Saturday 2 April 2011

Mais uma pândega vai no adro

Inesperadamente, o Parlamento adiou a aprovação da resolução sobre a criação da Comissão ad-hoc incumbida de rever a Constituição da República. Mas pouco importa a sua protelação, até porque os moçambicanos já estão habituados a esse tipo de teatro protagonizado por actores amadores de muito mau gosto de sempre. Aliás, aqui o problema é outro.

Diante de tal situação, a de adiamento, é indiscutível: o Parlamento moçambicano é exemplo mais bem acabado de um parque de diversões – mais do que a Disneylândia –, além de um sentido de economia de esbanjamento e exibicionismo desenfreado à custa do cadavérico dinheiro público.

A preparação da revisão da lei-mãe prossegue em silêncio – e em segredo. E abrirá um rombo de 20 milhões de meticais nas contas públicas para o pagamento de subsídios (mas que forma mais cínica de dizer comissões!) aos membros da Comissão e para a realização de seminários nos quais tais doutos senhores irão afogar-se em sucessivos e massificados almoços regados com vinho e whisky dos mais caros que há no mercado.

As três equipas cravadas na Assembleia da República movimentam-se, qual orquestra em que cada instrumentista toca uma música diferente, para defender os interesses dos seus partidos políticos – na sua maioria, não explicado -, ao invés de resguardarem os legítimos interesses de um povo que é forçado a viver à intempérie na fatídica ilusão de que os seus “doutos” representantes - os mesmos que regularmente se comportam quais símios quando esbarram em um cacho de bananas - cuidarão do seu destino.

De um lado, está a turma dos “camaradas” que, com aquele ar de meros empregados públicos cientificamente preparados para produzir um documento, escrito em um idioma parecido com o português para aldrabar incautos, pregam fervorosamente a necessidade da revisão da Constituição. E não falam nos aspectos que se pretendem alterar. Mas todo mundo – pelo menos todo o ser humano em seu juízo e que não escamoteia a realidade - sabe que o fim último é acomodar os interesses do chefe-economicamente-todo-poderoso, também conhecido por Presidente da República.

Este grupo, na sua habitual chatice congénita, continua a demonstrar desprezo absoluto por alguns princípios básicos da democracia, valendo-se da maioria absoluta parlamentar. Prossegue indiferente ao eleitor, ao povo e à opinião pública.

No meio, temos uma espécie de “bobos da corte”. Desconhecem o que se pretende mudar na Constituição, mas não abdicaram de indicar um deputado. Aliás, em busca de holofotes, exigiram explicação sobre a revisão, mas como é sabido – por aquele saber de experiência feito – a turma dos “camaradas” tem alergia a qualquer tipo de esclarecimento e, por essa razão, faz ouvidos moucos, quando não, vem com conversa para boi dormir.

Do outro lado, encontra-se a turma dos “odientos” que tem o (péssimo) hábito de jogar tudo na sua vingança, além de fingir que é oposição - e eu também finjo que acredito. Mas, desta vez, eles têm um motivo legítimo para as suas demonstrações recorrentes de ódio. Recusam-se a embarcar, qual bestas de carga, na trapaça habilmente orquestrada pelos “camaradas” - ou não fossem, estes, políticos profissionais que medram à custa do subdesenvolvimento espiritual e cultural de um povo ensinado a dizer “viva”.

E o final desta novela é previsível: protagonistas e figurantes a darem beijinhos uns aos outros por gastarem muita energia – leia-se dinheiro – para algo que não irá beneficiar em nada o povo! Alguém interrompe essa marcha de divertimento?

Publicad0 por Shirangano

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