Monday 1 September 2014

Ao mandar prender pessoas Victor Igreja diz que Armando Guebuza perdeu o debate ideológico


 O académico Victor Igreja, professor de “Estudos de Paz e Conflitos, Justiça em Transição e Antropologia” na Universidade de Queensland na Austrália diz que Armando Guebuza abandona a Presidência da República “para baixo”. Segundo o académico, ao mandar prender as pessoas co...m as quais devia dialogar e ao servir-se da lei para resolver os seus conflitos, Armando Guebuza revela ter perdido o debate ideológico. Em breves declarações ao “Canalmoz”, o académico disse que o erro que a Frelimo cometeu nos últimos 30 anos, cometeu-o durante a governação de Guebuza, quando nega dialogar com Renamo. Victor Igreja considera que não havia necessidade de derramamento de sangue para se alcançar consensos.
“O presidente Guebuza ‘sai para baixo’, porque ele perdeu o debate ideológico”, considerou o académico, e a seguir afirmou: “Um dos fundamentos da democracia é a criação de oportunidades para debate e troca de ideias”. Igreja diz que “o presidente Guebuza perde a batalha das ideias quando começa a prender pessoas”. Foi durante o mandato de Guebuza que foram detidos os membros da Renamo, Jerónimo Malagaueta e António Muchanga. Há também cidadãos que foram intimados por expressar publicamente as suas ideias, como são os casos do professor Castel-Branco, a activista dos Direitos Humanos Alice Mabota e o músico Azagaia. Para o Victor Igreja, “quando um dirigente político começa a olhar para as leis como forma de resolver os seus conflitos, quer dizer que perdeu a capacidade de transmitir uma mensagem que possa ser discutida na sociedade”. Entretanto, explica: “Institucionalmente não podemos dizer que é ele quem manda, mas, porque todos os órgãos de soberania estão sob controlo da Frelimo, há uma tendência de as pessoas dizerem que ele é quem manda”. Victor Igreja acha que “nada pode acontecer sem que ele saiba”, e que o Presidente da República “saiu bastante lesado”.


O erro da Frelimo com Guebuza no poder


Para Victor Igreja, “um dos erros mais graves que a Frelimo cometeu nos últimos 30 anos, comete-o quando o presidente Guebuza está no poder”. O professor aponta o facto de o Presidente da República ter negado “dialogar com a Renamo”, o que “originou uma nova guerra”. “O presidente Guebuza recusou-se muitas vezes encontrar-se com o presidente da Renamo, mesmo sabendo que o presidente e a própria Renamo são um dos pilares da unidade”, disse. O erro, segundo o professor, tem a ver com o facto de o Governo ter aceitado dialogar com a Renamo depois de começar o conflito. O que era desnecessário. O professor defende que, por causa do seu lado “radical”, Guebuza quis acabar com a Renamo de forma rápida, contrariando a ideia da “morte lenta” defendida por Joaquim Chissano. “Os radicais nunca fazem mudanças de forma estratégica. Para fazer mudanças, é preciso reconhecer a existência do seu adversário político”, declara Victor Igreja. Segundo o nosso interlocutor, “os radicais ignoram a existência dos adversários políticos”.


Frelimo dá um valor político à Guerra


Recentemente foi rubricado o memorando de entendimento entre o Governo e a Renamo, colocando fim à guerra que o país viveu nos últimos tempos. Sobre o assunto, o Victor Igreja considera que a Frelimo “deixa um legado de que as verdadeiras transformações que podem ocorrer num país não vêm do debate de ideias, mas da guerra”. As declarações do chefe da delegação do Governo nas negociações, José Pacheco, de reconhecer a justeza das reivindicações da Renamo depois de a guerra começar, indicam que “um dos instrumentos para a mudança no país é por via da violência”. Victor Igreja considera que esta é a mensagem que a Frelimo transmite. “Eles não dizem isso, mas, quando fazemos a leitura dos seus procedimentos, é isso que sobressai. Victor Igreja foi orador no tema “Resources of Violence and War for Political Negociations and Legitimacy in Mozambique” [Recursos de Violência e de Guerra para Negociações Políticas em Moçambique], na II Conferência do Instituto de Estudos Económicos e Sociais (IESE), realizada nos dias 27 e 28 de Agosto em Maputo.



(André Mulungo, Canalmoz)

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