Quando as abordagens apresentadas constantemente fogem do debate profundo e sem pré-condições corre-se o risco de ter assuntos ignorados e outros tratados de maneira superficial. Moçambique é um país que na sua breve história como independente sofreu cargas ideológicas profundas. A emergência da independência aconteceu sob o signo de uma doutrina que proclamava tempos novos e um poder próximo do povo e para servir o povo. Só que ao longo do processo os dirigentes é que se transformaram no tal povo. Aquilo que os moçambicanos esperavam como resultado da independência
que abraçaram com entusiasmo, o progresso e mudanças na qualidade de sua vida foi tudo açambarcado pelos dirigentes. Construiu-se um país a imagem e semelhança dos dirigentes e estes foram aos poucos ganhando qualidades novas. O distanciamento efectivo dos dirigentes em relação àquele povo que diziam defender tornou-se uma realidade.
Os governantes passaram a usar das suas prerrogativas para impor uma lei que não admitia qualquer tipo de questionamento sobre procedimentos e políticas seguidas ou implementadas.
O conhecimento dos assuntos públicos virou a segredo do Estado e qualquer tentativa de abordar frontalmente as causas dos insucessos em trazer substância para a vida das pessoas era rotulada rapidamente de acção do inimigo e contra a revolução popular.
Esta maneira de agir encontrou terreno fértil e enraizou- se na mentalidade dos cidadãos.
Os comportamentos que se verificam nos dias de hoje, a recusa que certos cidadãos manifestam de falar claramente sobre assuntos sensíveis ou assim catalogados é uma herança do nosso passado recente.
Tenta-se dar uma aparência de verdade e usa-se o discurso de tal maneira que se faça passar uma mensagem de verdade mas nada é como tal.
O sistema montado não deixa passar o que potencialmente possa prejudicar os detentores do poder.
Uma análise dos serviços noticiosos na imprensa moçambicana é capaz de fornecer esclarecimentos sobre a natureza e qualidade dos materiais transmitidos. Mesmo os que se dizem independentes não conseguem disfarçar que falam com dificuldade e que fazem ginástica com as palavras torcendo-as
de tal modo que fique a impressão que falam com verticalidade e independência. Enquanto algo não for sancionado pelas chefias é tabu.
Não é por acaso que os feitos dos opositores não são apresentados com clareza e destaque. Mas qualquer inauguração de um poço ou furo de água ou de emissor da TVM, merece destaque sobretudo quando alguém da nomenclatura dirige as cerimónias. As boleias que os órgãos de comunicação social dão ao regime são serviços prestados pagos com mordomias e mesmo cargos de adidos de imprensa e de embaixadores aos que se distinguem na missão. Alguns cargos de PCA em órgãos de comunicação social pública revelam o carácter de claro pagamento de trabalho bem feito.
Quem se distinguiu na campanha eleitoral que deu lugar ao actual governo saiu recompensado de algum modo. O serviço feito para que a elite governante apareça limpa e brilhante paga-se debaixo da mesa. Na falta de uma liderança visionária, estrategicamente situada no contexto nacional e com alternativas para liderar a mudança no país, vai-se vivendo das glórias do passado e de discursos furados que nem peneira de pedra grossa.
O desenvolvimento real não surge nem se vê nada feito no sentido de permitir que a iniciativa dos cidadãos se manifeste. A iniciativa está tomada pelos mesmos empreendedores e empresários das costas quentes. O nome familiar, o apelido, abrem portas e permitem a concretização dos grandes negócios. Quem não pertence ao círculo estreito das relações preferenciais está votado a marginalidade.
Assim se fazem as coisas no país do diálogo adiado.
Quando não existe coragem de falar sem receios dos constrangimentos activos que determinados comportamentos e procedimentos constituem para com a agenda de desenvolvimento do país fica claro que os protagonistas preferem algo que não tem o nome de desenvolvimento. O surgimento de situações de enriquecimento ilícito e de construção de impérios empresariais a custa do tráfico de influências é sintomático.
