Monday 4 April 2016

Uma Educação à medida dos moçambicanos

 
 
Pode parece caricato, mas uma coisa temos de reconhecer: é deveras notável o trabalho feito pelo Ministério de Educação ao longo dos sensivelmente 41 anos de independência nacional. Foram 40 anos a produzir, em massa, indivíduos passivos e sem nenhuma emoção crítica a respeito de situações enviesadas que, diariamente, se sucedem ao seu redor. Foram 40 anos de produção de sujeitos com mentes estéreis ou infecundas, cuja única coisa que sabem fazer com esmero é idolatrarem o partido que apregoa futuro melhor.
A situação é, sem dúvidas, tão nacional e apresenta-se preocupante, uma vez que a cada dia que passa, fica claro que há um síndrome de ignorância adquirida instalada na nossa sociedade. Na verdade, o que temos vindo a assistir na sociedade moçambicana é a falta da prática maiêutica da política libertadora feita de questionamento e cepticismo. Tudo porque a Educação continua, todos os anos, a produzir robôs programados para sorrirem, subscreverem ideias alienantes habilmente concebidas e ignorarem os problemas reais e concretos que afligem os moçambicanos que vivem à intempérie.
Nos últimos dias, o país voltou a brindar-nos com mais uma das suas habituais mediocridades, onde teve como protagonista nada mais, nada menos do que a nossa famigerada Polícia e as suas rotineiras práticas despojadas de consciência. A título de exemplo, o Governo de Nyusi deportou do nosso país uma cidadã de nacionalidade espanhola por apenas ter participado de uma reunião pública na qual reivindicava, na companhia de outras cidadãs, o fim da violência contra a rapariga nas escolas e não contestava, como se quer fazer crer, o comprimento das saias das alunas. Outra situação lamentável foi a invasão perpetrada pela Polícia à residência do líder da Renamo e à sede nacional daquela formação política, sem nenhum mandado, violando, assim, o Estado de Direito.
Diante de situações como essas que deveriam chocar todos moçambicanos em pleno gozo do seu juizo e levar milhares de pessoas a protestarem pelas ruas do país, vemos uma sociedade serena e assombiando para os lados como se o problema não lhes dissesse respeito. O mais impressionante nessa história toda é o facto de os jovens desconhecerem que o Direito à manifestação está consagrado na Constituição da República e nem percebem que o Estado, que nunca foi verdadeiramente democrático, está a passar de policiado a militarizado.
Portanto, com direito à holofotes, os moçambicanos, os ditos doutores, inconscientemente continuam a gabar-se da sua inércia intelectual, e a crescer à margem da política libertadora. Aliás, essa apatia tem outra justificação, ou seja, como dissemos, representa uma lacuna na formação académica e, infelizmente, é uma situação absolutamente irreparável.
Editorial, A Verdade

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