Monday 25 April 2011

AS BATALHAS POLÍTICAS DO PRESENTE EM MOÇAMBIQUE

Egos e elites atrapalhando os cenários…

Muitos dos políticos no activo e mesmo alguns que se dizem da reforma ou que lá deveriam estar manifestam-se preocupados com o rumo dos acontecimentos no país. Mas o que se pode constatar é uma tendência perigosa de recusa ou relutância em abordar abertamente tais assuntos ou acontecimentos. Existe uma indisfarçável postura de "avestruz”. Os problemas são negligenciados, sua importância ignorada e suas consequências constantemente desprezadas. Para o cúmulo de tudo alguns quadrantes de atrevem e arrogam o direito de mentir descaradamente e afirmar que o "Estado da Nação” é bom.

Se tal estado da nação fosse de facto bom não andariam estas pessoas preocupadas com a possibilidade de eclosão de manifestações em reivindicação da solução de problemas que milhares de pessoas sentem na carne todos os dias. As marchas de solidariedade e paz organizadas apressadamente, as proclamações do PR nos comícios de sua presidência aberta, tudo mostra que afinal a "mentira tem pernas curtas”. Não se pode entender de que solidariedade está falando certa gente quando todos os dias milhares de mendigos, idosos, deficientes visuais e de outra índole percorrem as ruas das cidades e vilas moçambicanas a busca de sustento ou de migalhas para subsistir mais um dia. Se um governo não consegue estabelecer um sistema de segurança social capaz de satisfazer as necessidades actuais dos cidadãos que deveriam ser assistidos por tal sistema está efectivamente falhando nas suas obrigações.

Quando milhares de crianças estudam debato de árvores e sem carteiras não se pode falar de sucesso. Quando os medicamentos estão fora de prazo e os hospitais com rotura de stocks de modo cíclico as coisas não estão bem. Se a policia viola constantemente os direitos humanos impunemente não se pode falar de estado de direito funcional. Se na agricultura e outras actividades económicas o cenário é crise e escassez crónica de produção nacional alguma coisa está falhando. Se nas indústrias extractivas se entrega de bandeja os recursos nacionais as corporações internacionais em nome de supostos Incentivos ao Investimento estrangeiro elimina-se uma fonte de recursos para financiamento do Orçamento Geral do Estado e aprofunda-se a dependência para com os parceiros internacionais.

Foi a inobservância dos preceitos básicos da boa-governação, a apetência para o lucro fácil e ilícito, a promoção da imunidade como forma de actuação na área judicial, o nepotismo, o sistema das cunhas e dos favores políticos, as nomeações fundamentadas em confiança política desnaturada que criaram as condições para o empobrecimento generalizado dos moçambicanos. Que não se continue a mentir atirando as culpas de tudo à guerra civil. Uma cultura de elogio tácito e cúmplice a tudo o que as lideranças afirmam aliena os cidadãos e envenena mentes de uma juventude que aparece inactiva e pobre de ideias. Há urna coerção efectiva de ideias e do debate político com vista a assegurar a manutenção do status quo.

Grande parte do tempo disponível no Parlamento é utilizado como plataforma de elogios a lideranças políticas e para recriminação dos opositores. Os deputados repetidamente nãos e cansam de vir a público e apresentar visões distorcidas da realidade moçambicana. Preferem discursar e elogiar suas chefias do que estudar e apresentar soluções para os problemas vividos pelos moçambicanos.
É este ambiente turvo e estagnado que corrói o país e mina activamente as suas possibilidades de desenvolvimento. Quem ignora os factos ou faz de conta que eles não existem acaba por pagar uma factura pesada.

Convenientemente observa-se um movimento na direcção da deturpação da história e seu açambarcamento por um grupo restrito de pessoas. Só o que elas alegadamente fizeram é que tem importância. Mais ninguém fez coisa alguma em Moçambique senão eles. E quando assim agem os políticos isso só constitui matéria-prima para o fabrico de conflitos que desabam em crises multiformes. É preciso que se lance uma mensagem permanente de alerta aos políticos para que não ignorem os sinais dos tempos e que comecem a pensar com a cabeça e não com as suas "panças”. Moçambique tem o seu ritmo próprio de desenvolvimento e as dinâmicas específicas como qualquer outro país. O que se está advogando como sendo como causas da pobreza abjecta em que subsistem os moçambicanos e enganador é uma autêntica diversão para se evitar abordar os problemas reais.

“Pó que não varre não desaparece” diz a sabedoria popular.

Ilusionismo politico foi tentado em outros países e mesmo entre nós durante muitos anos pretendia-se proclamar a existência de desenvolvimento através resoluções administrativas e politicas.
Ingenuamente alguns pretendiam que erradicar o tribalismo ou o racismo ou ainda a prostituição era uma questão de organizar um comício e dizer "Abaixo isto ou aquilo”. Os níveis de prostituição nunca foram tão altos como nos dias de hoje em Moçambique. A existência de tribalismo ultrapassa os discursos sobre a "Unidade Nacional”. É preciso liderança política cada vez mais clarividente e comprometida com os interesses nacionais e dos moçambicanos. Esta liderança tem de ser algo visível e comprovada através de acções e posicionamentos no campo real. Os mercenários e caçadores de vantagens tem de ver a sua actuação coarctada para bem da materialização dos anseios e aspirações legitimas dos moçambicanos.

Noé Nhantumbo, DIÁRIO DA ZAMBÉZIA – 22.04.2011, citado no Moçambique para todos

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