Não é por acaso que não se questionam certos procedimentos na esfera governamental. O silêncio que comanda a acção de certos órgãos de informação é uma auto-censura estratégica executada no cumprimento rigoroso de acordos de cavalheiros.
Berlusconne, primeiro-ministro italiano, também mantém rédeas curtas no seu império de comunicação social.
É preciso não ter ilusões quanto ao alcance de certas políticas ou ausência
das mesmas.
A quantidade de bajuladores e assessores de ocasião que rodeiam as lideranças em Moçambique, tanto no partido no poder como na oposição mostram a verdadeira força dos lobbies. Menosprezar esta corrente de opinião e por vezes fazedora de opiniões é contraproducente e pode se revelar fatal.
O que motiva certas pessoas a agirem no nosso panorama político é mais a barriga do que a cabeça. As pessoas não estão preocupadas com estratégias nem com a ideologia. Para elas não se coloca a questão de um partido seguir uma ou outra ideologia. Tudo se resume a fazer a ginástica necessária para encaixar- se no partido vencedor e com isso ganhar a possibilidade de ter mais algum rendimento ou vantagem.
É assim que sabendo disso os poderosos das máquinas partidárias procedem
de modo a satisfazer a sua fauna acompanhante com as migalhas que sobram
do banquete.
Os cargos distribuídos, as viaturas alienadas, as promoções no Aparelho do Estado, na empresa pública, as viagens e bolsas de estudo, tudo isso aparece como consequência de destaque na célula do partido e na campanha. Quem não evidenciou ou quem não participou na campanha é capaz de estar condenado a uma transferência ou despromoção.
A democracia moçambicana é conduzida desta maneira e todos sabemos que sim. Se não aparece escrito ou se as pessoas evitam falar disso é porque tudo se inscreve naquela tradição dos tempos revolucionários em que criticar era perigoso.
O regime político moçambicano está fundado na infalibilidade do chefe e na sua omnipotência. São os pequenos deuses. É só reparar como agem os partidos, oposição ou não.
(Noé Nhamtumbo, em O Autarca de 03/12/08)
NOTA: Este extraordinario trabalho descreve com rigor o actual panorama e merece ser meditado profundamente.
que abraçaram com entusiasmo, o progresso e mudanças na qualidade de sua vida foi tudo açambarcado pelos dirigentes. Construiu-se um país a imagem e semelhança dos dirigentes e estes foram aos poucos ganhando qualidades novas. O distanciamento efectivo dos dirigentes em relação àquele povo que diziam defender tornou-se uma realidade.
Os governantes passaram a usar das suas prerrogativas para impor uma lei que não admitia qualquer tipo de questionamento sobre procedimentos e políticas seguidas ou implementadas.
O conhecimento dos assuntos públicos virou a segredo do Estado e qualquer tentativa de abordar frontalmente as causas dos insucessos em trazer substância para a vida das pessoas era rotulada rapidamente de acção do inimigo e contra a revolução popular.
Esta maneira de agir encontrou terreno fértil e enraizou- se na mentalidade dos cidadãos.
Os comportamentos que se verificam nos dias de hoje, a recusa que certos cidadãos manifestam de falar claramente sobre assuntos sensíveis ou assim catalogados é uma herança do nosso passado recente.
Tenta-se dar uma aparência de verdade e usa-se o discurso de tal maneira que se faça passar uma mensagem de verdade mas nada é como tal.
O sistema montado não deixa passar o que potencialmente possa prejudicar os detentores do poder.
Uma análise dos serviços noticiosos na imprensa moçambicana é capaz de fornecer esclarecimentos sobre a natureza e qualidade dos materiais transmitidos. Mesmo os que se dizem independentes não conseguem disfarçar que falam com dificuldade e que fazem ginástica com as palavras torcendo-as
de tal modo que fique a impressão que falam com verticalidade e independência. Enquanto algo não for sancionado pelas chefias é tabu.
