Mário Raffaeli, um dos principais mediadores do Acordo Geral de Paz de 1992, pela Comunidade de Sant´Egídio, está em Moçambique para tentar convencer as partes em desacordo a ultrapassarem as suas diferenças e devolverem a paz e estabilidade ao país. Na quarta-feira (16), enquanto Mário reunia com o Presidente Filipe Nyusi, na Assembleia da República (AR) a Renamo fincava pé defendo a sua pretensão de governar as seis províncias onde alega ter ganho nas últimas eleições gerais. A um canal internacional, Afonso Dhlakama disse que o diálogo político ora encalhado não é dificuldade. "O problema é sabermos o que dialogar, o que falar e saber como chegar a um compromisso", numa altura em que "tudo o que negociámos a Frelimo pôs no lixo".
Afonso Dhlakama afirmou, à DW África, que a primeira coisa que pode fazer com o Filipe Nyusi "é exigir, de facto, a implementação do Acordo Geral de Paz e os outros acordos, que assinou com o antigo estadista moçambicano Armando Guebuza, em 2014, depois de um longo período de braço-de-ferro.
Segundo ele, tais assentimentos "até agora estão pendentes. Muitos dirigentes europeus pensam que se Dhlakama e Nyusi se encontrarem é uma solução. Mas não é. A solução passa pela aceitação, por parte da Frelimo, da democracia efetiva pluralista, para que existam eleições livres e transparentes, Direitos Humanos, justiça e a separação das instituições do Estado porque elas não podem receber ordens do partido Frelimo e atacar a oposição.Manuel Mazuze, conselheiro de Filipe Nyusi para os assuntos diplomáticos, disse a jornalistas que Mário Raffaeli está em Moçambique como amigo do povo e que ajudou, no passado, a pacificar o país".
O Governo pretende que a Renamo abandone a ideia de quer administrar as províncias onde julga ter ganho o escrutínio de 15 de Outubro de 2014 e aceite retomar as conversações com vista ao fim da tensão política, que voltou a ter como palco o centro de Moçambique. Porém, o partido liderado por Afonso Dhlakama mostrou no Parlamento sinais de que não está disposta a ceder.
José Manteigas, deputado da "Perdiz", afinou a voz e deixou soar bem alto, a partir da Casa do Povo, que "estamos em pleno mês de Março. Para um moçambicano atento, acreditamos que está na expectativa para assistir e testemunhar a governação da Renamo. É isso mesmo, vem aí a governação da Renamo. Não há e nem deve haver dúvidas, a Renamo vai dirigir as províncias onde ganhou (...), nomeadamente Niassa, Nampula, Zambézia, Tete, Manica e Sofala, em respeito às populações" que votaram em neste partido e à "liberdade e garantias de participação política".
"Queremos esclarecer aos radicais da Frelimo que a Renamo não tem nenhum plano de dividir o país, mas, sim, cumprir e respeitar a vontade popular expressa nas urnas a 15 de Outubro de 2014", disse Manteiga, frisando o que Dhlakama já tinha dito a DW África.
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM), através do deputado Ricardo Tomás, acusou o Governo de não levar a peito a penúria dos moçambicanos refugiados no Malawi devido à tensão político-militar em Tete, onde uma equipa constituída pelo Executivo não constatou os desmandos supostamente perpetrados pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS), incluindo violações sexuais. Todavia, a população refugiada naquele país assegura que foi vítima de tais actos, que para o Governo foram promovidos pela Renamo.
O partido liderado por Daviz Simango focou o seu discurso em torno das declarações do governador de Tete, Paulo Awade, segundos as quais não há refugiados moçambicanos no Malawi. Os compatriotas entraram naquele território por conta de seca e à procura de fertilizantes.
"Eles não foram à procura de fertilizantes nem em visita de compadres como alguns governantes pretendem fazer entender", e tão-pouco são "turistas. Em nenhuma parte do mundo um turista abandona a sua casa para viver em condições de indigência extrema, em palhotas e desprovido de comida. Nenhum turista de sai casa para viver de donativos (...)".
Para o MDM, as declarações de Paulo Awade constituem um grande insulto às vítimas da tensão política concentradas no centro de acolhimento de Kapise, no Malawi. "O Presidente da República devia demitir Paulo Awade, a fim de se distanciar de um governador incompetente, incapaz, inapto, cruel e tirano (...)".
O deputado da Frelimo e presidente da Comissão de Plano e Orçamento na AR, Eneas Comiche, defendeu que "não se pode recorrer à violência armada para fazer ideias e tentar assaltar o poder à força dividindo os moçambicanos".
Em democracia, "o recurso à violência, quer seja verbal quer seja armada, incluindo o ataque a pessoas é repugnante. A Frelimo defende que o diálogo, o debate de ideia e tolerância são pilares da democracia (...)" e são factores fundamentais para se ultrapassar quaisquer diferenças.
Refira-se que, recentemente, Filipe Nyusi endereçou uma carta convite ao líder da Renamo para que retome do diálogo. Afonso Dhlakama aceitou mas condicionou o encontro à presença da mediação do Presidente sul-africano Jacob Zuma, da Igreja Católica e da União Europeia.
Para a Renamo, "Zuma não gostaria que houvesse um conflito em Moçambique (...)" porque "está consciente de que pode afetar economicamente a África do Sul".