Sunday 6 October 2013

“Embaciar os cenários” já não impede que se veja o panorama real

Estão ferozmente a negociar com os recursos públicos moçambicanos…

Os recursos naturais não são de uma família ou grupo especial de indivíduos…


Beira (Canalmoz) – Há muito que soam alertas sobre aspectos obscuros na política de gestão da coisa pública em Moçambique.
Já não se trata da aparentemente d...
ivisão e partilha do parque estatal industrial ou daquilo que constitui o grosso das empresas agro-industriais de Moçambique entre gente da nomenclatura e suas relações empresariais e políticas. Isso aconteceu e foi a génese da maioria dos “capitalistas” moçambicanos.
Agora, o negócio é de um nível e profundidade bem maior. Jogam-se concessões de milhares de hectares com subsolo rico e férteis.
A complexidade dos fenómenos actuais evoluiu e já atinge proporções alarmantes e perigosas.
O lobby das multinacionais instalou-se e domina em Maputo.
Exemplos abundam sobre a inexistência do sentido de Estado e orgulho dos nossos dirigentes que não hesitam em almoçar e jantar com os executivos do topo das multinacionais com firmes interesses nos recursos minerais de Moçambique.
Abandona-se o formalismo de estado e todas as normas de protocolo para cimentar negócios em que se tem um determinado particular.
A atribuição de autorizações e concessões para explorar recursos ornou-se na nova fórmula de enriquecimento rápido.
Não é o valor de mercado o que está em causa nas negociatas mas aquilo que fica como contrapartida individual. Um pouco como algumas histórias do Empoderamento Económico Negro em voga na África do Sul, a condição primeira para fazer parte do clube é ser membro do partido governamental.
Qualquer acusação de cumplicidade das multinacionais e seus governos deve ser questionada pois quem se oferece ao desbarato são os governantes e políticos moçambicanos.
“Se vendes mais barato que a concorrência, muitos serão os clientes”.
É tempo de estabelecer regras sobre como se tratam os recursos naturais deste país, em nome da boa governação, da normalidade governativa e da responsabilidade inalienável de quem governa.
Jantaradas ou almoços, depósitos bancários e participação financeira em empreendimentos de grande vulto não podem substituir as obrigações que os governantes possuem para com os governados e o país.
Este país não pode caminhar para a perdição só porque alguém decidiu enriquecer muito rapidamente e com base nas prerrogativas da posição ocupada para atacar o património em seu benefício.
Este país não pode viver à sombra de escândalos da sua administração pública.
Há inúmeros fenómenos que justificam catalogação de tipo novo. Há gente morbidamente envolvida em exercícios lesa-pátria.
A ambição é legítima e humana mas existem limites aceitáveis mesmo para ela.
Quando dentro de uma sociedade se receia criticar porque o chefe não gosta e se pode sofrer represálias desagradáveis isso concorre para o estabelecimento de um ambiente pesado, promotor do imobilismo. Quando dentro de um partido político se teme falar com pensamento próprio, estamos em presença da falência de um partido, pois seus fundamentos foram corroídos por práticas politicamente cancerígenas.
Subverter a ordem de importância das coisas e neste caso colocar o privado acima do público enraizou-se de tal forma que Moçambique transformou-se no “país do faz de conta”.
Vivem-se momentos de cultura política deformadora que merece uma atenção especial.
Uma geração imitadora de um consumismo insustentável na augura um bom futuro para o país. Queremos o que é bom mas não podemos sucumbir a sermos MCs de natureza duvidosa, sem criatividade e vivendo da bajulação.
Criticar com fundamento, denunciar energicamente as negociatas que alguns governantes querem transformar em norma de actuação governamental são as únicas alternativas válidas. Dar a conhecer aos moçambicanos que estamos a ser enganados por pessoas que se diziam “melhores” que aqueles que promoviam o “deixa-andar” nunca foi tão importante.
Compatriotas, convenhamos que a questão ultrapassa considerações ou filiação partidária. É um país e seu futuro que estão colocados em risco porque uma elite de rapina está a abocanhar o país. Acordemos e defendamos o que é de todos…

 (Noé Nhantumbo)

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