Não é por acaso que os feitos dos opositores não são apresentados com clareza e destaque. Mas qualquer inauguração de um poço ou furo de água ou de emissor da TVM, merece destaque sobretudo quando alguém da nomenclatura dirige as cerimónias. As boleias que os órgãos de comunicação social dão ao regime são serviços prestados pagos com mordomias e mesmo cargos de adidos de imprensa e de embaixadores aos que se distinguem na missão. Alguns cargos de PCA em órgãos de comunicação social pública revelam o carácter de claro pagamento de trabalho bem feito.
Quem se distinguiu na campanha eleitoral que deu lugar ao actual governo saiu recompensado de algum modo. O serviço feito para que a elite governante apareça limpa e brilhante paga-se debaixo da mesa. Na falta de uma liderança visionária, estrategicamente situada no contexto nacional e com alternativas para liderar a mudança no país, vai-se vivendo das glórias do passado e de discursos furados que nem peneira de pedra grossa.
O desenvolvimento real não surge nem se vê nada feito no sentido de permitir que a iniciativa dos cidadãos se manifeste. A iniciativa está tomada pelos mesmos empreendedores e empresários das costas quentes. O nome familiar, o apelido, abrem portas e permitem a concretização dos grandes negócios. Quem não pertence ao círculo estreito das relações preferenciais está votado a marginalidade.
Assim se fazem as coisas no país do diálogo adiado.
Quando não existe coragem de falar sem receios dos constrangimentos activos que determinados comportamentos e procedimentos constituem para com a agenda de desenvolvimento do país fica claro que os protagonistas preferem algo que não tem o nome de desenvolvimento. O surgimento de situações de enriquecimento ilícito e de construção de impérios empresariais a custa do tráfico de influências é sintomático.
Não é por acaso que não se questionam certos procedimentos na esfera governamental. O silêncio que comanda a acção de certos órgãos de informação é uma auto-censura estratégica executada no cumprimento rigoroso de acordos de cavalheiros.
Berlusconne, primeiro-ministro italiano, também mantém rédeas curtas no seu império de comunicação social.
É preciso não ter ilusões quanto ao alcance de certas políticas ou ausência
das mesmas.
A quantidade de bajuladores e assessores de ocasião que rodeiam as lideranças em Moçambique, tanto no partido no poder como na oposição mostram a verdadeira força dos lobbies. Menosprezar esta corrente de opinião e por vezes fazedora de opiniões é contraproducente e pode se revelar fatal.
O que motiva certas pessoas a agirem no nosso panorama político é mais a barriga do que a cabeça. As pessoas não estão preocupadas com estratégias nem com a ideologia. Para elas não se coloca a questão de um partido seguir uma ou outra ideologia. Tudo se resume a fazer a ginástica necessária para encaixar- se no partido vencedor e com isso ganhar a possibilidade de ter mais algum rendimento ou vantagem.
É assim que sabendo disso os poderosos das máquinas partidárias procedem
de modo a satisfazer a sua fauna acompanhante com as migalhas que sobram
do banquete.
Os cargos distribuídos, as viaturas alienadas, as promoções no Aparelho do Estado, na empresa pública, as viagens e bolsas de estudo, tudo isso aparece como consequência de destaque na célula do partido e na campanha. Quem não evidenciou ou quem não participou na campanha é capaz de estar condenado a uma transferência ou despromoção.
A democracia moçambicana é conduzida desta maneira e todos sabemos que sim. Se não aparece escrito ou se as pessoas evitam falar disso é porque tudo se inscreve naquela tradição dos tempos revolucionários em que criticar era perigoso.
O regime político moçambicano está fundado na infalibilidade do chefe e na sua omnipotência. São os pequenos deuses. É só reparar como agem os partidos, oposição ou não.
(Noé Nhamtumbo, em O Autarca de 03/12/08)
NOTA: Este extraordinario trabalho descreve com rigor o actual panorama e merece ser meditado profundamente.
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