurecidas pelo tempo que se referem a possibilidade de controlo de Eduardo Mondlane por alguns dos expoentes da Frelimo pré-independência. Havia uma orientação clara sobre quem deveria ocupar a direcção do movimento de libertação e para isso enveredou-se numa forte ofensiva de intoxicação ideológica. Tombando Mondlane o que evidentemente serviu as forcas “marxistas e leninistas bem como maoístas emergentes havia que eliminar ou decepar seus rebentos. O triunvirato concebido e implementado pelos agentes de Moscovo surtiu seus efeitos pois rapidamente retirou de cena Uria Simango, vice-presidente que deveria ter assumido a presidência com a morte de Mondlane.
É o que hoje fazem os políticos outrora defensores de supostos socialismos, contra capitalismos que alegadamente se manifestam no seio da Frelimo que demonstra de forma inegável que não se tratava nada diferenças ideológicas mas do exercício do poder em si.
Afastar todos os “empecilhos” do caminho foi cumprido na íntegra e claro que isto não se faz sem consequências.
Houve ajudas diversas, desde Moscovo passando por Lisboa que colocaram na Ponta Vermelha quem se julgava conveniente e consensual no seio da Frelimo.
Jamais fomos inimigos entre nós. Teremos sido ingenuamente marionetas de outros poderes fora do nosso controlo? Teremos sido convenientemente utilizados por interesses externos que perfilavam nas capitais internacionais e alguns terão aceitado de mão beijada executar funções e implementar estratégias tendo como troco o poder?
É a história dirão uns e outros dirão que é necessário reescrever-se a história de Moçambique.
Isso já está acontecendo de maneira tímida. Aqueles que poderiam facilitar uma incursão nesse sentido não se mostram dispostos a fazê-lo talvez por pactos secretos assinados ao longo do percurso.
Mas paulatinamente, de maneira persistente as verdades surgem quando menos se espera. Livros, depoimentos, declarações, já não são raros recusando a história oficial.
Abrir mão de certas verdades é considerado fatal e suicídio por alguns dos defensores do actual estado de coisas.
O percurso sinuoso que levou a independência e depois a actual situação de regime foi fruto do trabalho abnegado de moçambicanos de todas as origens e isso ninguém pode negar.
É evidente que o regime do dia se encontra alvoraçado com a possibilidade de perder controlo da situação política nacional. Perder mais municípios em eleições autárquicas é visto como inicio da derrocada de um regime muitas vezes fundado no silêncio e no envernizamento de suposto heroísmo de uns e reaccionarismo de outros.
Os moçambicanos aprenderam com sangue e sacrifício de que a “mentira tem pernas curtas”.
Esgotados os argumentos dos detentores do poder, chegou a hora de mudança de guarda democraticamente…
Isso é que constitui dificuldade enorme para alguns entenderem…
Nem a acomodação de agendas de enriquecimento rápido de alguns, nem nomeações para secretariados ou para PCAs e ministros, nem o jogo demográfico-político, enchendo as “urnas”, de Nampula com ministros, chefes de bancada e primeiros-ministros irão interromper a caminhada pelo progresso de Moçambique.


 (Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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